16 fevereiro 2019

Resultado histórico e...


... faz o Benfica namorar a Europa.

Convenhamos, o resultado foi melhor do que a exibição! Mas, convenhamos ainda mais que o resultado foi concretizado num país onde jamais o Benfica tinha vencido (Turquia), frente ao gigante desse país (Galatasaray) e que costuma jogar na Champions todas as épocas. Convenhamos ainda mais, que o Gala está recheado de jogadores consagrados, a começar desde logo com o guarda-redes que é o titular da selecção uruguaia, o Muslera e a terminar com o poderoso avançado senegalês Diagne, passando por um médio já conhecido do futebol português, o Fernando. Convenhamos também que, a equipa encarnada estava cheia de ausências por lesão e por opção técnica de habituais titulares, como por exemplo, André Almeida, Jardel, Grimaldo, Fejsa, Samaris, Gabriel, Pizzi, Rafa e Jonas. Convenhamos igualmente que o onze titular apresentado em Istambul estava repleto de miudagem (Rúben Dias, Ferro, Yuri Ribeiro, Florentino, Gedson e João Félix, para não contar com o Cervi e Odysseas, que também são dois miúdos). Em suma, convenhamos que dado o contexto, não era muito espectável uma vitória dos encarnados em terras turcas. Mas, a verdade é que os comandados do Bruno Lage conseguiram concretizar com a missão: a vitória.


Para muitos fazedores de opiniões, o Bruno terá brincado e pura e simplesmente desprezado a Liga Europa ao colocar aquele onze em campo. Na minha opinião, não! O que o Lage tomou foi uma decisão devidamente ponderada. Em vez de esticar a corda, usando (e provavelmente abusando no uso) de Grimaldo, Pizzi e outros no onze titular, fez-los descansar esta semana, para poder ganhar jogadores para o resto da temporada. Reparem no que tem vindo a suceder com a equipa do Porto e como o Sérgio Conceição não tem sido inteligente na gestão do grupo de trabalho. Assim de repente, já perdeu 3 titulares (Marega, Corona e Brahimi). Depois de um mês, depois de pegar no grupo, definir um sistema e modelo de jogo, estabilizar um núcleo duro, o Lage entra agora na fase de adicionar mais alternativas. E, tudo isto foi planeado tendo em conta a calendarização. A Liga Europa não é menos importante que a Taça de Portugal e a 1ª Liga. Contudo, as duas primeiras são disputadas em eliminatórias a duas mãos, o que permite uma flexibilidade em termos de gestão do grupo e até mesmo de gestão do resultado. Por exemplo, se tivermos que perder ou empatar, que seja nesses jogos a eliminar, porque há sempre um jogo da 2ª mão que nos permite superar. O bom disso, é que são nesses jogos que podemos rodar mais a equipa, testar novas soluções e novos rostos.



Mas, lá está. Senão houver qualidade de treino, essas segundas escolhas nunca estarão bem identificados com as ideias de jogo e dessa forma nunca produzirão bons resultados. O que vimos na 5ª feira não foi nada disso. Vimos um Benfica com menos posse de bola é verdade. Mas, também porque esteve quase sempre em vantagem no marcador e a jogar na casa do adversário. De qualquer maneira, os processos e ideias de jogo do Lage para este Benfica estavam lá todos. É óbvio que a execução dos intérpretes foi diferente dos habituais titulares. Mas, isso era mais do espectável! Há quantos jogos o Corchia não jogava (falta de ritmo de jogo)? Quantas vezes o Yuri jogou de águia ao peito e ainda por cima num inferno turco (experiência competitiva)? Porque razão o Cervi tem de individualizar tanto as jogadas, quase que a tentar mostrar jogo (conquistar o lugar de titular)? Isto são só alguns dos exemplos, do porquê de ser normal uma quebra exibicional. Mas, quando há qualidade no treino, mesmo um onze constituído por jogadores assim, consegue um resultado satisfatório/bom. Porque as ideias de jogo devidamente bem operacionalizadas fazem com que o nível da equipa se mantenha elevado e esse, por si só, já faz com que entremos sempre em campo com vantagem. E, atenção que Corchia, Yuri, Cervi, Florentino, Gedson e outros não entram assim em campo com aquela personalidade toda com apenas 3 ou 5 treinos de preparação que o Benfica teve após o Nacional. Isto é um processo de treino que já vem desde que o Lage entrou na equipa principal encarnada. Enquanto os jogadores titulares faziam treino de recuperação, muito provavelmente a equipa técnica estava a desenvolver as ideias de jogo com os não titulares. E, isto requer muita criatividade e muito trabalho que não raras vezes é desprezado por quem vê e ouve futebol.



O que é certo é que mais do que a vitória e a vantagem nesta eliminatória da Liga Europa, o Benfica conseguiu encontrar mais 6 jogadores para o que falta desta temporada. O Corchia vê-se claramente que tem escola. É um jogador feito e que só precisa de uma oportunidade para mostrar o que vale para dar o seu contributo. Sendo emprestado, não sei se terá tantas chances assim... O Yuri Ribeiro acusa alguma (muita) ansiedade. Tem de ser mais rigoroso ao nível da qualidade do passe. Por vezes, o passe é feito de forma muito displicente. Quanto a mim, falta-lhe acima de tudo jogos nas pernas. O Florentino não engana. Para mim, só não ganha já ao Samaris, mas o Fejsa quando regressar vai ter que treinar no máximo. Gostava de o ver jogar 90 minutos com o Gabriel ao lado. E, depois, outros 90 minutos, com o Samaris ao lado. Quanto ao Gedson, gostei do que vi. Há ainda muitos erros, jogando a médio-centro, fruto da sua imaturidade. Mas, jogando mais na ala, os erros são dissipados. Opção para a posição do Pizzi? E, porque não também para o André Almeida? Dessa forma permitiria jogar com regularidade, mesmo não sendo um titular indiscutível. Um outro que poderá jogar nessa posição é o Krovinovic, que de forma mas tímida tem tentado encontrar o seu lugar nesta equipa. Quanto ao Salvio, para mim, tem de ser opção para o ataque e não para o meio-campo. Perdemos muita bola com ele na faixa intermediária. Tendo golo e gostando de jogar nas costas da defesa adversária, porque não fazer esta mudança? Quanto ao Cervi, é outro que parece que joga com um ataque de ansiedade. É o jogador que mais trabalho deve desenvolver em termos tácticos no meio-campo ofensivo do Benfica, neste momento. Não vejo com maus olhos um recuo no terreno para lateral esquerdo se for necessário. E, depois, ainda sobra Jota e Zivkovic para integrar nesta equipa. Opções não nos faltam. Talvez poderá sim faltar oportunidades para uns quantos.






P.S.: Fica aqui a dedicatória de São Valentim dos adeptos encarnados ao Glorioso Benfica...


4 comentários:

  1. António Madeira16/02/19, 19:28

    Excelente resumo deste resultado histórico.
    E não me refiro tanto ao resultado na Turquia, mas pelas sementes que aqui foram lançadas para um futuro europeu que todos queremos que seja risonho.

    Já terás visto, mas deixo aqui um vídeo muito interessante sobre a prestação do Florentino.
    https://www.lateralesquerdo.com/2019/02/15/organizacao-e-muito-tino/

    A inteligência, a coragem e a cultura tática que este miúdo demonstra são qualquer coisa de extraordinário.

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    1. Excelente partilha António. Ainda não tinha visto o vídeo do Pedro Bouças. Está muito bom.

      E, por falar um pouco nele, achei curioso o pormenor que referiu ao erro na saída de pressão do Gedson sobre o Fernando. Nota-se que o princípio da pressão está lá, mas nota-se também que o jogador ainda não entendeu o momento quando deve deixar de pressionar. Faz aquilo por processo, mas tem de o fazer com conhecimento. Essa é a grande dificuldade com os miúdos. É que normalmente, esse conhecimento ou é quase intrínseco (a questão posicional do Florentino é claramente intrínseco) ou então adquire-se com experiência e muito treino.

      Por fim, o último passe, eu vi aquele lance e fiquei "só te faltou um bocadinho assim". Esse é o lance em que devemos mostrar a quem pensa que o Florentino é um Fejsa. Para mim é muito mais do que um Fejsa. É um "Coluna"!

      Da geração de 1999 tens 3 jogadores que vão ser top mundial: Florentino, João Félix e Jota. 3 jogadores que se soubermos gerir-los podemos ambicionar a uma orelhuda.

      ;D

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  2. Eh pá, isto dantes dava mais pica, agora concordo sempre com os posts lol

    Estava a ver o jogo e a lembrar-me do que tinhas escrito aqui antes, e mencionas outra vez neste post: Bruno Lage só pode ter treinado modelo de jogo também com os suplentes, a par de recuperação e preparação do jogo seguinte com os titulares. Não há mais nada que explique aquela equipa jogar de forma tão organizada e colectiva. E com tanta 'personalidade', transformando o Inferno de Istambul no Alegado Inferno de Istambul. Foi lindo ver os nossos putos todos a enervar o estádio, em vez de serem enervados por ele.

    Claro que houve alguma quebra exibicional, e só um maluco não a anteciparia. E tivemos menos posse de bola, sim senhor, como também seria de esperar - mesmo com a mesma organização, uma coisa é ter Gabriel, Pizzi e Rafa, outra bem diferente é ter Gedson, Salvio e Cervi...mas se queres que te diga, a menor posse de bola acho que também foi estratégico da nossa parte. Mantivemos a nossa organização e os princípios de jogo da equipa, mas inserimos aí uma estratégia de bloco médio-baixo, concessão da iniciativa ao adversário e privilegiar a transição ofensiva e um jogo em geral mais directo e mais exterior (Salvio e Cervi nas alas quase obriga a jogar assim...). O que mais uma vez, foi muito bem pensado por parte de Bruno Lage: ele já arriscou muitíssimo com aquele onze em casa do Galatasaray - e muito bem, pelo bem maior da gestão do plantel e prevenção de lesões; se ainda jogasse com uma estratégia muito ofensiva, podia comprometer o objectivo principal - o resultado.

    Como sempre, Bruno Lage conseguiu tudo ao mesmo tempo: assegurou não um resultado positivo como empate com golos ou derrota por 2-1, mas uma vitória, com seis suplentes e seis putos da formação no onze; fez descansar titulares sobrecarregados (prevenção de lesões); preparou e motivou as segundas linhas do plantel, que podem se tornar primeiras linhas ainda esta época. Convenhamos que é dose. Florentino é Shéu reencarnado no onze encarnado! Que monstro do meio-campo temos ali - põe-te a pau, Samaris! Lesionas-te e já foste :-P

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    1. Florentino para mim é mais Sr. Coluna do que Sr. Shéu. E, já agora, toca a ter respeitinho aos Senhores é minino BP.

      Não é apenas Samaris a ter que se por a pau. Já olhaste bem para o Krovinovic? É que começa a ficar sem posições para jogar...

      ;D

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