12 outubro 2014

Amigável: França - Portugal


Apesar da derrota, gostei das ideias de Fernando Santos para a selecção nacional.
Agora, é necessário muito trabalho...

O sistema
O sistema táctico mantém-se e baseia-se no 4-3-3. Há contudo uma pequena e grande nuance: ao invés do tradicional ponta-de-lança número 9, Fernando Santos aposta num avançado 9,5 ou um falso 9, como preferirem. Ao fim e ao cabo, o novos seleccionador nacional segue a tendência da escola holandesa e espanhola, sobretudo após Guardiola. Tendência essa que tem cativado imensos elogios e adeptos. Mais, faz todo o sentido que o faça, não só porque iria jogar frente a uma selecção gaulesa muito forte, como também porque Portugal carece desde longa data de um ponta-de-lança de créditos firmados - isto porque em Portugal consideram o Ronaldo mais como um extremo do que um ponta-de-lança.

Na realidade a evolução do Ronaldo tem sido de médio-ala/extremo para avançado interior (neste momento) e penso que num futuro a médio prazo passará por ser ponta-de-lança, ou um falso 9. Até lá, continuará a sentir-se mais confortável, jogando solto como um avançado móvel e interior, ou seja, daqueles que partem de zonas mais laterais e entre linhas para o centro do terreno. Ronaldo é um avançado que gosta de aparecer nas zonas de finalização, ora entre os centrais, ora entre o lateral e o central de um dos lados.


O falso 9
Jogando com Danny - e até mesmo Nani - como "9,5", permite que muitas vezes o 4-3-3 possa transformar-se numa espécie de 4-3-1-2 ou 4-4-2 com losango de meio-campo, uma vez que esse jogador pode e deve recuar a meio-campo em muitas fases do jogo. Com este tipo de movimentos estabelece o equilíbrio defensivo a meio-campo, e liberta um pouco os dois extremos - que deveremos começar por chamá-los de avançados interiores - para as movimentações atacantes.

Notar que face a adversários mais complicados, poderá ser necessário que um dos dois avançados interiores tenha de recuar. Nesse caso a preferência será sempre por um jogador que não seja o Ronaldo, dada a sua enorme importância no último terço do terreno. O Cristiano é muito forte na finalização ao contrário de qualquer outro extremo/avançado interior que tenhamos neste momento disponível. Sendo assim, será Nani o sacrificado para essas tarefas. E, bem vistas as coisas, até será o mais indicado, pois é um jogador muito importante na construção e criação de jogadas ofensivas.


O número 6
O médio-defensivo tem de ter qualidade na construção de jogo. Esta é uma das ideias que parece transparecer da utilização de Tiago como titular ontem no jogo. Contudo, embora a lógica esteja correcta, penso que o jogador ideal para isso não seria o Tiago, mas sim o André Gomes. É verdade que o agora "ché" actua em zonas mais adiantadas no terreno na sua equipa. No entanto, o passado recente no Benfica e as suas belíssimas exibições como "6" na Luz, poderia ter sido ontem uma mais valia, pois o André Gomes, ao contrário do Tiago sabe posicionar-se bem para a primeira fase de construção de jogo e nos momentos defensivos como médio-defensivo.

Não é à toa que o Fernando Santos tenha preferido dar o lugar ao William Carvalho, na segunda parte. O camisola "6" tem de ser um jogador que saiba equilibrar a equipa defensivamente. Por exemplo, deve ser um jogador que saiba recuar fazendo quase de terceiro central quando a equipa está em processo defensivo, acompanhando e impedindo/dificultando qualquer entrada de um médio adversário que venha de trás.

A análise táctica da selecção nacional no França - Portugal.

As trocas posicionais
É uma excelente ideia as trocas posicionais ao nível do tridente de meio-campo e do ataque. Teoricamente, André Gomes, Tiago e João Moutinho, conseguem fazer com certo nível de competência as três funções de meio-campo, pois possuem: a) inteligência táctica para o posicionamento defensivo, b) intensidade futebolística para executarem transições defesa-ataque e vice-versa, e c) criatividade para criarem jogadas ofensivas. Agora é preciso muito trabalho para que cada um deles saiba o que fazer e quando fazer de forma interligada e entrosada com os restantes elementos do sector e da equipa em geral.

No ataque, as trocas posicionais entre Ronaldo, Nani e Danny poderão ser uma solução para colmatar a ausência de um ponta-de-lança de créditos firmados. Os centrais adversários, deste modo, nunca saberão quem marcar. Por outro lado, haverá posições que terão mais desgastes e outras menos, pelo que com estas trocas, os avançados poderão ir revezando-se nessas posições, podendo assim respirarem e com isso gerir melhor o esforço entre eles. Tal como o tridente de meio-campo, o tridente atacante precisa de muito trabalho de treino para estarem devidamente identificados com as funções e responsabilidades ofensivas e defensivas.


Os problemas
Para além dos claros problemas de entrosamento e do erro de posicionamento de Tiago na posição "6", conforme referi anteriormente, a equipa de Fernando Santos apresentou alguns problemas. Como por exemplo, ao nível do sistema de compensações defensivas. Penso que, faltou-nos um médio esquerdo em campo, daqueles capazes de ocuparem zonas interiores e zonas laterais - Fábio Coentrão e Miguel Veloso têm de ser equacionados no futuro naquela posição. Se formos a ver bem, Tiago, André Gomes, João Moutinho, Danny, Cristiano Ronaldo e até mesmo Nani, são destros e têm tendência para quando na esquerda movimentarem-se para zonas centrais, ou seja para a direita. Com essas movimentações deixam sempre o único canhoto em campo, o Eliseu, sozinho. Ora isto faz abrir uma clareira entre o lateral, o central, o médio interior e o extremo do lado esquerdo. Sobretudo, quando em transição defensiva, pois apanha o Eliseu colado à linha lateral, pois faz parte da estratégia ele estar nessa posição para aproveitar o espaço livre em frente numa variação de jogo do lado direito para o esquerdo. Se a bola é interceptada nesse momento pelo adversário, o espaço entre o lateral. o central e o médio-interior esquerdos é enorme. Foi isso que sucedeu várias vezes na primeira parte e que injustamente culpabilizavam o lateral do Benfica.

Se um médio interior canhoto ajudaria a colmatar essa lacuna, e se o jogador na posição "6" souber fazer os equilíbrios, faltará mesmo assim um central que esteja à vontade em jogar mais subido. Ontem o Bruno Alves não foi esse central. A equipa nacional melhorou imenso defensivamente, no momento em que foi substituído pelo Ricardo Carvalho. O "kaizer" português osube muito bem encurtar espaços entre o central e o lateral esquerdo, quando em movimentação ofensiva. Por outro lado, também ajudou a ter um "6" de raiz como o William Carvalho.

Mas, os problemas defensivos não começaram só na defesa e no meio-campo. Os homens do ataque têm de ser mais activos na pressão e na reacção à perda da bola. Ao invés deixavam facilmente passar o médio ou o defesa gauleses. Danny e Nani têm de ser mais intensos no processo defensivo, pelo aspecto que já referi do Ronaldo e da sua função ofensiva. Ontem, não os vi a descerem tantas vezes para ajudar a defesa, nem tão pouco a pressionarem os médios e os defesas franceses. Isso tem de ser rectificado.

E por falar em atacantes, é necessário que saibam soltar a bola e decidir mais rapidamente nas transições ofensivas. Contei pelo menos três ocasiões em que ora Nani, ora Danny não tiveram a melhor opção no contra-ataque, na primeira parte. Ao invés de passarem para o Ronaldo, preferiram trocar a bola entre eles, ou inclusive a fazerem um compasso de espera, quando estavam 3 para 3...


Os que não gostei
Quem não gostei de ver ontem no Stade de France, foram:
  • o Rui Patrício, pois sinto insegurança quando ele é obrigado a jogar com os pés.
  • o Bruno Alves, pois está muito pesado e lento com e sem bola e pior, está muito macio defensivamente.
  • o João Moutinho, pois apesar da sua entrega e correria, pouco ou nada fez de qualidade, por exemplo, falhou muitos passes e perdeu muitas disputas de bola a meio-campo.
  • o Danny, pois tem tendência para desaparecer do jogo... é uma sombra na selecção do que é no Zenit de São Petersburgo.
  • o Quaresma, pois apesar do golo, pouco ou nada fez de útil em termos atacantes, perdendo várias vezes a bola pela falta de intensidade gritante que possui.
  • o Éder, pois não é ponta-de-lança para uma selecção nacional.

Os que gostei
Quem eu gostei de ver em campo, foram:
  • o Pepe, pois foi uma autêntica carraça para o Benzema e companhia.
  • o William Carvalho, pois serenou o centro do meio-campo mal entrou na partida.
  • o André Gomes, pela luta e qualidade de passe que demonstrou ter no Stade de France.
  • o João Mário, pela sua entrada mexida, com garra, vontade e qualidade física e técnica.
  • o Nani, pois apesar dos momentos iniciais meio perdido, soube depois ajudar o Cédric nas tarefas defensivas e esteve em muitos dos lances de perigo para Portugal.
  • o Ronaldo, pois este tipo não sabe jogar mal. O que ele lutou... e gostei de ver o duelo entre ele e o Varane e o Mandada.

Muita gente perguntou porque é que Portugal não jogou com as suas cores principais
frente à França, mas a verdade é que não o fez porque as cores das meias são iguais
em ambos os equipamentos principais dos gauleses e dos lusitanos. Tal poderia
confundir os próprios jogadores e os árbitros auxiliares nos fora-de-jogo.

2 comentários:

  1. Muitos parabéns pelo post .
    Este seria o meu onze para amanhã respeitando o esquema táctico de Fernando Santos : Patrício , Moutinho ( a lateral direito),Pepe ,Carvalho e Eliseu , William , Tiago , Gomes , Nani , Danny e Ronaldo.

    O Cedric é muito frágil defensivamente como se viu contra a França e se vê por cá. João Moutinho é um jogador experiente e inteligente sabendo como poucos ocupar os espaços.Por outro lado (aqui devo estar sob influência de JJ) o seu recuo permite a entrada ou a manutenção no meio campo dum jogador mais alto o que não é despiciendo quando se enfrenta equipas nórdicas.

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    1. Boas JV,

      Ora aí está uma ideia que merecia ser revista com mais atenção e que até gosto! ;)

      Se puderes dá uma olhadela ao meu artigo com ideias para o jogo daqui a pouco...

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