24 abril 2016

Fadiga central...


Reflexões sobre o que aconteceu na segunda-feira.

Na passada segunda-feira, o Benfica recebeu o Vitória de Setúbal para a 30ª jornada da 1ª Liga NOS, após importante e desgastante encontro contra uma das melhores equipas do mundo na actualidade, o Bayern de Munique de Pep Guardiola. Este jogo disputou-se na quarta-feira anterior, pelo que em termos físicos a equipa teve tempo para recuperar. Aliás, tendo o Benfica começado o jogo a perder (o golo dos sadinos surgiu da primeira jogada após o apito inicial da partida), se não estivesse bem fisicamente, jamais teria conseguido operar a remontada ainda na primeira parte. Como tal, o que assistimos na passada segunda-feira não foi uma equipa com fadiga periférica ou muscular. Foi outro tipo de fadiga, a central (ou mental), misturada com outros factores que não podem ser desprezados.

É engraçado verificar-se que para a opinião pública
continua-se a confundir a fadiga periférica (física)
com a central (mental), sendo esta aquela que na maioria
das vezes é responsável pelo sucesso/insucesso das
equipas nas fases mais cruciais da temporada.
O lance do Pizzi no final do jogo é disso um bom exemplo.
De levantar as mãos à cabeça!
É normal que o desgaste emocional do embate frente aos bávaros na semana anterior possa ter-se sentido neste encontro. O Benfica tem jogado sobre enorme pressão, tanto a nível de exigência europeia, como nacional. Na Europa, os jogadores encarnados jogando frente ao colosso bávaro, na maior montra de futebol mundial, sentiram a pressão e a ansiedade dos grandes jogos. Jogos que te impõem um nível e ritmo muitíssimo elevado e que te obrigam a ter que tomar inúmeras decisões em intervalos de tempo mais curtos. É um desgaste mental brutal que apenas é acompanhado pelo desgaste físico. Já nas competições nacionais, embora o ritmo seja mais sereno, a pressão de jogar depois do adversário, ainda por cima com este a vencer e a ficar constantemente à frente dos encarnados, impõe uma pressão suplementar sobre a equipa encarnada, quer se queira quer não. Ou seja, os jogadores não conseguem relaxar completamente do estresse competitivo. Isso tem enormes implicações ao nível da atenção e concentração no jogo, mas também na dificuldade de raciocínio do próprio jogo. Muitas vezes o que acontece é que nestas condições de fadiga mental, o jogador começa o jogo antes, tenta jogar durante e continua a jogar depois do encontro em si. Ora isso não é benéfico para o jogador e por conseguinte para a equipa.

Houve dois bons exemplos da fadiga central da equipa encarnada neste encontro. O primeiro aconteceu no golo do Vitória de Setúbal logo a abrir o encontro, no qual toda a equipa encarnada reagiu muito tarde, apresentando-se desatenta e desfocada no jogo em si. O segundo aconteceu na má decisão de Pizzi nos últimos minutos de jogo, que num lance aparentemente controlado e que tenta passar a bola para o seu guarda-redes esta é interceptada pelo avançado sadino que fica isolado frente-a-frente com o Ederson. Valeu a atenção deste último e foi um caso para todos colocarem mãos à cabeça, tal como o Pizzi fez nesse lance e que provavelmente ele próprio sentiu o que todos nós sentimos: um apertozinho no coração.

Este é o lance de levantar as mãos à cabeça de Pizzi.
Notar na forma lenta como ele lê o lance, retardando a
tomada de decisão e deixando que o adversário lhe
pressione até que ele só tem como únicas alternativas
passar para o seu guarda-redes ou meter a bola fora das
4 linhas. Opta pela primeira e o resto já sabemos.
Mas, também é importante rever este lance, porque o
posicionamento do Samaris e do Renato não é o melhor,
pois perante o ângulo de visão do Pizzi, estes não se
apresentam como opções de passe válida e segura.
Há aqui outro tipo de trabalho a ser efectuado...
Mas, a exibição do Benfica depois da cambalhota no marcador, não se deveu exclusivamente a esse factor da fadiga central. É verdade que jogadores como o Renato Sanches e o Pizzi, por exemplo, apresentavam esses sinais, mas houve outros que nem jogaram frente ao Bayern Munique, tais como Jonas, Mitroglou, Gaitán e Semedo e que não estiveram bem por outros motivos. Este último está claramente a recuperar a sua melhor forma. Fisicamente, parece estar com bons índices, mas está sem ritmo de jogo e muitas vezes parece querer fazer coisas que ainda não está capaz de fazê-lo. E, isso afecta-lhe depois a confiança ao longo dos 90 minutos. Claramente, o Rui Vitória fez bem em deixá-lo ir jogar para a equipa B, pois aqui irá encontrar o espaço e o tempo para recuperar mais rapidamente. Quanto aos outros três, notou-se que não estão completamente a 100% fisicamente. O internacional brasileiro, ainda marcou o seu golinho da praxe, mas toda a gente já o viu fazer mais e melhor, até porque, aqueles 20 minutos na primeira parte, anteviam outro tipo de performance. Quanto a Gaitán e a Mitroglou, dá clara sensação que estão a jogar um pouco inferiorizados. Acredito, que estes 6 dias entre este jogo e o jogo de hoje tenham servido para recuperar física e mentalmente muitos dos jogadores, incluindo este grupinho. Mas, de qualquer maneira, penso que teria sido interessante o Rui Vitória ter mantido a confiança em outros jogadores que tão bem deram conta do recado frente ao Bayern de Munique, tais como: Raúl, Carcela, Salvio, Talisca e Gonçalo Guedes. Pessoalmente, acho que o Jiménez e o Carcela poderiam ter jogado de início frente ao Vitória de Setúbal... Contudo, percebo - e até aceito - a decisão do técnico encarnado.

Por fim, gostaria de salientar dois aspectos que me parecem bastante importantes. Primeiro, o facto de o Benfica ter preferido jogar na segunda-feira e não no domingo foi bastante sensato por parte da equipa de Rui Vitória. Ao fazer isso, e porque a recuperação da fadiga central não é tão linear como a periférica, fez com que os jogadores ganhassem mais um tempo para relaxarem um pouco do estresse mental que a competição acarreta, logo após uma jornada de pelo menos quase duas semanas muito intensivas. Penso mesmo, que o Benfica consegue virar o resultado e vencer este encontro frente ao Vitória de Setúbal, graças a essa gestão. E, isso é algo que não é muitas vezes valorizado, porque o adepto comum olha para os nomes Benfica e Vitória de Setúbal e pensa logo que menos de 15 é derrota. São nestes pormenores que se entende as competências das equipas técnicas. E, neste caso, parabéns Rui Vitória e sua equipa. Segundo, tendo tido tempo para recuperar bem fisica e mentalmente para o importante encontro desta noite frente ao Rio Ave, só espero uma reacção idêntica àquela que o Barcelona teve na semana passada frente ao Deportivo da Coruña, em que goleou a equipa galega com 8 golos sem resposta. Com a particularidade dos 4 golos de Luis Suarez. Aliás, seria fantástico hoje o Jonas regressar à sua melhor forma e aos golos, até porque penso que tem todas as condições para fazer um brilharete no troféu da bota de ouro desta temporada.





É muito importante para um jovem poder contar com
um treinador do nível do Guardiola, quando sai de Portugal.
Por esse motivo, caso o Sanches saia para o City, não
ficaria preocupado com a sua carreira e até penso que
seria extremamente benéfico para ele ser um dos
melhores médios do mundo, senão mesmo o melhor.
P.S. 1: Ao que parece surge agora o interesse do Manchester City em Renato Sanches, por pedido expresso de Guardiola. Para o jogador uma transferência desta ordem seria o melhor de todos os mundos para ele. Não só iria para a liga de futebol mais competitiva, como iria ser treinado por talvez o melhor treinador do mundo e aquele que mais lhe poderá ajudar a evoluir enquanto médio-centro de classe mundial. E, isto para não falar na melhoria salarial que provavelmente iria auferir e que por mais que quiséssemos não o conseguiríamos bater. Pessoalmente, como Benfiquista, ficaria triste como é óbvio. O facto de podermos efectuar a maior e mais cara transferência do futebol nacional, com os benefícios que isso nos trás a nível financeiro, e também o facto de termos vários jogadores para o meio-campo na nossa fileira, prontos para eles próprios serem valorizados e rentabilizados (por exemplo, Cristante, Talisca,...), faz-me não ser tão sentimental se tal saída acontecer. Aliás, viria-a como uma certa naturalidade e, neste caso, com alguma satisfação, pois teria confiança no sucesso do "nosso miúdo-maravilha". Dito isto, se quiserem deixá-lo mais uns tempos por aqui, seria óptimo!

É preciso ter muita calma e apoiar a equipa B e a sua
equipa técnica, neste momento. Há responsabilidades
que não são apenas deles. E, temos de entender as mais
valias de todos estes insucessos desta equipa, pois há
muitos jogadores que estão a ser obrigados a crescerem
mais rapidamente que muitos outros. E, isso irá-se notar
num futuro não muito longínquo.
P.S. 2: A equipa B acaba de empatar com a sua homóloga Vitória de Guimarães, com um golo dos vitorianos nos últimos segundos de jogo em plena Caixa Futebol Campus, no Seixal. O que não falta por aí são adeptos encarnados a quererem pedir a cabeça do Hélder Cristóvão numa bandeja. Penso que o momento, não é de todo o mais oportuno e todos nós devemos parar um pouco para pensar sobre as coisas antes de expressarmos. Conforme já tinha escrito, há nesta equipa B coisas que de facto são das responsabilidades do técnico encarnado. Mas, há muitas outras que não o são. E, depois é preciso de entender os reais objectivos da equipa B. I.e., se é para construir uma equipa que lute pela conquista da 2ª Liga (como o Porto construiu esta temporada)? Ou se é para realmente ser um laboratório e um berçário de criação de jogadores para irem alimentando a equipa principal encarnada. Parece-me claro que a aposta é esta segunda. Mas, também parece-me claro que o objectivo não seria de todo lutar pela não descida da 2ª Liga. Como tal, no final da temporada é preciso afinar as agulhas e corrigir o que não correu tão bem. Aproveito para dizer já que não sou muito a favor de se contratar treinadores muitos jovens ou com grande potencial para este tipo de projectos e o motivo é bastante simples: um treinador jovem tem uma agenda própria, que passa na sua maioria por crescer a nível profissional e poder treinar ao grande nível e por isso vai ter uma abordagem resultadista, quando na realidade, o que se pretende naquela equipa é uma combinação de formação e exigência, i.e., mentorado. Depois, estou convicto que apesar dos péssimos resultados desta temporada, há muito jogador que está a crescer enquanto futebolistas e enquanto homens, que num futuro próximo dará frutos. De qualquer maneira, este não é o momento correcto para se equacionar esses cenários. Acima de tudo o que a equipa precisa e que nós adeptos podemos dar-lhes é algo tão simples como: apoio incondicional. Força Benfica!

4 comentários:

  1. Nós vamos apoiar a equipa B, e a direcção/estrutura?
    O treinador tem que ser um formadore trabalhar em consonância com o RV.

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    1. Não vejo vantagem nenhuma de estarmos a criar pressão sobre todos eles neste momento...

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    2. Ok, durante mais três semanas, mas receio que os males da equipa B se resolvam com apoio.

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    3. Os males da equipa B resolvem-se no final da temporada. Conforme escrevi acima no artigo e também noutro artigo sobre o tema, há muitas responsabilidades a serem atribuídas entre equipa técnica da equipa B e estrutura do futebol encarnado. Há muita coisa a limar neste projecto e na visão que eles têm.

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