10 agosto 2013

Derrotas preocupantes

É verdade que o Benfica jogou frente a um Nápoles que já gastou pouco mais de 100 M€ em reforços esta temporada. Mas, será que a diferença no marcador se deveu apenas a isso?


Mais uma derrota frente ao Rafa...
Mais uma vez Jesus perde para Benitéz...
É preocupante que o Benfica tenha perdido frente a uma equipa que está a sofrer um processo de renovação, dada a entrada de vários jogadores novos, mas também a outra filosofia de jogo trazida pelo espanhol Rafael Benitéz.

Seria espectável que o Benfica sendo uma equipa que mantém basicamente a mesma estrutura da época passada e que possibilitou-lhe chegar às várias finais das competições que esteve inserida, teria maior vantagem no controlo de jogo. Mas, o que se viu ontem em pleno estádio São Paulo, não foi nada que assim o parecesse.

E, é aqui que mais uma vez Rafael Benitéz acaba por levar de vencida o técnico português Jorge Jesus. De facto, o futebol do espanhol pode não parecer tão espectacular como o futebol de Jesus, mas para sermos honestos na avaliação, também o futebol de Jesus não tem sido nada espectacular quando o adversário tem nome e capacidade. Ontem, vimos todos a dificuldade que o Benfica teve em criar soluções de perigo na baliza adversária. Por oposição, o Nápoles com futebol simples, de transições e variações do centro de jogo rápidas e com um tridente atacante já bem rotinado, foi levando água ao seu moinho e pôs a nu as debilidades que a nossa defesa ainda possui: a forma de jogar da dupla de centrais encarnada. Já agora, de referir que Jorge Jesus teve que abandonar o seu 4-2-3-1 (ou 4-4-2), para um claro 4-3-3 mais conservativo para conseguir ganhar novamente o meio-campo... Não estava à espera disso, e por aqui também se vê quem fez melhor o trabalho de casa!

Questões centrais...
Apesar desta cumplicidade, não acho que
a dupla formada por Luisão e Garay, tenha
a química das grandes duplas de centrais.
O primeiro golo do Nápoles acontece de uma falha clarissima do capitão Luisão (que mais tarde iria redimir-se com o golo do empate). O camisola 4 encarnado, escorrega ou tropeça-se nele próprio, não conseguindo interceptar a bola que ia para o avançado do Nápoles que estava no meio dos dois centrais e que facilmente concluiu.

Depois, o segundo golo do Nápoles, também tem responsabilidades para a dupla de centrais, pois são eles que têm a responsabilidade para criar a linha de fora-de-jogo. Ora, a bola acabada de ser despejada pelo Sílvio que foi interceptada pelo lateral esquerdo Pablo Armero que de primeira coloca a bola perto do segundo poste para Higuaín concluir, jamais deveria ter sido defendida com uma tentativa de colocar os avançados do Nápoles em fora-de-jogo. É uma estratégia muito complicada de ser aplicada nessas condições e com sucesso. Para além disso, criar a linha de fora-de-jogo sem por base as referências adversárias e até dos próprios colegas de equipa é de bradar aos céus!

Por fim, só mencionar as grandes dificuldades que esta dupla brasileira-argentina tem frente a avançados rápidos, móveis e pressionantes, e a questão se será com estes dois que vamos ou não começar o campeonato nacional? É que Garay continua a ser um central muito apetecido lá fora e não vejo os outros a terem tanto tempo de jogo...

Deixar o ataque às individualidades...

Foi quase criminoso o que o Jesus fez nos primeiros
minutos de jogo ao deixar o "Marko" atrás do avançado.
A exibição do sérvio cresceu imenso quando recolocou-o
 a falso extremo esquerdo, trocando com o Gaitán.
Eu até tenho visto evolução de jogo para jogo do Benfica nesta pré-época. Contudo, continuo a não ver um crescimento acentuado nas zonas onde é mais necessário esse crescimento: no ataque. Enquanto a equipa do Nápoles sabe muito bem o estilo e forma como deve atacar, com processos simples e rápidos no trio da frente, já o Benfica reina uma anarquia por demais evidente quanto a estilo e quanto às movimentações que os jogadores devem fazer. Isto reflecte falta de qualidade no treino ofensivo. Aliás, isso deveria ser um alerta para todos aqueles que pensam que o ataque também não se planeia ou ensina, e que devem ser entregues pura e simplesmente à inspiração dos artistas. Nada de mais errado!

Com isto, também não estou a querer dizer que o ataque deve ser só planeado e feito segundo movimentos tipo. Não é nada disso! O que defendo é que haja algum treino com o intuito de incutir as bases de movimentações e atribuir tarefas a cada unidade atacante. Depois com isso definido, os atletas poderão explanar melhor a sua criatividade, até porque já possuem referências. É por esse motivo, que o Benfica joga melhor quando tem um jogador como o Cardozo lá na frente. Ele serve como referências e o pouco que ele faz, faz com que os restantes colegas joguem em função disso mesmo. Ora, jogando com um jogador mais completo como o Lima ou até o Rodrigo, quem está a jogar para eles, fica sempre na dúvida se o avançado vai querer fazer um apoio, ou se vai fazer uma desmarcação. Quantas e quantas vezes vimos neste defeso isso acontecer com o Lima e Rodrigo lá na frente?
 
Depois, se a ideia de Jesus era colocar o Markovic a "10" ou a "9.5", como ele gosta de dizer, então deveria ter ensinado e explicado quais eram as funções do sérvio naquela zona do terreno. Aposto que não se trabalhou bem nos treinos, tal o desnorte do jovem naquela zona do terreno. Tanto era o impasse, que teve que reposicioná-lo na posição de extremo esquerdo, trocando com o argentino Gaitán. E, já agora, porque é que não testou o Sulejmani naquela zona do terreno? É que o sérvio perdeu muitas e muitas vezes para o Zuniga, que é um lateral de pé direito, o que facilitava a defender as zonas interiores, impedindo esse tipo de movimentações ao sérvio canhoto, mas também é um lateral muito rápido, o que superiorizava quando o sérvio tentava jogar mais sobre a linha. É que se calhar com Gaitán nesse flanco as coisas teriam sido diferentes, para além de podermos ver o Sulejmani numa das posições que ele mais gosta de jogar, atrás do avançado.

Questões preocupantes...
Preocupa-me imenso como podemos estar a
apostar num Ola John com tantos outros
extremos de qualidade nos quadros do Benfica.
A utilização de "Marko" como segundo-avançado ou médio-ofensivo centro, em detrimento do também sérvio Djuricic na equipa titular, faz-me interrogar no porquê dessa decisão. Então ontem sendo o último jogo antes do começo do campeonato, não seria imperial dar ritmo de jogo ao camisola 10 do Benfica? Viu-se o quanto a equipa ganhou com ele em campo nos últimos 10 minutos de jogo... foram somente as melhores oportunidades em jogo jogado que o Benfica dispôs em todo o encontro!

A (in)decisão de Ola John é por demais evidente, por mais que hajam defensores deste jogador. É verdade que foi dos pés dele que saiu o passe para o remate ao poste de Djuricic, mas naquela situação, teria sido a decisão de qualquer outro extremo. Onde se vê bem a falta de qualidade do Ola John para jogar no Benfica, aliás, para jogar a este nível de intensidade, é o que ele fez no último lance do encontro. Simplesmente não consegue mais (ou porque não sabe, ou porque não tem capacidade física, ou porque não tem confiança, ou porque o raio-que-o-parta)! Foram várias as situações em que teve possibilidade de fazer a diferença no um-contra-um, ou até num passe a desmarcar o colega, mas que não o fez. E depois perder a bola daquela maneira... é que nem saber proteger e controlar o esférico faz bem. Nem inteligência para arrancar uma falta naquela zona do terreno ele teve... e são estes os grandes pormenores que fazem um jogador talentoso ser uma eterna esperança ou um profissional de topo.

Uma última nota...
Para a festa espectacular no estádio São Paulo em Nápoles. Assim é que se apresenta uma equipa. Com fogo de artificio e criação de um ambiente de competições europeias. Olhando para a nossa apresentação, fico com a clara ideia que foi "low-cost". Será que os bilhetes na Luz foram mais baratos que em Nápoles? Não sei...

Mais um ambiente espectacular no estádio São Paulo em Nápoles.

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