02 julho 2017

A selecção das quinas será...


Reflexões após a Taça das Confederações.


A selecção nacional em geral, e o seleccionador nacional em particular, deveriam colocar os olhos sobre o exemplo germânico nesta edição da Taça das Confederações. A Alemanha não ganha os títulos todos porque é simplesmente uma equipa mais talentosa que as outras. Não! Ela ganha porque tem uma cultura embutida nas veias de fazer o trabalho de casa com pés e cabeça.

O Joachim Löw é o seleccionador germânico que depois de Klinsmann mais tem feito em prol da "mannschaft". Teve a coragem de levar para a Rússia uma segunda linha de jogadores germânicos, deixando em casa os seus jogadores mais consagrados, mesmo sabendo que a Alemanha nunca tinha conquistado tal troféu. Fez-lo porque pensa no médio e longo prazo, coisa que a maioria dos restantes seleccionadores não o faz porque, ou não têm essa competência e visão, ou estão mais interessados em utilizar as suas posições actuais para dar o salto para outros patamares. Onde uns vêem problemas, outros vêem oportunidades (onde já ouvi isto)!? Felizmente, os germânicos já nos acostumaram a pensar de forma planeada. E, foi isso que assistimos este verão na Rússia.

Mas, o que fez Portugal? Mais do mesmo. Ou seja, levou os mesmos consagrados. Aliás, Fernando Santos desprezou o hiato temporal que separa junho de 2016 a junho de 2017, para convocar praticamente os mesmos jogadores que foram a França no verão passado, como se tivesse passado uma semana entre essas duas datas. Sendo assim, desprezou o facto de durante este período: o João Moutinho ter feito poucos jogos no Mónaco, perdendo a titularidade no clube monegasco; o Ricardo Quaresma, já não ser um titular indiscutível no Besiktas e nem sequer aguentar 90 minutos de alta intensidade; o Nani ter estado boa parte da época lesionado e ainda por cima num Valência em luta pela permanência na La Liga; o Bruno Alves que já não está em grande forma; o Pepe que pouco jogou; e o William Carvalho e o Adrien que apesar de terem jogado, foram terceiros classificados na Liga Portuguesa, atrás de Danilo e Pizzi, este último o melhor médio português da actualidade.

Tirando a entrada no onze de Bernardo Silva - e mesmo assim só o conseguiu ser no segundo encontro - Fernando Santos pouco ou nada preparou para antecipar a queda de um grupo sedento por renovação. Ao contrário deste, o Löw comportou-se como um autêntico engenheiro, antecipando-se a um possível colapso da sua equipa e criando novas soluções futuras. E, não foi por falta de matéria prima, que o campeão da Europa não poderia fazer essa transição. Jogadores como Pizzi, Nélson Semedo, Gelson Martins, Danilo, poderiam e deveriam ter tido mais oportunidades ao longo do torneio. E, já não falo em outros jogadores que poderiam ter sido experimentados, como o Roderick Miranda, que teve uma evolução notável como central esta temporada.

Depois, tacticamente, a selecção nacional é um misto de equívocos e antíteses. Se é para jogarmos com um meio-campo que gosta de ter bola no pé (William Carvalho, João Moutinho ou Adrien, André Gomes e Bernardo Silva), não podemos jogar em contra-ataque e sem bola, até porque com Ronaldo lá na frente ou Nani, apenas o André Silva se desgastará em trabalhos defensivos. O jogo frente ao Chile foi o exemplo perfeito de toda essa esquizofrenia táctica. Até poderíamos ter marcado um golo, muito por fruto do nosso talento natural, mas se não formos mais inteligentes e personalizados a jogar, acabamos por sermos vítimas da sorte do destino (aka "sorteio" das grandes penalidades, o tradicional fado lusitano). Esta demissão de responsabilidades, de uma identidade própria e vincada e, de uma confiança nas nossas potencialidades, é o que mais dói. Frente aos chilenos, senti termos mais receio de perder o jogo que aquela garra de conquistar o triunfo. As coisas não acontecem por acontecer. Na maioria das vezes há razões. Pior é quando continuamos a não querer vê-las.

É por isso que entendo que tenha de haver uma mentalização diferente. Mas, mais do que isso um planeamento que acabe por ajudar a florir essa mentalização. E, é neste ponto que Fernando Santos tem de se mexer mais. Ele tem de empoderar mais os seus jogadores, sobretudo aqueles que agora querem entrar no grupo campeão da Europa. Há muito talento que o seleccionador nacional tem de arriscar e dar-lhes oportunidades, tal como o seleccionador alemão fez. Mas, deve-o fazer num sistema de jogo que obedeça à nossa identidade nacional e respeite as características dos seus atletas, nem que para isso alguns dos habituais tenham de ficar no banco.

A meu ver, jogar em contra-ataque é possível, mas temos jogadores para muito mais e que muito provavelmente sentem-se como os melhores do mundo, capazes de olhar olhos nos olhos com os melhores e lutar por serem donos da posse de bola. O nosso nível técnico é equiparado ao brasileiro. Sendo assim, porque razão jogar na vertigem do contra-ataque? Até porque boa parte dos nossos jogadores não está habituado às cargas físicas que os jogadores de equipas alemãs estão, por exemplo.

É por isso, que a esta espécie de 4-4-2 losango esbelto (com dois interiores ao invés de dois extremos) que muitas vezes se transforma num 4-3-3, com o avanço de um dos interiores/extremos, coloco a questão de se adoptar um 4-4-2 à imagem do Mónaco de Leonardo Jardim? Por outro lado, há muitas das principais referências da selecção nacional que não têm lugar na equipa titular, mas que poderão ser suplentes dela. Falo por exemplo de João Moutinho, Quaresma e Nani. Não estou a dizer isso porque foram os três a falhar as grandes penalidades frente ao Chile. Estou a dizer isso, porque acho que neste momento não têm lugar no onze titular da selecção nacional. O Moutinho está uma sombra do que foi. Está muito complicado a jogar. Está lento sobre e com a bola. Joga para trás ou para o lado. E, o transporte, sem aquele vigor de correrias que possuía, é quase sempre mal executado. A solução? Pizzi, pois claro! Quanto ao Nani, só há uma posição onde ele poderá jogar: no banco e para substituir o Ronaldo. Quando está em campo, jogamos com menos um. Não defende e a atacar não faz a diferença. No um para um a finta não lhe sai. Ele atrapalha-se muito com a bola. E, como sempre foi um jogador de rasgos individuais, nunca aprimorou o lado da tomada de decisão e da visão de jogo. Logo, quando está em má forma, pior que ser um "zero", é ser um "menos um". Já o Quaresma, ele já não é propriamente um titular da selecção nacional, facto que o Fernando Santos faz bem. Mas, penso estar na hora de dar o lugar ao Gelson Martins e daqui a um ano ao Rafa.

Outro problema que esta competição deixou para o Fernando Santos pensar foi com a nossa estrutura defensiva, nomeadamente, os nossos centrais. São todos uns trintões. Se é verdade que Pepe e Fonte ainda estão para as curvas para 2018, o mesmo não posso dizer de Bruno Alves. Por outro lado, o Neto é um central que constrói pouco vindo de trás. Tendo em conta o elevado número de médios-centro com qualidade à disposição da selecção nacional, penso que a adaptação de William Carvalho e de Danilo à posição de central que saiba construir vindo de trás pode ser benéfica para um modelo de posse de bola que Portugal possa querer apostar. Outra alternativa é dar oportunidades ao Roderick Miranda. Fiquem então com o meu esboço sobre como arrumar os jogadores num sistema de jogo que servisse a selecção das quinas.


Obviamente que numa fase final do mundial só poderão ir 23,
pelo que muitos dos que aqui estão teriam de ficar por terra...

6 comentários:

  1. William a central para se fazer valer da velocidade? Só pode...

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    1. Apenas para construir de trás. No meio-campo prefiro o Danilo ou o André Gomes como médios mais defensivos.

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  2. Caga...
    Vamos mas é tratar do Benfica!
    A tal de selecção que sa foda, enquanto tiver por lá aquela gente....

    Viva o Benfica!

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    1. Como somos um clube formador de jovens futebolistas portugueses é de nosso interesse saber como está a ser feita a renovação da selecção nacional.

      No curto prazo convém que o Semedo, o Pizzi e o Rafa (para além do Eliseu) agarrem lugar na equipa das quinas.

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    2. O estado da tal de selecção está bem expresso nesta frase que retirei do blog do Guachos: "Fernando santos ficou tão 'amarelo' com o prémio de melhor jogador da liga atribuído a Pizzi que resolveu oferecer umas luvas de ouro e uma baliza de prata para confortar o Marafona."

      Cumps.

      Viva o Benfica!

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    3. Realmente... 😉

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