05 outubro 2014

Jornada 2: Bayer Leverkusen - Benfica


Quando a derrota encarnada tem uma só palavra e é escrita em alemão: "gegenpressing".


2 jogos, 2 derrotas
Podemos argumentar que nestes jogos da Liga dos Campeões, se jogarmos com jovens jogadores ainda pouco entrosados com a restante equipa, tais como o Bryan Cristante e o Anderson Talisca, arriscamos a realizar exibições como aquela que protagonizámos no Bayer Arena, na passada 4ª feira, Exibição que custou-nos a segunda derrota consecutiva na Liga dos Campeões nesta temporada: 3-1 frente ao poderoso Bayer Leverkusen. Mas, a verdade é que ao contrário da derrota frente ao Zenit, onde se viu que a estratégia falhou por causa de jogadores ainda pouco entrosados, na Bayer Arena, o Benfica foi já completamente ultrapassado a nível táctico e penso que é isso que devemos tentar compreender e até mesmo aprender.


"Gegenpressing", a contra-pressão
O que se passou frente ao Bayer Leverkusen, foi que o Benfica foi submetido a uma estratégia adversária mais inteligente e mais bem preparada para com o nosso estilo de jogo. Estratégia essa que já tem algum historial na Europa e que é imagem de marca do treinador Roger Schmidt - o "gegenpressing". Essa táctica/estratégia de jogo tornou-se muito popular nos últimos anos através de Jürgen Klopp, no Borussia Dortmund. O "gegenpressing" é uma estratégia defensiva pró-activa, construída sobre a ideia de pressionar em zonas bem elevadas e em grande número o adversário, espessialmente quando a posse de bola é perdida. Em termos etimológicos, "gegenpressing" significa contra-pressão. É uma estratégia que requer elevada energia dos seus praticantes, uma vez que requer muita aceleração, e muita resistência física, mas também muita resistência mental. É por causa dessa dificuldade física e mental que poucas equipas foram capazes de incutir este estilo de jogo com o sucesso que equipas como o Dortmund e o Bayer Leverkusen de Roger Schmidt (mas também o seu Salzburg na época passada) têm. A diferença entre o modelo do Klopp para o do Schmidt é que este último é ainda mais corajoso e ambiciono que o primeiro, pois utiliza um maior número de homens na pressão alta e intensa, assim como a disposição táctica é distinta. Por exemplo, Klopp utiliza uma base de 4-2-3-1 para efectuar a pressão. Já o Schmidt utiliza o 4-4-2, que mais parece um 4-2-4 (4-2-2-2) ou até mesmo um 2-4-4, tal a pressão que os seus jogadores fazem sobre o adversário.


Estratégia inteligente e positiva
Tacticamente, esta estratégia de Roger Schmidt tem muito para triunfar na Liga dos Campeões. Se não vejamos: a maioria das equipas da Liga dos Campeões são equipas campeãs nos seus campeonatos e por isso muito habituadas a ter o controlo do jogo através de posse de bola, mas também habituadas a jogar frente a equipas que logo à partida colocam-se num bloco baixo e muito pouco pressionante. Sendo assim, todos os movimentos treinados durante a semana, são com base numa construção mais lenta e sem pressão de jogadores adversários. Ora, é aqui que o "gegenpressing" acaba por surtir o efeito surpresa sobre o adversário. A maioria das equipas não está à espera que tal aconteça. Só frente a grandes equipas europeias, com jogadores já tarimbados, experientes e de excelente qualidade, esta táctica germânica poderá não ser tão eficiente. Mas, mesmo assim, e como vimos na época passada o Salzburgo de Roger Schmidt frente ao Bayern Munique de Pep Guardiola, esta estratégia no mínimo põe em pé de igualdade na discussão de um encontro frente a um "tubarão" europeu. E mais, acaba por ser uma estratégia de jogo bem mais positiva do que a do "ferrolho" ou da "camioneta", ou até mesmo a do "airbus" e consequente aposta num ou noutro lance de contra-ataque.


Aprender com os adversários
Conforme escrevi no início, mais do que procurar neste momento culpados dentro da equipa encarnada, penso que esta é uma daquelas derrotas que poderão muito bem servir de lição para a nossa equipa técnica. Olhando para os actuais problemas de meio-campo encarnado, onde tem havido dificuldades em adaptar Andreas Samaris à posição "6" do habitual esquema de Jorge Jesus, mas onde a opção Bryan Cristante parece estar a "anos-luz" de conseguir interpretar esse papel e a opção André Almeida é vista mais como opção para a lateral direita do que outra coisa, pergunto-me se não seria positivo ao Benfica replicar a proposta de jogo de Roger Schmidt? Eu penso que temos jogadores mais do que suficientes para aplicar essa estratégia, pois:
  • temos um quarteto atacante formado por jogadores velozes e capazes de efectuar uma pressão alta sobre o adversário
  • temos um meio-campo de jogadores habituados a jogar de área-a-área ("box-to-box"), tais como Enzo, Rúben Amorim (quando recuperado), Samaris, Cristante, João Teixeira, Talisca e André Almeida. Somente o Fejsa é mais defensivo, e mesmo assim o sérvio na sua selecção ocupa um posicionamento não tão recuado como faz no Benfica
  • temos uma defesa composta por centrais habituados a jogar em pressão alta e laterais muito ofensivos
Faltará apenas trabalho de treino específico para tal. Primeiro, os jogadores têm de estar fisica e mentalmente aptos para uma estratégia de jogo desse tipo. Segundo, é preciso efectuar treino ofensivo de qualidade. No encontro de quarta-feira, foi notório que todos os jogadores do Bayer Leverkusen sabiam o que deveriam fazer em cada momento do jogo, enquanto que os encarnados (leia-se os de negro) não! Estatisticamente, o Benfica teve mais posse de bola global e mais passes que o adversário, contudo, perdeu o encontro. Tal daria que pensar face à nova tendência futebolística europeia após Barcelona de Guardiola. No entanto, olhando mais em pormenor as estatísticas, o Leverkusen foi superior ao Benfica no número de passes curtos com sucesso. Isto significa que não só estavam melhor posicionados em campo - a equipa estava compacta - como também o trabalho de treino surtiu os devidos resultados, uma vez que conseguiam facilmente trocar a bola no meio-campo defensivo do Benfica. Em suma, em Portugal costuma-se dizer que o treinador é responsável pela componente defensiva da equipa enquanto que o ataque está entregue muitas vezes à qualidade dos seus atacantes. O Bayer de Roger Schmidt demonstra que não é bem assim, e que o treinador tem de intervir em todos os capítulos. Mais ainda, o Leverkusen demonstrou que a melhor estratégia ofensiva é talvez a melhor estratégia defensiva.

Disposições tácticas globais do Bayer
Leverkusen e do Benfica no encontro da
Jornada 2 do Grupo C da Liga dos Campeões
2014-2015. Notar na proximidade do quarteto
ofensivo do Bayer por oposição ao do Benfica.
Notar ainda na disposição em parelha dos 2
médios do Bayer por oposição aos dois do
Benfica. A equipa alemã foi muito mais
compacta que a equipa encarnada.

2 comentários:

  1. fui uma tareia de meia noite e mais uma vez o catedrático é varrido sem dó nem piedade.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Algo me diz que não será o único a ter dificuldades esta temporada com o Bayer Leverkusen de Roger Schmidt.

      De qualquer forma, e apesar da superioridade do Bayer Leverkusen, penso que se não tivesse havido o penaltie - que foi discutível, a história do jogo poderia ter sido outra...

      Já agora, mesmo que o Benfica tivesse pontuado na Alemanha, estou certo que ficaria com a mesma impressão de domínio táctico por parte dos germânicos.

      Eliminar