04 agosto 2016

Que Braga esperar...


Uma análise ligeira sobre o adversário do Benfica na final da Supertaça Cândido de Oliveira 2016.

O retorno de José Peseiro a Braga, tem resultado numa mudança do modelo de jogo da equipa arsenalista. Se com Paulo Fonseca, o Sporting de Braga jogava com qualquer adversário com dois avançados declarados, assentados num sistema clássico de 4-4-2, com os dois alas invertidos, já com Peseiro, há claramente um reforço do meio-campo. Mais do que recuar um avançado para a zona de entrelinhas, transformando o 4-4-2 num 4-2-3-1, o ex-técnico do Porto prefere colocar um médio-defensivo de raiz como o Mauro. A equipa joga agora num sistema de 4-1-4-1. Será que irá manter este sistema durante toda a época ou apenas é uma alteração para este início de época e frente a adversários poderosos? Fica aqui a questão para ser respondida nos próximos meses. 

Consequentemente o modelo de jogo também sofre modificações. Se antes o Braga tentava jogar o jogo pelo jogo, procurando dominar a posse de bola, nesta pré-época vemos um Braga a jogar mais em transição. O Braga procura jogar muito para a sua referência ofensiva (ponta-de-lança Hassan ou Stojiljkovic) numa primeira fase, passando depois para os falsos alas Pedro Santos (canhoto sobre a ala direita) ou Ricardo Horta (destro sobre a ala esquerda), que de seguida aproveitam para usar as diagonais que os médios interiores Vukcevic sobre a meia esquerda e Pedro Tiba sobre a meia direita fazem nas saídas para o ataque numa segunda fase, para depois terminar com um cruzamento ao segundo poste ou para a entrada da área numa terceira fase.

Em termos defensivos, o quarteto titular ainda está em formação. Frente ao Villareal, jogaram a titulares o Baiano a lateral direito e o Marcelo Goiano a lateral esquerda (curiosamente este é, teoricamente, a segunda opção para lateral direito do Braga), com a dupla de centrais formada pelos franceses Sasso e Bolly. Teoricamente, parecem uma defesa sólida cuja imponência física é a que ressalta mais à vista. Tecnicamente, os seus centrais sentem claramente dificuldades na fase de construção. Também por isso, se pode entender a entrada do brasileiro Mauro no onze. Salientar que frente ao "Submarino Amarelo", o pivot defensivo do Braga fartou-se de falhar passes e Bolly entregou muitas vezes a bola para a bancada porque não conseguia construir jogo na primeira fase. Está aqui um dos pontos fracos do Braga, ou seja, recomenda-se ao Benfica criar uma armadilha na primeira fase de construção de jogo para que o Braga saia a jogar pelo poderoso central francês.

Por outro lado, Peseiro tem tentado incutir a linha defensiva a 3/4 do terreno, ou seja, um pouco subida. No entanto, essa mesma linha defensiva tem revelado imensas dificuldades em coordenação e acompanhamento de avançados que joguem nos meios-espaços, mas também façam diagonais do meio-campo para o ataque. O uso de avançados móveis por parte do Benfica será uma arma fundamental para desgastar esta defesa que se vê às aranhas, quando não têm referências contrárias para marcar. Inclusive, o papel do médio-defensivo arsenalista fica confuso uma vez que acaba por não saber se deve acompanhar o adversário, expondo a zona central, se deve manter-se na posição.



A projecção dos laterais do Braga é uma arma de dois gumes para eles. Se por um lado a defesa do Benfica deve ter atenção aos movimentos verticais dos laterais, também não é menos importante que devemos ter ainda mais atenção para os movimentos interiores de Baiano e de Goiano. Ambos os brasileiros são muito fortes nesses movimentos, criando oportunidades de golo através de perigosos remates frontais. Por outro lado, se estivermos atentos e anularmos nesse momento os movimentos deles, interceptando a bola, podemos rapidamente contra-atacar pelos flancos que estarão descobertos, apesar de tanto o Pedro Santos como o Ricardo Horta serem muito disciplinados em termos defensivos.

Por falar nos extremos do Braga, só com uma referência atacante, e com poucos apoios nas zonas centrais, com bola acabam por ter que lateralizar e temporizar um pouco, daí que o processo ofensivo resuma-se muitas vezes ao jogo directo para o ponta-de-lança. Contudo, atenção aos "contra-golpes". Em transição conseguem ter o espaço e o tempo para se prepararem no um contra um. E, jogando como falsos extremos, por terem capacidade para tanto irem para zonas interiores à procura do melhor pé, como para a linha de fundo procurando um cruzamento atrasado ou ao primeiro/segundo poste, serão sempre imprevisíveis. Fundamental que o comportamento defensivo da equipa encarnada nessas transições seja de proteger sempre o corredor central do terreno, levando-os a irem para as linhas. Não só reduz o perigo, como também ganha tempo suficiente para o resto da equipa recuperar posicionamentos.

Quanto a substitutos, destaco para a inclusão de Artur Jorge no centro da defesa (penso que o Bolly é bem provável que depois do jogo da supertaça seja transferido), Djavan para lateral esquerdo (que embora saiba subir pelo seu flanco falta-lhe sempre qualquer coisa na decisão ofensiva e defensivamente tem sempre algumas falhas de concentração), o Martínez para o lugar do Vukcevic (que é um médio/ala canhoto argentino com grande qualidade técnica e irreverente, conferindo maior preponderância atacante), o veterano Alan para o lugar de Pedro Santos (funcionando como médio ala construtor), o Wilson Eduardo para o lugar de Ricardo Horta (com o ex-Sporting a funcionar como um avançado interno com bola e um extremo esquerdo sem ela) e o ponta-de-lança Stojiljkovic para o lugar de Hassan. De salientar que a partir deste momento o sistema de 4-1-4-1 passou a ser mais flexível alternando entre um 4-4-2 mais clássico (quando o Wilson ia para o centro e o Martínez fugia para a esquerda), com uma espécie de 4-4-1-1, com Martínez muitas vezes a chegar perto do avançado sérvio.

Por fim, mencionar que Peseiro tem ainda no banco os seguintes jogadores: André Pinto e Ricardo Ferreira (que quanto a mim são talvez a melhor dupla de centrais do Braga), o Tiago Gomes para a lateral esquerda, os recém contratados Bakic e Luís Aguiar (este ainda está lesionado) para o meio-campo e ainda jogador do Braga, o campeão europeu Rafa. Duvido que algum destes comece o jogo da supertaça a titular, mas tenho a certeza que o coelho a sair da cartola de Peseiro será o campeão da Europa.

Actual plantel do Sporting de Braga e leitura sobre o
seu actual sistema e modelo de jogo.

2 comentários:

  1. É um plantel muito forte. Para médio-centro, Tiba vai ter forte concorrência que o Aguiar é um craque.

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    1. O problema do Aguiar é a tendência para a lesão. Por causa disso a sua carreira não descolou. E, sim! O Braga tem um plantel que é um mimo. Mesmo saindo os jogadores que se prevê saírem, ficarão com um plantel muito forte.

      E, ainda se fala da ida de Rui Fonte para lá...

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