12 novembro 2015

Aproveitar para preparar


Fazer desta pausa para compromissos da selecção uma oportunidade para preparar melhor o grupo para os próximos desafios até final do ano.


Mesmo sem muitos internacionais e alguns lesionados, Rui Vitória dispõe de um grupo de 17 jogadores, habituais presenças na equipa principal. São eles: Júlio César, Ederson e Paulo Lopes na baliza; Luisão, Jardel, Lisandro e Sílvio na defesa; André Almeida, Talisca, Cristante, João Teixeira, Pizzi, Taarabt, Carcela e Vítor Andrade no meio-campo; e ainda Jonas e Djuricic no ataque. Os que faltam, ou estão com as respectivas selecções - Eliseu, Rebocho, Samaris, Renato Sanches, Gonçalo Guedes, Nico Gaitán, Nuno Santos, Bilal, Raúl Jiménez e Mitroglou - ou estão a recuperar de lesões - Lindelöf, Nélson Semedo e Fejsa. Ou seja, mesmo sem muitos dos habituais titulares, temos 17 jogadores disponíveis, embora 3 deles sejam guarda-redes. Pessoalmente iria buscar à equipa B o moçambicano Clésio e o canhoto uruguaio Elbio, para poder ter 19 jogadores, 11 jogadores de campo mais um banco de suplentes completo e ainda um guarda-redes extra. Para quê, pergunta o leitor?

Para podermos marcar dois jogos amigáveis durante este período de interregno competitivo. É verdade que precisamos de treinar muitas áreas, mas também não é menos verdade que muitos dos nossos substitutos precisam é de ter ritmo de jogo nas pernas. Ainda estão com dúvidas sobre esta ideia? Vejam o exemplo do Sílvio de há duas semanas atrás e o Sílvio do último jogo. O lateral encarnado quase que não aguentava nas canetas no jogo da Taça de Portugal e no jogo frente ao Boavista esteve muito mais solto e preponderante no ataque. A diferença é que um não jogava e o outro vinha de uma série de jogos sempre a jogar. Por isso acho fundamental que Rui Vitória marque jogos amigáveis para este período. Já agora, na Alemanha é muito habitual as equipas fazerem isso... acho que era bom começarmos a adoptar os bons hábitos dos outros. Esta questão física não deve ser menosprezada.

Contudo, não é apenas com amigáveis que vamos lá. É preciso um trabalho de qualidade no treino diário. O Benfica continua a ter muitos problemas no que toca à gestão da posse de bola e sua circulação, tendo como consequência mais marcada a incapacidade de gerir os ritmos de jogo em muitos momentos dele. Depois, há as eternas questões da resolução dos equilíbrios e posicionamentos defensivos e ofensivos que a equipa precisa de trabalhar. Ou seja, é preciso dar no duro para absorver os princípios de jogo.  E isto é tudo apenas só no plano técnico.

No plano estratégico, é uma excelente oportunidade para preparar o importante encontro da Taça de Portugal frente ao Sporting em Alvalade. Como deveremos jogar em Alvalade? De peito aberto ou tentando jogar no erro do adversário? Pessoalmente, e olhando para o histórico recente, a nível emocional é aconselhável a segunda hipótese, i.e., jogando numa toada mais defensiva e de contra-ataque. Não só não nos expomos em demasia, como sobretudo poderemos colocar o adversário numa situação incómoda. Ao contrário do que muita gente pensa, o Sporting tem graves deficiências no seu momento ofensivo puro, daí as dificuldades que tem apresentado frente a equipas mais fechadas. Ora, acontece que estas equipas não têm é a qualidade ofensiva e de saída para o ataque que o Benfica tem... Estão a ver onde quero chegar?

Pois bem, para dar corpo a esta estratégia, mas também para salvaguardar uma certa redundância na segurança de processos, em combinação com a melhoria dos princípios que falava acima, mas também face ao grupo de jogadores disponíveis para trabalhar durante este período, penso que a melhor táctica será o 4-2-3-1. Mas isso não é uma revolução? Calma! A resposta é: não, não é! Todas as grandes equipas têm variações do seu modelo táctico mais habitual. Aliás, hoje em dia já são poucas as grandes equipas que se fixam com a mesma estrutura ao longo dos vários momentos e fases de jogo. Têm dúvidas? Um exemplo para o leitor: lembram-se de em 2009 o Barcelona de Guardiola ter difundido um movimento característico na saída de bola, em que o seu médio mais defensivo recuava para o meio dos centrais, estes alargavam ao longo da defesa e os laterais subiam para o meio-campo? Sim? Então digam-me, que forma táctica o 4-3-3 do Barcelona tomava? Exacto! Um 3-4-3! Já agora, por curiosidade, essa saída de bola tem o nome de salida la volpiana (graças ao seu "criador", o argentino Ricardo La Volpe).

Sinceramente, o 4-2-3-1 poderia colmatar muitos dos desequilíbrios defensivos que temos tido, pois na prática obriga a ter sempre um meio-campo com 3 elementos. Do ponto de vista táctico, é muito mais fácil trabalhá-lo, até porque é um esquema de formação, logo à partida os seus fundamentos os jogadores já o sabem. Face a um adversário que mesmo não sendo o bicho papão que fizeram dele, a verdade é que já tem duas vitórias sobre os encarnados esta temporada, pelo que neste encontro precisamos ser mais cautelosos e calculistas, ou seja, emocionalmente frios, racionais.

E, aqui faço a ponte para outro ponto que espero que esteja a ser trabalhado: a vertente emocional. Quanto mais próximos desse jogo iremos estar maior será o ruído à volta dele e mais tenderão a querer entrar na mente dos nossos jogadores. Tal como foi feito antes do derby da Luz. É aqui que a equipa de Rui Vitória tem de saber trabalhar e preparar bem os jogadores para os diferentes cenários que vão encontrar. Depois, e um pouco à parte da preparação para esse encontro específico, convém recuperar jogadores como Ederson, Lisandro, Cristante, João Teixeira, Djuricic e Taarabt. Está aqui muito talento e muito potencial que não pode ser desperdiçado e muito poderão contribuir esta temporada. Emocionalmente falando será muito importante para estes jogadores ver que o treinador está a contar com eles e está a tentar desenvolvê-los. Por isso é fundamental que o Rui Vitória tenha consciência disso e faça o seu trabalho.

Por falar em recuperações, mas num outro patamar, Sílvio (por ainda não estar a 100% do que pode render), André Almeida (pela exibição no derby), Talisca e Pizzi (pelos jogos que têm feito) e ainda Carcela (por ainda não ser uma certeza no grupo apesar dos bons indícios), era excelente que a equipa técnica encarnada esteja focada para trabalhar estes jogadores de forma mais intensa neste período. Estará aqui a chave do sucesso!

Mas, não é apenas estes meninos que têm de dar o litro. Também os brasileiros "internacionais" que ficaram por cá como o Júlio César, o Luisão, o Jardel (é o único que não é internacional, mas que, cá para nós, já merecia uma convocatória) e o Jonas. O camisola 12 tem de trabalhar mais o trabalho de pés. É fundamental para um Benfica pressionante e em cima do adversário ter um guarda-redes que possa ser o líbero da equipa, "varrer" a área à sua frente e ser mais um jogador com quem a equipa possa trocar a bola se necessário. Quanto à dupla de centrais, precisam de trabalhar o posicionamento e o passe. Já quanto ao avançado e querendo adoptar o 4-2-3-1 para o derby de Alvalade, é preciso trabalhar o Jonas de forma a que quando chegarmos a Alvalade percebermos que as bocas que diziam que ele não é avançado para jogar sozinho lá na frente não fazia sentido nenhum.

Por fim, chamei os miúdos Clésio e Elbio para podermos trabalhá-los como laterais ofensivos modernos, visto que apenas dispomos de Sílvio neste momento. Não me esqueci da minha proposta de adaptar o João Teixeira e o Vítor Andrade à posição. Mas, tendo em conta o número reduzido de jogadores à disposição do técnico, penso que estes poderão ser mais úteis como primeira opções para o meio-campo e ala, respectivamente, podendo serem uma segunda opção para as laterais. Assim abre caminho para Clésio e Elbio. O Clésio, que até já foi adaptado por Rui Vitória e Hélder Cristóvão, como lateral será sempre um lateral ofensivo mais vertical. Contudo, o Elbio poderá dar outras coisas como por exemplo, melhor qualidade no jogo interior, quando a equipa está no meio-campo do adversário em momento ofensivo puro. Muitos dos leitores poderão ser cépticos quanto a estas adaptações, mas penso que são perfeitamente normais. Às vezes mais vale tornarem-se grandes laterais do que médios ou extremos de razoável qualidade. Depois, a exigência ofensiva do Benfica exige qualidade técnica nos nossos defesas. De seguida apresento o meu esquema e opções.

Uma forma de organizar o grupo de trabalho para este
período de interregno competitivo. Muitos destes
jogadores poderão jogar noutras posições, pois têm
competências para tal, dada as suas polivalências.

4 comentários:

  1. Em breve a 11 pontos do primeiro e a cinco do terceiro .... E taça já era !!!

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    1. Não acho que possa acontecer se o Benfica for inteligente durante este período.

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  2. Gostei da tática que dispões aí.
    Se a primeira paragem que ouve no campeonato vez bem ao Benfica espero que esta também faça bem.
    O Djuricic tem que jogar, ele tem potencial e o Benfica não aproveita.

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    1. A táctica que disponho aqui não é tudo. Primeiro de tudo a equipa tem de assimilar os princípios de jogo condizentes para o modelo de jogo que pretendemos aplicar. Sem eles, o sistema de jogo, embora possa ajudar dada a facilidade de interpretação, torna-se pouco eficaz.

      Quanto ao Djuricic é verdade que tem um enorme potencial, assim como têm Cristante, João Teixeira, Talisca, Pizzi e Taarabt, só para mencionar alguns jogadores jovens e outros já feitos. É extremamente importante recuperar estes jogadores.

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