Algumas notas desta...

... que se deseja de reconquista.

Já entendi há muito que as pré-épocas encarnadas são constituídas por várias fases, devido ao modelo desportivo/financeiro do clube. Com o crescimento das ligas inglesas, espanhola, italiana, alemã e francesa, são cada vez mais as equipas com orçamentos que facilmente igualam as maiores deste rectângulo à beira-mar plantado. Depois, com o modelo das competições europeias, que beneficiam os melhores campeonatos e os seus clubes, ainda maior é a diferença entre esses clubes e, infelizmente, o Benfica, pelo menos ao nível financeiro. Torna-se, portanto, cada vez mais difícil de atrair os grandes talentos para o nosso futebol.

Mas, como o Glorioso não é de se deixar a ir abaixo, tentou inovar nesta área. Apoiando-se numa base sólida, formado por vários campeões que conferem a passagem da tal mística, o Benfica tem apostado em todos os cenários que pode apostar para garantir ao máximo o acesso ao grande talento antes que esse nos fuja. Por isso é para contratar talento consagrado, actualmente, só o fazemos de duas maneiras: jogadores livres e jogadores de equipas em que tenhamos relações privilegiadas. Como a nossa aposta é na formação, não faz sentido em procurar pelos jogadores por empréstimo. Aliás, essa é uma das formas que temos para colocar os nossos jogadores excedentes e para fazer dinheiro. Contudo, o talento em tenra idades é uma operação de enorme risco, risco esse que apenas se diminui se aposta for em vários jovens jogadores. É por isso que hoje em dia ouvimos quase mensalmente nomes de miúdos a serem negociados para o Benfica. É por isso que quando vemos um Chiquinho ou um João Amaral queremos logo ficar com eles. Na pior das hipóteses o baixo custo de investimento é recuperado em anos de empréstimo ou numa venda para outro mercado no qual temos boas relações. A ideia não é má, longe disso, até é a que mais senso faz para um clube como o Benfica que quer continuar a crescer de forma sustentável.

Reparem que um jogador emprestado de um tubarão poderia ser interessante, porque o Benfica até joga na Liga dos Campeões, mas hoje em dia são vários os campeonatos que têm equipas bem mais pujantes financeiramente que o Benfica. Esses jogadores são assim mais seduzidos para jogar nessas equipas. Por outro lado, vamos apostar num jogador que nem sequer é nosso? Ainda para mais, quando precisamos das receitas de vendas de jogadores para suprir o custo que é competir ao mais alto nível. Percebem porque não faz grande sentido recebermos emprestados? Só se for em condições privilegiadas, como aconteceu com Pizzi e Raúl Jiménez... mas, esses negócios não acontecem todos os dias.

Findo esta introdução, penso que compreendem o porquê destas pré-épocas encarnadas serem sempre numerosas (30 jogadores que vão na comitiva) e em várias fases: tem haver exactamente com este modelo de negócio/desportivo. Na primeira fase da pré-época, serve para ver os miúdos e os jovens da equipa B que caíram no goto da equipa técnica na última temporada. Aproveitando a ausência dos internacionais que a equipa possui, que normalmente por essa altura ainda estão a gozar o seu período de férias por causa dos torneios com as suas respectivas selecções, os jovens jogadores e as recentes contratações jovens têm que aproveitar o momento. Todos os anos vejo jovens a cometerem os mesmos erros: não se apresentarem neste início em boas condições físicas. Um jogador que chegue aqui já com duas semanas de treino feitas em férias, vai chegar sempre mais rápido e mais forte que o colega e isso vai-se notar aos olhos dos técnicos encarnados. Mal não seja porque ficam com a clara ideia de que o miúdo sabe o que quer, tem ambição e trabalha para isso. É por isso que o Gedson ganhou a titularidade nos últimos encontros e já vai na 2ª e prepara-se para ir para a 3ª fase. A 2ª fase, é quando chegam os internacionais depois das férias, onde aumenta um pouco a competitividade e onde o plantel é de facto muito extenso, onde se misturam jovens, internacionais e jogadores que estão à espera de saírem. Quanto à 3ª fase, é a de emagrecimento, onde o Rui Vitória faz as decisões finais sobre quem realmente fica e quem realmente sai. No meio disto tudo tentará implementar o seu modelo de jogo, o que a meu ver é muito difícil tendo em conta a dinâmica de entradas e saídas.

É claro que depois há incongruências. Uma delas é o que se passou com o Chris Willock e o Heriberto. A meu ver ambos deveriam ter ido para Inglaterra em detrimento do Ola John, por exemplo. Percebo que o Rui Vitória iria receber o Salvio e o Zivkovic, assim como o Seferovic, em Inglaterra e, como tal, não poderia ter 30 jogadores, mas bolas, então porque razão o Keaton Parks ficou no plantel se o Samaris também juntou à equipa?! É novamente a questão do nosso modelo financeiro: precisamos de salvaguardar os activos que estão na montra. Neste caso, o mais certo é o Benfica ter na montra, jogadores como o Ola John, o Salvio, o Seferovic e o Samaris. Mas, assim também perder o momento para miúdos que poderiam ser integrados e poder realmente fazer a diferença, tais como o Willock e o Heriberto. Por exemplo, num possível 4-3-3 europeu, falta-nos maior objectividade se jogarmos com dois extremos puros, pelo que seria interessante esconder um segundo avançado como falso extremo (aqui seria o ideal para o Heri e até mesmo o Willock).

Já agora, a propósito do 4-3-3, faz algum sentido termos 4 avançados-centro e estarmos a testar o modelo com apenas um avançado?! Não é que seja contra ou favor do 4-3-3. A questão aqui tem a ver com o de maximizar o tempo de pré-época para todos os jogadores se identificarem com o modelo de jogo, para evitar um dos erros das épocas anteriores, onde a verdadeira pré-época começava quando a competição começava. Não é à toa que desde há várias temporadas que o período mais conturbado em termos de resultados desportivos são o primeiro trimestre da competição. Numa época que temos de entrar com a corda toda para aceder aos milhões da Liga dos Campeões, penso que continuar com a mesma forma de planeamento é de todo inconcebível.

Outra crítica que faço a esta pré-época prende-se exactamente com as potenciais saídas: Salvio e Samaris. Sou contra pelo simples facto de ambos já estarem bastante bem identificados com o clube e porque actualmente, nenhum tubarão irá dar uma fortuna pelos jogadores. Dessa forma, com o passar dos anos de Luisão e também do Jardel, via-os a pegarem no testemunho desses dois no curto e médio prazo. Nem que para isso tivéssemos que inventar novas posições para estes jogadores jogarem. Por exemplo, penso que uma das coisas boas que o Sampaoli fez na selecção albiceleste na Rússia, neste verão, foi a adaptação feliz do Toto Salvio a lateral direito. Tendo em conta a tedência do Grimaldo preferir incursões pelo interior no lado esquerdo, um lateral bem aberto na ala direita, poderia beneficiar a nossa defesa, uma vez que tenderia a chegar-se mais para este lado direito. A cobertura defensiva seria feita pela linha intermédia que estaria mais à esquerda, com o Cervi colado à linha como extremo esquerdo puro. Por outro lado, o grego Samaris daria um excelente central pelo lado esquerdo. Ele e o Rúben Dias poderiam formar uma excelente dupla que permitiria a equipa ficar mais subida e compacta, evitando que o Jonas e os restantes companheiros se desgastassem com vai-e-vens. E, com bola nos pés, acredito que a nossa saída de bola seria a melhor a nível nacional (e uma das melhores a nível europeu).

Isto leva-me a outra questão: porque raio fomos comprar tantos centrais? É por causa da envergadura? E, ainda por cima fomos buscar estes centrais a um campeonato cuja pré-época começa com treino físico puro e duro e sem bola (isso já não se faz cá em Portugal desde os anos 90...), conforme disse o Conti. Com um Samaris que poderia ganhar nova vida, mas também com um Alfa Semedo que também pode jogar naquela posição e até mesmo um Ponck (que a meu ver é mais uma vítima de pensarem que há "gato" com a sua idade), não havia essa necessidade toda. Penso que é aqui nesta visão de como deve funcionar a nossa defesa que eu e o Rui Vitória colidimos um pouco mais. Ah! Só para afinar agulhas, eu no lugar do Vitória apenas tentaria ir buscar um central canhoto e faria isso só mesmo para tentar dar outra vida ao Luisão com uma defesa a 3... Só mais uma coisa: levámos 6 centrais para Inglaterra e só podem jogar 2, enquanto Willock e Heriberto não foram e não puderam lutar mais pelo seu lugar.

Sobre o capitão Luisão, acredito que em Dezembro saia em definitivo e vá terminar a carreira no seu Cruzeiro. Não ouvi nada, mas esta é a minha fezada. Acredito que entremos na temporada com 5 centrais, sendo um deles o camisola 4. Atendendo que o Rúben Dias e o Jardel ficam de pé e cal, que o Conti está a dar excelentes indicações e que o Vitória abra a pestana para o reposicionamento do Samaris, sobra-nos o Lema e o Lisandro que quanto a mim deverão sair por empréstimo e/ou definitivo. Mais sobre o centro da defesa, vou gostar de verificar como evolui o Rúben Dias, que a meu ver deverá derivar para o lado esquerdo do centro da defesa, lado esse onde até agora tem sentido maiores dificuldades... vai ser um excelente desafio para o jovem defesa encarnado.

Nas laterais, ainda estou para entender como o nigeriano Ebuehi evolui. Fisica e tecnicamente possui tudo para singrar. No entanto, o contexto é difícil, dada a exigência do Benfica. Pessoalmente, eu teria apostado no Salvio para concorrer com o André Almeida na lateral direita. No flanco oposto, duvido que o Grimaldo saia tão cedo. Falta-lhe algo para ser suficientemente apelativo para os tubarões e permitir ao Benfica um encaixe assombroso. Quem tenho estado a gostar imenso é do Yuri Ribeiro. Tem tido poucos minutos, mas tem sabido aproveitá-los todos. A meu ver, falta-lhe não ter o Cervi à sua frente, pois com o argentino pouca gente consegue jogar bem tal as más decisões que toma, mas já lá vamos...

No centro do meio-campo, mais do que o Gedson, quem me tem impressionado pela positiva é o Alfa Semedo. Neste momento, gostava de vê-lo jogar de início com o Pizzi. Acho o Alfa com o potencial para ser uma autêntica casa das máquinas no meio-campo no curto e médio prazo. Acredito que com ele, facilmente poderíamos jogar apenas com dois médios no meio-campo. Ele é esguio, forte fisicamente, mas não ao ponto de perder agilidade e aceleração, como acontece com muitos jogadores de elevada envergadura, como o N'Zonzi, por exemplo. Com os pés não é nada tosco. Tem sido usado mais como "6", mas vejo-o perfeitamente a fazer de "8" e até a posição do Gedson. Por causa disso, gostava de vê-lo a titular nos próximos dois jogos: um como Gédson com o Fejsa a "6" e o Pizzi ao lado e outro com o Gedson e o Pizzi, fazendo de "6". De qualquer maneira, penso que falta-nos mais um esquerdino no meio-campo, com capacidade para fazer de "8", como o tal Gabriel Pires que se tem falado (ou um Lucas Evangelista e, já agora, porque não sonhar, ou um Lucas Paquetá). Não esquecer que o Zivkovic poderá fazer de Pizzi, enquanto o Krovinovic recupera. O Samaris é que vê o seu espaço reduzido, mas como (e vou bater nesta tecla) o vejo como central, não conta para as contas do meio-campo. Quanto ao Keaton Parks, o melhor será mesmo emprestar. E, se com a chegada de mais um jogador para o meio-campo acontecer de verdade (eu penso que nos faz falta um jogador esquerdino com outra estampa física que não o Zivko), acredito que o Gedson poderá cair fora para ganhar minutos de jogo que bem precisa nesta fase da sua carreira.

Nas alas, em 4-4-2, acredito que um dos interiores do 4-3-3 se transforme num médio-ala. Foi assim que o Rui Vitória foi campeão pela primeira vez com o Benfica, quando apostou no Pizzi como ala direito. Nesse sentido, o extremo puro será do lado esquerdo e é o Cervi. Para mim, este é um dos pontos fracos da nossa equipa. Muitas das nossas jogadas acabam nos pés dele, o que é péssimo tendo em conta que em 4-4-2, teremos mais dois jogadores à frente dele que precisam das suas bolas para criar perigo ao adversário. Não sei se repararam, mas na época passada tivemos que abandonar o 4-4-2 por causa deste menino que não soube interpretar bem as suas funções (e para agravar jogávamos com outro extremo puro do lado contrário: Salvio). Esta assimetria do 4-4-2, também pode ser conseguida à esquerda, com a inclusão de Zivkovic a fazer de Pizzi sobre o lado esquerdo e um Rafa bem aberto na direita, como na época passada em muitos jogos (e, porque meti o Salvio a lateral direito).

Reparem agora neste pequeno parêntesis, com o meio-campo de 4-4-2 com Pizzi e Cervi, poderia optar por um quarteto com Salvio e Grimaldo perfeitamente, pois na prática estaríamos a jogar com duas linhas assimétricas, mas complementares que criariam uma espécie de malha defensiva e ofensiva com uma percepção de 5 homens em cada um dos corredores (percepção do adversário de um bloco 5+5), ao invés de um tradicional bloco 4+4 do 4-4-2. Reparem que o Cervi ao atacar e ao defender ocupará o flanco, o Grimaldo tenderá para o corredor central. Do lado contrário, o Pizzi procura a conexão central com o Jonas e o ponta-de-lança, deixando o flanco para o Toto. Por seu turno, no 4-4-2 com Zivko e Rafa no meio-campo, teríamos o quarteto defensivo com Yuri Ribeiro e André Almeida, mantendo-se uma complementaridade idêntica, mas inversa.

E em 4-3-3? Quais seriam os nossos extremos? Aí penso que seriam o Salvio, o Rafa, o Zivkovic e o Pizzi como opções para o lado direito, e o Cervi, o Zivkovic, o Rafa e o Pizzi para o lado esquerdo. As opções de Salvio e Cervi são puramente de extremos puros. Já as opções de Rafa e de Zivkovic são polivalentes, podendo jogar quer como extremos puros, quer como falsos extremos. Penso que nos falta uma opção de avançado interior, como é o caso do Heriberto, mas com tantos avançados-centro e, muito provavelmente, pelo facto do Rui Vitória não ver interesse num modelo desses... acho um erro! Num Benfica que vai apostar alguma coisa na Liga dos Campeões, não apenas no acesso à fase de grupos, mas nuns oitavos de final e chegar aos quartos, tem de ser uma equipa mais compacta e enérgica sem bola, ao mesmo tempo que não poderá perder objectividade. Isso consegue-se com 4-3-3 assimétricos que se transformem facilmente em 4-4-2 assimétricos, à custa de um avançado camuflado no flanco. Notar, como os grandes avançados actuais provêm dessa função (Cristiano Ronaldo, Edison Cavani, Luís Suárez, Lionel Messi, Gonçalo Higuaín, Salah, Mané, Firmino, Neymar, Griezmann, Mbappè, entre outros).

Pois é, temos neste momento 4 avançados-centro: Jonas, Ferreyra, Castillo e Seferovic. No entanto, nenhum deles conseguiria jogar como falso extremo, ao contrário do Raúl Jiménez que quanto a mim foi muito mal aproveitado pelo Rui Vitória (2º ponto no qual discordo com o técnico encarnado). Na época passada, quando o Rául entrava e marcava, há muito que o Cervi estava a arrastar-se em campo e o mexicano merecia a titularidade naquela posição. Facilmente, com o Zivko como interior esquerdo, poderia transformar o 4-3-3 num 4-4-2 e acredito que isso teria permitido ao Jonas respirar, descansar e marcar mais. Com a saída do mexicano, contratámos o Ferreyra que quanto a mim poderá jogar sozinho lá na frente num 4-3-3 com a mesma qualidade que o Jonas. Aliás, tal como o Carrillo, como tão bem tem demonstrado. Neste momento, o Jonas parte do banco, essa é que é essa. Sobra-nos o Seferovic que dizem estar com as malas feitas.

Vejamos, sem um avançado interior no plantel (o Heriberto era perfeito), não aconselho desfazer-nos de nenhum dos 4 e, como tal, apostava forte no 4-4-2. Contudo, pelo que tenho visto, não é isso que o Rui Vitória está a fazer para uma posição servida por 4 jogadores tão detalhados para ela e que não são tão polivalentes que possam encaixar facilmente como avançados interiores. O Castillo e o Seferovic podem ter alguma predisposição, mas faltam-lhes capacidade ao nível do drible que por exemplo, um Heriberto poderia ser uma mais valia.

Na baliza Bruno Varela, Svilar e Odysseas parece-me bem. Acho que haverá tremenda competição entre eles e isso é muito bom. Têm tudo para fazer nome na Luz.

Por fim, o João Félix está muito menino ainda... É jogador para ir trabalhando, pois claramente necessita de se sentir à vontade com a equipa com que joga. Sem bola, precisa de evoluir enormidades. Isto é algo que espero que se trabalhe mais e melhor nas equipas jovens do Benfica. Já nem falo em reacções à perda, falo sim na inteligência na leitura do posicionamento para ir cortando linhas de passe, quando não se tem a bola. Isto é fundamental num jogador de elite. Que o diga o Modric...

Character. Sportsmanship. Ambition.
- 107th minute, your team is leading 2-1.
Luka Modrić. #CRO #CRORUS #WorldCup pic.twitter.com/DtmmakB3JF

— Mindfootballness Project (@Mindfootballne1) 8 de julho de 2018

P.S.: Sobre o Modric e sobre o Mundial, tenho tanto e tanto para escrever sobre isso...