17 dezembro 2017

O dilema da...


... por Luisão e Jardel.

A crítica
O antigo capitão do Benfica, António Veloso, fez a seguinte crítica à defesa do Benfica:


Reparem bem no que o Veloso diz sobre qual o comportamento que a defesa deveria ter, isto é, os jogadores vão à toa e ficam logo todos batidos. E, vai mais longe, diz que os defesas não devem tomar a iniciativa porque os adversários fazem uma simulação e depois ficas logo batido.


O lance
Agora vejam bem aqui o lance, cuja análise do Veloso se estava a referir, desde a "perda" de bola do Pizzi até ao golo do Rúben Ribeiro, que na altura deu o 2-1 para o Rio Ave:



Repararam no comportamento da linha defensiva após a perda de bola? Eles não fizeram exactamente o que o Veloso estava a dizer para fazerem? Ou seja, a contenção? Não atacarem o adversário sem nexo? Então o porquê da crítica?


A análise
O antigo capitão encarnado até tem razão quando diz que defendemos mal. Contudo, o motivo não é aquele que ele mencionou. Aliás, muito pelo contrário, pois o que a nossa linha defensiva faz mais é contenção, sobretudo por intermédio dos nossos dois centrais habitualmente titulares: o Luisão e o Jardel.

Reparem no lance acima. Em primeiro lugar, reparem no posicionamento da nossa linha defensiva, aquando da pressão do Krovinovic sobre o portador da bola do Rio Ave. Façam pausa no vídeo acima nesse momento. Atentem ao posicionamento de aproximação do Fejsa e do Pizzi à zona da bola. Agora vejam quantas marcas de relvado separam do Fejsa à nossa linha defensiva. São duas marcas, ou seja, 10 metros. Parece pouco não é? Então olhem bem para o posicionamento dos corpos dos nossos jogadores da linha defensiva e dos do meio-campo. Conseguem ver as diferenças? A diferença é que enquanto o nosso meio-campo está virado para uma pressão sobre o adversário, logo virado para a baliza do Rio Ave, os nossos jogadores da linha defensiva estão já virados para a nossa baliza.
1ª Pergunta ao quarteto defensivo: Onde está a cobertura defensiva ao Fejsa?
Pois é Grimaldo, Jardel, Luisão e Almeida... Dois de vocês estavam a ir no engodo de dois dos avançados do Rio Ave, escoltando-os até à linha de fundo se eles fossem até lá, não era Grimaldo e Jardel? Mas, para quê?! Então não podiam ter mantido a posição mais acima - quando o Fejsa subiu - e dessa forma colocariam esses dois avançados do Rio Ave em fora-de-jogo?! E quanto aos outros dois, estavam a dormir no pedaço não é Luisão e André Almeida?! Já agora, Almeidinhos, com que então o menino Rúben Ribeiro é para ficar a mais de 5 metros de distância de ti, prontinho para apanhar um passe do colega e ficar virado para o jogo? Aliás, nem te vejo neste frame. E, quanto a ti "girafa", ancoraste completamente a linha defensiva a 3/4 como manda os livros de receitas... e que tal sentir o jogo, como fizeste noutro dia frente ao Estoril? Aqui a referência não pode ser o adversário directo do sector (o avançado do Rio Ave). Tem de ser a bola, o local onde ela está e o espaço entre a linha defensiva e o colega que está a fazer pressão, porque esse vai precisar de cobertura. Já agora, se puderes ver Luisão, faz uma pausa no momento em que o Pizzi e o jogador do Rio Ave estão a lutar pela posse de bola e vê as distâncias aos respectivos meio-campos da linha defensiva do Rio Ave e do Benfica. Ficarás surpreendido como eles estão muito mais próximos do seu meio-campo e como eles têm neste momento o Jonas e o Cervi fora do jogo.
2ª Pergunta ao quarteto defensivo: Não conhecem o vosso adversário?
Recuso-me a acreditar que o Vitória não tenha informado-vos sobre o adversário de quarta-feira. Nem tão pouco acredito que já não os conheciam do jogo do campeonato. Portanto, sabendo que tanto o Rúben Ribeiro como o Guedes têm tendência para descer entre-linhas, porque carga de água estavam sempre preocupados com o espaço nas costas da defesa, para terem que jogar tão atrás? Ainda por cima com um guarda-redes como o Varela que até é rápido a sair entre os postes.
3ª Pergunta ao quarteto defensivo: Porque correm mais rápido que os avançados para dentro da nossa grande área?
Contenção não é correr mais rápido que o adversário para dentro da nossa grande área. A arma defensiva que se dá pelo nome de contenção, é um comportamento defensivo que se deve ter para poder possibilitar à equipa que defende três coisas: concentração (porque os jogadores quando atacam tentam espalhar-se o mais largo possível, o chamado campo grande, logo quando entram em processo defensivo têm de recuperar posições mais próximas uns dos outros para evitar que o adversário explore esses espaços), equilíbrio (para que o número de jogadores da nossa equipa aumente na zona defensiva, para retirar linhas de passe, jogadores livres adversários e espaços vazios), cobertura defensiva (para poder fazer um 2-1 defensivo sobre o portador da bola) e ganhar tempo (atrasando o ataque e permitindo com esse atraso que o reforço defensivo chegue). A contenção é aquilo que o Veloso se estava a tentar referir. No entanto, é preciso saber o momento de quando usá-la e mais do que isso, saber usá-la mesmo. Como vemos pela partida célere da linha defensiva do Benfica para a defesa (façam agora pausa no momento em que o médio do Rio Ave conduz a transição rápida), a nossa linha defensiva nunca atrasou a linha ofensiva do Rio Ave, pois recuaram rapidamente, quando deveriam tê-lo feito com mais inteligência de jogo. Por exemplo, era possível converter o 4 para 4 resultante desta transição rápida do Rio Ave, num 3 para 4 deles. Como? Bastava que o Luisão não começasse logo a correr para trás. Dessa forma, o Grimaldo poderia colocar logo de início o seu adversário directo em fora-de-jogo, criando assim algum confusão para o portador da bola, que teria de processar melhor as opções. Esse atraso no recuo, poderia fazer com que logo à partida o André Almeida ficasse logo mais próximo do Rúben Ribeiro, ou até meter este em fora-de-jogo. E, este, não sendo um portento de velocidade, dificilmente iria tentar ganhar as costas ao Almeida, facilitando o trabalho deste se lhe endereçassem um passe. Não acontecendo isso, reparem em que condições o passe foi feito para o Rúben Ribeiro. Muito fácil.
4ª Pergunta ao quarteto defensivo: Onde está o foco e a inteligência de jogo para entender o que o adversário vai fazer?
Irritou-me o momento em que o Rúben parte para atacar o corredor central. O Luisão, mais uma vez a dormir. Com o overlap do lateral esquerdo do Rio Ave sobre o Rúben Ribeiro, o André Almeida teve que soltar a sua contenção para ir com o lateral, porque se não iria ganhar a linha de fundo. É aqui que o Luisão já deveria ter lido todo o lance de ataque do Rio Ave, pelo que deveria ter-se antecipado e adoptado a posição correcta para ser ele agora a fazer a contenção ao Rúben Ribeiro, nesta transferência de contenção/cobertura defensiva entre o Almeida e o capitão encarnado. Esta indecisão foi a morte do artista, pois com o Jardel a marcar e bem o Guedes e o Fejsa a equilibrar o espaço, a verdade é que o Luisão deveria estar mais encostado ao portador da bola. Já agora, para quem critica tanto o Salvio, reparem que foi o único jogador em tarefas defensivas com agressividade suficiente para tentar esboçar um corte sobre o número 10 do Rio Ave. Ele quando fez essa pressão, se o Luisão estivesse mais próximo do Rúben Ribeiro, era o momento ideal para o desarmá-lo. Ou seja, apesar dos erros posicionais que falei acima, a equipa ainda conseguiria recuperar se a defesa realmente fizesse uma boa contenção e não apenas retirar-se para a sua grande área. Sendo assim, uma pergunta se coloca: o que falta à nossa defesa para melhorar?


A solução
A meu ver, tanto o Jardel como o Luisão são actualmente centrais de contenção. Por isso é que ao longo do tempo de jogo eles vão recuando, recuando no campo. Atenção, eles são importantes, mas só o são se tiverem como companheiros jogadores mais agressivos. Se tivermos em atenção as últimas temporadas, verificamos exactamente isso, pois sempre que o Jardel ou o Luisão jogaram acompanhados de jogadores como Lisandro, Lindelöf e até mesmo Samaris, as performances defensivas melhoraram. Por exemplo, em 2015-2016, após a lesão do Luisão em Alvalade, com a entrada de Lisandro para fazer dupla com o Jardel, e depois com a entrada de Lindelöf, melhoram imenso o nosso comportamento defensivo. Por esse motivo, defendo a entrada do onze ou de Lisandro, ou de Rúben Dias, ou de Samaris. Tendo em conta a recuperação a uma operação por parte do miúdo, não penso contar com este nos próximos tempos. Sobra-nos o argentino e o grego. Relativamente, ao camisola 7, provavelmente apostaria nele. Primeiro, porque era uma forma de garantir que o Fejsa teria sempre cobertura defensiva. Depois, porque ganharia outra qualidade na saída de bola. No entanto, também é importante a comunicação entre os centrais, e quer se goste ou não, o Lisandro e o Jardel já têm química entre eles. Acho que a agressividade do camisola 2 encarnado será um complemento muito importante para o controlo de profundidade do Jardel.


Tal como em 2015-2016, o Lisandro pode ter aqui a sua grande oportunidade para agarrar
o lugar no centro da defesa, ainda para mais para jogar do lado que prefere (centro-direito).

10 comentários:

  1. Respostas
    1. Sim. Não olho à nomes. Olho a características de jogadores.

      Eliminar
  2. Também há a questão do costume: 5 para atacar, 5 para defender...a equipa não defende junta nem ataca junta. Do Fejsa para a frente, só o Salvio tenta vir para trás da linha da bola.

    De resto, quanto à 'solução', esquecendo que ela é colectiva e não individual...Rúben ou Samaris sim; mas defender Lisandro como solução para um problema de posicionamento e de decisões defensivas é como defender o Stephen Bannon como solução para a emergência do neonazismo nos EUA...

    Aliás, receio bem que se hoje jogar Jardel e Lisandro, já não faltará nada para termos um Natal mesmo à Sporting...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. BP, é óbvio que é o Salvo é o Fejsa que recuam para recuperar a tempo. A nossa linha defensiva não acompanha o momento de pressão ficando ancorada lá atrás. O Jonas é o Cervi estão a explorar as costas da defesa do adversário, portanto, vêm ainda em recuperação desse movimento, pelo que ficam fora do processo defensivo. Até por isso a linha defensiva deveria ter encostado mais no meio-campo. Depois o Krovinovic e o Pizzi são os que fazem pressão. Logo é normal que apenas o Fejsa e o Salvo conseguem recuperar a tempo. E mesmo assim, foi o que se viu.

      O Lisandro é um jogador agressivo por natureza. Ele gosta de defender mais acima. Isso exige maior concentração e capacidade física à nossa defesa. É normal ele errar. Primeiro, corre mais riscos do que aqueles que ficam atrás. Segundo, por não jogar tantas vezes comete erros por falta de comunicação, entrosamento ou ritmo de jogo. Nada que uma série de jogos não resolva.

      Se acharmos que o Lisandro não dá nem mesmo para um Tondela, então qualquer um de nós pode estar a ocupar o seu lugar... Isso acho que é um pouco forte.

      Eliminar
  3. Ou seja, o benfica não se acautelou bem no inicio da época com o renovar do nosso 11 base... o oduglas nao trouxe a qualidade devida para o lugar do semedo, o luisao ja nao devia de ser titular indiscutivel no nosso plantel, o pizzi este ano está tao em baixo que me surpreende como ainda mal ofi para o banco... somente o jonas e salvio justificam o lugar deles mesmo que tenham concorrencia feroz. o que se passa com o kalaica?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu acho que até se acautelou. O Douglas é um lateral ofensivo. As lacunas que têm defensivas prende-se em estar mais entrosado com os restantes colegas. Só joga uma vez por mês, se tanto.

      O Luisão é opção do treinador. Mas, para mim já tinha investido na utilização do Lisandro, que verdade seja dita, tem tido paciência em ficar no banco à espera da oportunidade. Em 2015-2016, recordo que foi com ele que a nossa defesa começou a ter segurança. Exactamente pelas suas características futebolísticas que complementam com as do Jardel.

      O Kalaica não deve ter tido o mesmo rendimento. Parece-me que também é um central de contenção e com dois já no plantel não iria jogar muito, por isso mais vale estar na B a jogar.

      Eliminar
  4. Parece-me que com o Svilar e o Rúben na equipa já estávamos a defender melhor, com a defesa mais próxima dos médios. O recuo excessivo dos nossos defesas que apontas nesta jogada poderá ser por não se sentirem devidamente protegidos nas costas, pelo Varela? Não acho que ele seja rápido a sair dos postes, como referes. Até pode ser rápido a correr, mas não é rápido a decidir.

    Em relação ao Lisandro, já não o vejo como solução. Comete demasiados erros. Insiste em sair da área a fintar os adversários que lhe aparecem pela frente, é suicida! Parece que joga um jogo só dele e desequilibra imenso a equipa.

    Miguel Costa

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O Varela no último jogo achei-o indeciso, mas também com uma defesa a ter este tipo de comportamento dá azo a que essas situações ocorrem.

      Quanto ao Lisandro, ele faz muito bem em tentar sair em construção. O problema está que todos os outros jogadores não ajudam criando linhas de passe quando ele sobe. A equipa está demasiado formatada para os comportamentos que o Luisão tem em termos defensivos. Por isso digo que com mais uns jogos a titular, o Lisandro pegaria de estaca, pois os restantes colegas perceberiam do que ele era capaz e tentariam também eles adaptarem-se ao seu jogo.

      Eliminar
  5. Será que a nossa linha defensiva desce para a contenção porque não confia assim tanto no controle de profundidade do Varela?

    Se tiver sido o caso, infelizmente não posso censurá-la...é certo que Varela está nesse aspecto bem melhor do que na primeira passagem pelo onze, mas também o é que ainda tem que melhorar para estar à altura das exigências de jogar no Benfica, com uma defesa muito alta. Ainda hesita muito e com isso perde o timing de saída, por exemplo.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O Luisão e o Jardel tinham o mesmo tipo de comportamento com o Svilar em campo, basta vermos o jogo em Manchester.

      Quanto às hesitações, é como escrevi em resposta ao Miguel aqui em cima: o comportamento da linha defensiva dá azo a que essa dúvida permaneça sobre o Varela.

      Eliminar