29 dezembro 2017

Ainda não foi desta...


... que demos a reviravolta no marcador!

Gestão emocional
Não é um problema táctico e do sistema de jogo. Também não é um problema técnico. Fisicamente, também não vejo grandes problemas. Nem tão pouco é um problema de atitude e de esforço. Agora, definitivamente, é o excesso de soluções e de qualidade que está a afectar o Benfica esta temporada. E, está a afectar, porque os jogadores menos utilizados não estão a saber gerir a situação em termos emocionais. Este foi para mim o maior problema esta noite no Bonfim. O Filipe Augusto é o perfeito exemplo do que estou a escrever. O médio brasileiro tinha tudo para fazer um enormíssimo jogo, mas pecou por querer fazer mais do que devia. Quis assumir um protagonismo para mostrar a todos os adeptos que têm vindo a assobiar-lhe que estavam errados. Quis fazer de Pizzi, quando o que se pedia era que apenas e só fizesse de Filipe Augusto. Quantas vezes o vimos a driblar metade do meio-campo adversário e depois perder a bola por um passe sem nexo e há queima? Mas, não foi apenas ele. O seu colega mais jovem, o João Carvalho, também estava a querer ser protagonista. De tal forma que com estes dois artistas a quererem ir lá para a frente e fazer o gosto ao pé, deixaram desamparado o Samaris. Este viu-se ainda mais grego do que é. E, quando assim acontece, surge o seu lado mais criativo. O problema é que esse lado adora o risco e, pior, não tem limite para o risco, pelo que daí surge sempre situações incómodas, como perdas de bola a meio-campo ou na primeira fase de construção. Faltou aqui um grito de Ipiranga vindo do banco, que até acredito que tenha sido proferido, mas foi apenas ouvido no intervalo. De qualquer maneira, este problema afectou a qualidade da nossa construção de jogo atacante, do qual o trio ofensivo se ressentiu imenso na primeira parte.



Falta de comunicação
Costuma-se dizer que uma equipa se constrói de trás para a frente, ou seja, da defesa para o ataque. O jogo desta noite dá sentido a isso. Os erros defensivos, sobretudo, em bolas paradas advêm-se de três grandes factores: responsabilização de cada um pelo espaço perto de si, concentração e comunicação. Destes três penso que a comunicação é talvez dos mais importantes. Um jogador concentrado acaba por comunicar melhor a situação com os colegas e estes juntos conseguem refinar ainda mais a malha defensiva para que o controlo do espaço de responsabilidade dos jogadores seja muito mais eficiente. Nesse contexto, a exibição de Rúben Dias na primeira parte foi horrorosa. Penso que o próprio jogador se apercebeu disso mesmo, nem que seja, por indicação da equipa técnica ao intervalo. Os erros nos dois golos sofridos esta noite poderão ser-lhe apontado quase directamente. No primeiro golo do Setúbal, não pode fazer como o Quim (antigo guarda-redes do Benfica), que tinha por hábito levantar o braço a pedir fora de jogo. Ele tem de se responsabilizar pelo espaço defensivo afecto a si. Ele tem de no mínimo perturbar a movimentação do adversário. Já agora, também é verdade que o Svilar tem de deixar de defender as bolas para a frente e, defender, sim, as bolas para o lado ou para a linha de fundo. Já frente ao Portimonense faz uma grande defesa, mas deixa a bola para a recarga do adversário. Em ambos os lances, apesar de defesas por reflexo dá clara sensação de que ele pode fazer o gesto com as mãos para a bola em vez de ir para a frente, ir para o lado. Uma situação a rever com o seu treinador. No segundo golo, o Rúben não pode deixar o central sadino regressar à posição de jogo. Teria sido marcado fora-de-jogo se ele tivesse conseguido colocar-se à frente do adversário, pois este esbarraria nele. Foi muito anjinho e comprometeu imenso a equipa na primeira parte. Deve ter sido avisado durante o intervalo, mas o que é mais admirável nele, é a sua capacidade de superação. Não tenho dúvidas que dos miúdos que fizeram a transição esta temporada é aquele que irá mais rapidamente chegar à equipa principal. A segunda parte é disso demonstrativo. Não apenas pelo segundo golo do Benfica, mas por uma série de pormenores que se viu que aprendeu com os erros nos primeiros 45 minutos. Por exemplo, num lançamento de linha lateral, chamou atenção a todos os colegas e ao Douglas em particular para ficar imediatamente à frente do adversário ficando este entalado entre ele e o lateral. Aí está a importância da comunicação! É assim mesmo Rúben! E, outro exemplo, num livre lateral o central sadino iria fazer o mesmo que no segundo golo e viu-se o Rúben a ser muito mais agressivo ocupando a sua posição, algo que o árbitro parou e foi falar com os jogadores. Depois disso, ele manteve-se na sua e não se intimidou. Muito contente Rúben, com o crescente da tua exibição. Contudo, digo-te já, para o dérbi, joga o Lisandro. Pelo menos para mim, essa seria a decisão. Já agora, gostava também de referir que esta dupla de centrais com mais uns 5 jogos nas pernas iria dar um salto qualitativo brutal. É uma pena que tanto o Lisandro como o Rúben sabem que estão a competir por um lugar ao lado do Jardel, porque se tivessem ido a jogo a pensar em fazer dupla quiçá se não seriam os dois os centrais no dérbi?!



Decisões do banco
Há duas coisas que penso que o Rui Vitória e a sua equipa técnica têm de ser mais incisivos. A primeira delas, prende-se com esta gestão emocional. Já não é o primeiro jogo que a equipa e os jogadores apresentam esses sinais, pelo que já deveriam ter sido avisados para isso não acontecer. A preocupação de um treinador é colocar os jogadores sempre com a mentalidade do colectivo em detrimento do individual. Mas, para tal é preciso estar muito atento às necessidades de cada indivíduo/jogador. A partir daí é ir gerindo consoante essas necessidades e as necessidades da equipa. Penso que se isso estivesse a funcionar de forma eficiente, metade dos problemas que vimos ontem não surgiam. A segunda, é que as substituições não têm surtido efeito. Quando a equipa precisava de maior energia e cabeça, as substituições levaram a que a equipa ficasse mais desconecta. Acho que a sair alguém para entrar o Krovinovic seria o João Carvalho, que apesar do lance do primeiro golo, pouco ou nada estava a fazer em campo. É que ao retirar o Filipe Augusto, retirou à equipa a capacidade de pressão e de recuperação da bola no primeiro momento de perda, uma vez que o miúdo é muito mais macio nesse capítulo que o brasileiro. Acredito, que mantendo o camisola 6, com a mentalidade com que veio para a segunda parte e com um Krovinovic mais cerebral e a saber jogar muito melhor com e sem bola que o Carvalho, que o nosso meio-campo iria ter a energia suficiente para fornecer as bolas que o trio atacante precisava para consumar a reviravolta no marcador. Depois, retirar o Rafa quando até estava a ser um dos melhores... deveria ter aproveitado para tirar o Eliseu, recuando o Zivkovic para lateral esquerdo, e fazer entrar o Raúl para uma das faixas.



Sem ritmo
Muitos poderão ter começado a bater sobre o Eliseu ou até mesmo o Douglas, dois jogadores que pouco ou nada têm jogado esta temporada, por pensarem que foi isso que estava a fazer o Benfica perder no final da primeira parte. Mas, nada de mais errado. É certo que ambos os atletas estão sem ritmo de jogo - aliás, o Eliseu até demonstrou muito mais que o Douglas - mas, também temos de entender que se não for nestes jogos que eles ganhem ritmo será quando? A equipa é que no seu todo tem de saber jogar com isso e proteger esses atletas nessas situações. Para mim, isto até foi benéfico para o Rui Vitória perceber em que ponto do ritmo competitivo estão os seus jogadores menos utilizados. Decerto que agora, deverá procurar dar mais minutos ao Eliseu, para que o seu nível creça rapidamente. E, acredito que até bastará poucos minutos, dada a experiência que o açoreano tem. É importante, não deixarmos de envolver todos nesta batalha pelo penta. Uma última palavra para o Douglas: gostei do que vi e, perto do final do jogo, lamentei o facto de ele não estar com ritmo, pois via-se claramente que ele queria ir para cima, mas já não podia fisicamente.



Momento reviravolta
Quando a bola chega aos pés de Rafa e ele aproveita o arrastamento de dois adversários por parte das movimentações da vertical do Eliseu sobre o flanco esquerdo e da diagonal para o flanco esquerdo de Filipe Augusto, uma clareia no meio-espaço esquerdo se abre, onde em slalom o camisola 27 encarnado explora e vê a diagonal executada por João Carvalho nas costas da defesa sadina. Com um passe em lob encontra os pés de veludo do miúdo da formação encarnada, que com uma pirueta em reviravolta (ver video em baixo) consegue bater o adversário directo e cruza para a marca da grande penalidade, onde o suíço distribui chocolate sobre a baliza verde-e-branca. «Afinal sabem jogar! Há vida! Finalmente!» foi o que proferi nesse momento. Uma nota adicional, provavelmente, toda a gente vai ficar entusiasmada com o gesto técnico do João Carvalho. Eu não fico nada admirado, porque conheço o seu nível técnico. O que ele tem de se preocupar é com os outros 89 minutos em que não produz esse nível de futebol. Há um momento na segunda parte que poderá servir de lição para o João entender o que pretendo: há uma perda de bola no ataque do Benfica, até por um passe errado do João. O Samaris é batido pela finta do adversário e é o Krovinovic que acelera e ganha a frente ao adversário cortando a hipótese de um contra-ataque comprometedor dos sadinos. É isto que ainda falta ao João Carvalho... enquanto ele não demonstrar isso nos jogos e nos treinos, será sempre um substituto de Pizzi e de Krovinovic (que é pouco mais velho que o João). No final do encontro, vi o Couceiro a tentar seduzir o Carvalho. O treinador sadino sabe bem do talento do jogador e não é parvo nenhum porque já percebeu que ele não tem lugar neste Benfica a uma competição com toda aquela qualidade que temos. Seria uma boa hipótese para melhorar o seu futebol? Talvez... mas, preferia colocá-lo a outro nível competitivo para ele sentir realmente dificuldades que o obrigassem a crescer em termos de mentalidade e na forma como vê o jogo. Por fim, uma palavra para o Rafa: que passe brutal! Uns 5 jogos consecutivos e já não saias do onze titular. Aquele passe foi para calar os críticos. Boa, mano!




Resumo da partida
Mais do que falar é ver os lances de maior perigo...


6 comentários:

  1. se calhar e por ai que os jogadores sentem a necessidade de provar, se nao tem oportunidades mesmo com alguns em baixo rendimento isso acontece. o rafa por exemplo quando joga nao tem jogado mal, pelo contrario, mas como falha na finalizaçao banco. enquanto jogadores como pizzi luisao salvio mantem se no 11 quase independentemente do que façam em campo. mas como profissionais e um erro entrar nesse modo de pensar pk nao te aproxima de jogar mais. bom texto ;)

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    1. É por esse motivo que fiz o puxão de orelhas à equipa técnica, ao Rui Vitória e de uma forma indirecta à direção (quando me refiro à aposta na formação ter que ser mais criteriosa e não cega).

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    2. eu nesta epoca fiquei com a impressao que so valeu a pena a subida do ruben dias, ja o joao e o diogo por exemplo mais valia terem sido emprestados na 1 liga ate pk para o tempo que eles jogaram este ano os miudos de 18 da b aproveitavam melhor. mas pronto ainda assim confio na direcçao e equipa tecnica e quem sabe no proximo ano ja joguem mais tempo

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    3. Por um lado sim. Por outro nem por isso. Assim, têm já uma ideia daquilo que se exige a nível de modelo de jogo para um Benfica. E isso pode ser fundamental para os 6 meses que irão estar emprestados.

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  2. Isto já foi há tanto tempo que nem sei se vale a pena comentar.

    «Também não é um problema técnico.» Claro que isto depende de como se avalia o termo "técnico". Eu diria que é um problema de (o) técnico.

    Conquanto os dotes de técnico de RV nunca me convenceram (os comentários estão aí pelo blog), sempre pensei que a gestão das pessoas fosse o seu ponto realmente forte. Neste momento começo mesmo a questionar isso.

    Socorro-me do que dizes a seguir. «O médio brasileiro tinha tudo para fazer um enormíssimo jogo, mas pecou por querer fazer mais do que devia.» e segues para dizer aquela coisa de querer mostrar aos adeptos. Infelizmente concordo contigo. Porquê infelizmente? Claro que não é por concordar, é isso sim pelo que isso indicia. Lembras-te quando aqui há uns posts tu estraçalhaste o João Carvalho e eu dizia, talvez por outras palavras, que era impossível jogar tranquilamente quando se é obrigado a mostrar a cada toque que se pode ser titular, ao mesmo tempo que se treina com tipos que podem fazer as borradas que querem? Aquilo de que te queixas aqui é o que eu dizia. E se a equipa técnica não consegue passar isso num clube que se quer "formador" então a equipa técnica (e quem a valida) está errado.

    Douglas terá feito o seu jogo menos horrível pelo Benfica, Svilar concordo tem de começar a sacodir para o lado, mas um dos gajos lá do tasco mais críticos até o defendeu ao dizer que neste caso era muito à queima. Percebo o que ele diz, mas concordo mais contigo. Mas aquela saída do Varela para o segundo golo é extraordinária! A sério, aquilo é o Varela da B all over. Se a baliza da Selecção daqui por uns anos vai ser decidida entre Varela e José Sá estamos bem estamos...

    Tu e o Lisandro... Como diz o Maldini no LE:«Os seus bons registos estatísticos parecem crescer à medida que crescem os golos que o Benfica sofre.» Ou como eu já te disse este ano: o tipo até pode não ter culpa, mas com ele em campo os outros ficam todos piores. Diz-se que o Eibar está interessado. É fazer um laçarote e enviar!

    Bom, entretanto as férias foram refrescantes mas não deu para dérbi nem para Moreirense. Estamos mais longe do título do que no início do campeonato, não dependemos apenas de nós e arredados de tudo o que é competição. Como está a avaliação intermediária do trabalho de RV?

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    1. Ora bem, subscrevo tudo!

      Ando a dizer que o problema é do técnico desde Junho de 2015...aliás, o problema é ele ser muito mais um gestor do que um técnico, precisamente. Mas também estou contigo na revisão da avaliação que fazia dele, em termos de soft skills, de liderança de equipas e gestão de pessoas - este ano está a revelar-se mau também nisso: já conseguiu, em seis meses, queimar os três guarda-redes, Pedro Pereira, Buta, Chrien, Diogo Gonçalves, João Carvalho, Seferovic, Jimenez...além do mais grave - já carbonizou Zivkovic e Rafa, dois talentos que para mim estão no top 5 do plantel...

      Por mais habilidoso que seja o nosso PP a activar mecanismos de defesa como a negação, a intelectualização e a sublimação (e se ele é habilidoso nisso!...), já não há como não considerar a suposta competência de RV para o Benfica como verdadeiras fake news!...

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