Reflexões sobre o que aconteceu na segunda-feira.
Na passada segunda-feira, o Benfica recebeu o Vitória de Setúbal para a 30ª jornada da 1ª Liga NOS, após importante e desgastante encontro contra uma das melhores equipas do mundo na actualidade, o Bayern de Munique de Pep Guardiola. Este jogo disputou-se na quarta-feira anterior, pelo que em termos físicos a equipa teve tempo para recuperar. Aliás, tendo o Benfica começado o jogo a perder (o golo dos sadinos surgiu da primeira jogada após o apito inicial da partida), se não estivesse bem fisicamente, jamais teria conseguido operar a remontada ainda na primeira parte. Como tal, o que assistimos na passada segunda-feira não foi uma equipa com fadiga periférica ou muscular. Foi outro tipo de fadiga, a central (ou mental), misturada com outros factores que não podem ser desprezados.
É normal que o desgaste emocional do embate frente aos bávaros na semana anterior possa ter-se sentido neste encontro. O Benfica tem jogado sobre enorme pressão, tanto a nível de exigência europeia, como nacional. Na Europa, os jogadores encarnados jogando frente ao colosso bávaro, na maior montra de futebol mundial, sentiram a pressão e a ansiedade dos grandes jogos. Jogos que te impõem um nível e ritmo muitíssimo elevado e que te obrigam a ter que tomar inúmeras decisões em intervalos de tempo mais curtos. É um desgaste mental brutal que apenas é acompanhado pelo desgaste físico. Já nas competições nacionais, embora o ritmo seja mais sereno, a pressão de jogar depois do adversário, ainda por cima com este a vencer e a ficar constantemente à frente dos encarnados, impõe uma pressão suplementar sobre a equipa encarnada, quer se queira quer não. Ou seja, os jogadores não conseguem relaxar completamente do estresse competitivo. Isso tem enormes implicações ao nível da atenção e concentração no jogo, mas também na dificuldade de raciocínio do próprio jogo. Muitas vezes o que acontece é que nestas condições de fadiga mental, o jogador começa o jogo antes, tenta jogar durante e continua a jogar depois do encontro em si. Ora isso não é benéfico para o jogador e por conseguinte para a equipa.
Houve dois bons exemplos da fadiga central da equipa encarnada neste encontro. O primeiro aconteceu no golo do Vitória de Setúbal logo a abrir o encontro, no qual toda a equipa encarnada reagiu muito tarde, apresentando-se desatenta e desfocada no jogo em si. O segundo aconteceu na má decisão de Pizzi nos últimos minutos de jogo, que num lance aparentemente controlado e que tenta passar a bola para o seu guarda-redes esta é interceptada pelo avançado sadino que fica isolado frente-a-frente com o Ederson. Valeu a atenção deste último e foi um caso para todos colocarem mãos à cabeça, tal como o Pizzi fez nesse lance e que provavelmente ele próprio sentiu o que todos nós sentimos: um apertozinho no coração.
Mas, a exibição do Benfica depois da cambalhota no marcador, não se deveu exclusivamente a esse factor da fadiga central. É verdade que jogadores como o Renato Sanches e o Pizzi, por exemplo, apresentavam esses sinais, mas houve outros que nem jogaram frente ao Bayern Munique, tais como Jonas, Mitroglou, Gaitán e Semedo e que não estiveram bem por outros motivos. Este último está claramente a recuperar a sua melhor forma. Fisicamente, parece estar com bons índices, mas está sem ritmo de jogo e muitas vezes parece querer fazer coisas que ainda não está capaz de fazê-lo. E, isso afecta-lhe depois a confiança ao longo dos 90 minutos. Claramente, o Rui Vitória fez bem em deixá-lo ir jogar para a equipa B, pois aqui irá encontrar o espaço e o tempo para recuperar mais rapidamente. Quanto aos outros três, notou-se que não estão completamente a 100% fisicamente. O internacional brasileiro, ainda marcou o seu golinho da praxe, mas toda a gente já o viu fazer mais e melhor, até porque, aqueles 20 minutos na primeira parte, anteviam outro tipo de performance. Quanto a Gaitán e a Mitroglou, dá clara sensação que estão a jogar um pouco inferiorizados. Acredito, que estes 6 dias entre este jogo e o jogo de hoje tenham servido para recuperar física e mentalmente muitos dos jogadores, incluindo este grupinho. Mas, de qualquer maneira, penso que teria sido interessante o Rui Vitória ter mantido a confiança em outros jogadores que tão bem deram conta do recado frente ao Bayern de Munique, tais como: Raúl, Carcela, Salvio, Talisca e Gonçalo Guedes. Pessoalmente, acho que o Jiménez e o Carcela poderiam ter jogado de início frente ao Vitória de Setúbal... Contudo, percebo - e até aceito - a decisão do técnico encarnado.
Por fim, gostaria de salientar dois aspectos que me parecem bastante importantes. Primeiro, o facto de o Benfica ter preferido jogar na segunda-feira e não no domingo foi bastante sensato por parte da equipa de Rui Vitória. Ao fazer isso, e porque a recuperação da fadiga central não é tão linear como a periférica, fez com que os jogadores ganhassem mais um tempo para relaxarem um pouco do estresse mental que a competição acarreta, logo após uma jornada de pelo menos quase duas semanas muito intensivas. Penso mesmo, que o Benfica consegue virar o resultado e vencer este encontro frente ao Vitória de Setúbal, graças a essa gestão. E, isso é algo que não é muitas vezes valorizado, porque o adepto comum olha para os nomes Benfica e Vitória de Setúbal e pensa logo que menos de 15 é derrota. São nestes pormenores que se entende as competências das equipas técnicas. E, neste caso, parabéns Rui Vitória e sua equipa. Segundo, tendo tido tempo para recuperar bem fisica e mentalmente para o importante encontro desta noite frente ao Rio Ave, só espero uma reacção idêntica àquela que o Barcelona teve na semana passada frente ao Deportivo da Coruña, em que goleou a equipa galega com 8 golos sem resposta. Com a particularidade dos 4 golos de Luis Suarez. Aliás, seria fantástico hoje o Jonas regressar à sua melhor forma e aos golos, até porque penso que tem todas as condições para fazer um brilharete no troféu da bota de ouro desta temporada.
P.S. 1: Ao que parece surge agora o interesse do Manchester City em Renato Sanches, por pedido expresso de Guardiola. Para o jogador uma transferência desta ordem seria o melhor de todos os mundos para ele. Não só iria para a liga de futebol mais competitiva, como iria ser treinado por talvez o melhor treinador do mundo e aquele que mais lhe poderá ajudar a evoluir enquanto médio-centro de classe mundial. E, isto para não falar na melhoria salarial que provavelmente iria auferir e que por mais que quiséssemos não o conseguiríamos bater. Pessoalmente, como Benfiquista, ficaria triste como é óbvio. O facto de podermos efectuar a maior e mais cara transferência do futebol nacional, com os benefícios que isso nos trás a nível financeiro, e também o facto de termos vários jogadores para o meio-campo na nossa fileira, prontos para eles próprios serem valorizados e rentabilizados (por exemplo, Cristante, Talisca,...), faz-me não ser tão sentimental se tal saída acontecer. Aliás, viria-a como uma certa naturalidade e, neste caso, com alguma satisfação, pois teria confiança no sucesso do "nosso miúdo-maravilha". Dito isto, se quiserem deixá-lo mais uns tempos por aqui, seria óptimo!
P.S. 2: A equipa B acaba de empatar com a sua homóloga Vitória de Guimarães, com um golo dos vitorianos nos últimos segundos de jogo em plena Caixa Futebol Campus, no Seixal. O que não falta por aí são adeptos encarnados a quererem pedir a cabeça do Hélder Cristóvão numa bandeja. Penso que o momento, não é de todo o mais oportuno e todos nós devemos parar um pouco para pensar sobre as coisas antes de expressarmos. Conforme já tinha escrito, há nesta equipa B coisas que de facto são das responsabilidades do técnico encarnado. Mas, há muitas outras que não o são. E, depois é preciso de entender os reais objectivos da equipa B. I.e., se é para construir uma equipa que lute pela conquista da 2ª Liga (como o Porto construiu esta temporada)? Ou se é para realmente ser um laboratório e um berçário de criação de jogadores para irem alimentando a equipa principal encarnada. Parece-me claro que a aposta é esta segunda. Mas, também parece-me claro que o objectivo não seria de todo lutar pela não descida da 2ª Liga. Como tal, no final da temporada é preciso afinar as agulhas e corrigir o que não correu tão bem. Aproveito para dizer já que não sou muito a favor de se contratar treinadores muitos jovens ou com grande potencial para este tipo de projectos e o motivo é bastante simples: um treinador jovem tem uma agenda própria, que passa na sua maioria por crescer a nível profissional e poder treinar ao grande nível e por isso vai ter uma abordagem resultadista, quando na realidade, o que se pretende naquela equipa é uma combinação de formação e exigência, i.e., mentorado. Depois, estou convicto que apesar dos péssimos resultados desta temporada, há muito jogador que está a crescer enquanto futebolistas e enquanto homens, que num futuro próximo dará frutos. De qualquer maneira, este não é o momento correcto para se equacionar esses cenários. Acima de tudo o que a equipa precisa e que nós adeptos podemos dar-lhes é algo tão simples como: apoio incondicional. Força Benfica!
Nós vamos apoiar a equipa B, e a direcção/estrutura?
ResponderEliminarO treinador tem que ser um formadore trabalhar em consonância com o RV.
Não vejo vantagem nenhuma de estarmos a criar pressão sobre todos eles neste momento...
EliminarOk, durante mais três semanas, mas receio que os males da equipa B se resolvam com apoio.
EliminarOs males da equipa B resolvem-se no final da temporada. Conforme escrevi acima no artigo e também noutro artigo sobre o tema, há muitas responsabilidades a serem atribuídas entre equipa técnica da equipa B e estrutura do futebol encarnado. Há muita coisa a limar neste projecto e na visão que eles têm.
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