Nesta competição deu para perceber que...

... os maiores adversários do Benfica foram: o ritmo de jogo elevado, a contrapressão e a concentração competitiva.

Mais do que jogador A, B ou C, o problema do Benfica nesta competição foram estes três grandes adversários. Mas, tudo isso não significa que não tenhamos qualidade. Significa sim, que para conseguirmos superar essas três adversidades vamos ter que trabalhar muito mais e acima de tudo crescer/evoluir (isto para aqueles jovens jogadores que temos em mãos). A primeira coisa que todo o grupo deve reflectir é no foco com que todos estão no jogo. É difícil porque estamos em pré-época, há muita competição interna porque há lugares para decidir, mas a concentração é fundamental. Em ambos os encontros deste fim-de-semana, verificou-se essa lacuna no nosso jogo. Frente ao Arsenal, aconteceu menos, mas aconteceu. Se é importante manter-se o foco quando se tem a bola, para sermos objectivos e conseguirmos cumprir com o plano de jogo, sem bola torna-se crucial. É esse foco, aliado a uma boa capacidade física que permite que quando a bola entra na 2ª fase de construção, a linha defensiva não fica cá atrás parada a ver os companheiros jogar, mas avança igualmente para na eventualidade de uma perda de bola, possa fazer pressão ao adversário. Boa parte do perigo do Arsenal teria sido evitado se tal acontecesse, em particular os primeiros dois golos dos londrinos. O mesmo para o primeiro golo dos alemães do Leipzig.

Em ambos os jogos o ritmo de jogo foi elevado. Muito mais elevado que o que se pratica por norma em Portugal. Isso significa que os jogadores têm de dar respostas mais rápidas, mantendo-se a precisão e qualidade das mesmas. Ora, com jovens jogadores (Chrien, por exemplo), outros a procurarem o seu espaço na equipa (exemplo do Filipe Augusto) e outros acabados de chegar de férias (como foi o caso do Pizzi), é normal que a resposta encarnada foi aquém do espectável. É também verdade que as outras equipas também padecem dos mesmos problemas. Mas, não é bem assim quando estamos a falar de um Arsenal que consegue ter o Özil, o Lacazette e o Ramsey no banco, mais o Sanchez em casa a curar de uma gripe, e tem em campo um Walcott, um Xhaka e um Giroud. Como podemos compreender a diferença de valores individuais dos dois planteis é compatível com a diferença de orçamentos que ambas as equipas possuem. Mesmo assim, no futebol só jogam onze. E é nesse contexto que num futuro, com todos os nossos melhores jogadores em boa forma podemos ombrear frente a estas equipas. Por exemplo, durante 45 minutos, com todos os problemas que tivemos conseguimos lutar taco a taco com o Arsenal. Ou seja, conseguimos dar resposta ao ritmo elevado. Mas, agora falta trabalhar para durar os 90 minutos e que os jogadores mais jovens também estejam confortáveis nesses ritmos elevados.

O outro grande adversário do Benfica foi a contrapressão. Não tanto frente ao Arsenal, mas muitíssimo frente ao Leipzig no jogo deste domingo. A forma como o portador da bola do Benfica ficava rapidamente rodeado de 3 ou 4 adversários é imagem de marca das equipas germânicas nos últimos anos. É imagem de marca da escola do Dortmund de Jürgen Klopp, o chamado gegenpressing ou contrapressão. O Benfica a época passada já teve um primeiro encontro com essa forma de jogar, quando apanhou o Dortmund nos oitavos-de-final da Champions. Hoje claramente se percebeu que tanto Chrien, como o André Horta ou outro jovem jogador não está ainda preparado para jogar contra estes estilos de jogo. Em Portugal, não há nenhuma equipa que jogue dessa maneira, pois não faz parte do modelo de jogo da maioria das equipas nacionais, que prefere uma defesa em bloco e no seu meio-campo, em vez de pressionar rapidamente quando há perda de posse de bola, sufocando o portador com 3 ou 4 jogadores à sua volta retirando-lhes as linhas de passe. Este estilo acaba por ser o Némesis do modelo de meio-campo e ataque encarnado, com um médio defensivo, um outro médio centro que é o transportador de bola da equipa, dois extremos muito verticais e um avançado móvel que deambula entre-linhas muitas vezes de costas para a baliza. Face a este modelo, o jogador encarnado tem a tendência para agarrar mais a bola e devido aos posicionamentos e formas como recebe a bola acaba por estar sempre mais lento com ela nos pés. É aqui que entra a minha crítica ao Rui Vitória, que deverá optimizar esta situação. Por exemplo, não há necessidade de ter um médio "8" transportador, mas sim de circulação. Os extremos deverão ser falsos deixando a verticalidade para os laterais e protegendo sempre a bola do adversário com o pé de apoio, enquanto o pé dominante fica protegendo e controlando o esférico em segurança, sempre com o corpo voltado para o corredor central onde há maior número de opções de passe. E, avançados rápidos a procurar os espaços entre os defesas e laterais, mas também as costas da linha defensiva, para estarem constantemente a puxar a linha defensiva desses adversários para trás, criando assim maiores espaços entre essa linha defensiva e a sua linha do meio-campo.

Como podemos ver, o que falta mesmo é arregaçar as mangas e trabalhar! Acredito muito no potencial dos nossos atletas. Acredito que o Luisão e o Júlio César têm ainda muito para dar. Acredito que o Filipe Augusto e o Lisandro podem-se afirmar no onze titular. Acredito também que Chrien e outros jovens poderão evoluir e daqui a 3 meses apresentarem outro nível de performance. E, acredito muito sinceramente que este fim-de-semana foi muito prolífero, não pelas derrotas como é óbvio, pois ninguém gosta de perder (nem a feijões!), mas porque levou-nos a questionar sobre o que temos de melhorar. Mais vale isso, do que estar a ganhar a clubes pequenos e a esconder-se debilidades do processo de jogo.