26 novembro 2015

Como perder 1 milhão de euros...


Há coisas que gostava que me explicassem, pois fogem a toda e qualquer lógica das práticas de um excelente gestor e é por isso que escrevo este artigo.


Tenho sido um defensor da manutenção do posto de trabalho de Rui Vitória e vou continuá-lo a ser até ao final da temporada, se até então não haver nenhuma catástrofe. Sou-o porque uma descontinuidade neste momento seria mais prejudicial que o actual caminho lento evolutivo que a equipa técnica de Rui Vitória tem feito.

Para muitos, conseguimos algo que não conseguíamos há várias temporadas. É um facto e também eu estou contente por isso. O apuramento para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões é um feito que reconheço e até elogio. Contudo, e porque sou exigente e sei das reais capacidades da equipa encarnada, penso que a performance e a forma como atingimos essa meta ficou aquém.

Em primeiro lugar, perdemos 1 M€ neste encontro no Cazaquistão. Trata-se de um encontro entre uma das equipas mais fortes do grupo, o Benfica com a mais fraca, o Astana. Segundo, porque a equipa encarnada já estava de sobreaviso depois dos jogos no Cazaquistão feitos pelo Galatasaray e pelo Atlético de Madrid. Ou seja, o factor surpresa dos cazares já nem deveria surtir efeito. Sendo assim, era obrigação e objectivo real o Benfica chegar lá, vencer e trazer os cerca de 1.5M€ de prémio, ao invés de trazer apenas 500k€. Ou seja, só conseguiu 1/3 do montante em cima da mesa. Para colocar em perspectiva para o Rui Vitória e também para os adeptos encarnados, só esse prémio de jogo dava para pagar o vencimento líquido anual do Nico Gaitán.

Para piorar as coisas, é olharmos para o jogo e perceber como o Benfica não jogou! E, não venham-me com desculpas de campo sintético e cenas do género. Quando se é melhor tecnicamente, é-o em qualquer condições, caso contrário, então não são os melhores tecnicamente, ponto. Sendo assim as diferenças técnicas mantém-se e não se aproximam, conforme muitos "especialistas-que-não-percebem-nada" tentam passar como possíveis desculpas. O frio... bem o frio nem sequer pode ser equacionado porque o estádio do Astana é ultra-moderno e ficou coberto à altura do jogo exactamente para que a temperatura em campo não fosse tão baixa. O que querem mais? Uns jacuzzis junto das bandeirinhas de canto com umas meninas a servirem uns Martinis em vez dos apanha-bolas?

Estou convencido que o Benfica perdeu o jogo no momento em que Rui Vitória decidiu-se pelo onze que entrou em campo. Não estão convencidos? Uma das críticas que todos nós adeptos apontamos ao Benfica durante o jogo foi a seguinte: "Como é possível estes tipos não saberem jogar à bola?" A resposta não está no frio, nem no relvado sintético. Está sim no onze encarnado. Quantos jogadores do onze titular é que trabalharam durante as duas últimas semanas com o Rui Vitória? Pois bem, vou contar os jogadores para o leitor perceber: dos 11 em campo, apenas Júlio César, Sílvio, Lisandro, Jardel e Pizzi trabalharam diariamente com o Rui Vitória nas últimas duas semanas. O Jonas também esteve, mas no departamento clínico a recuperar de uma lesão, daí não ter contabilizado o brasileiro. Estes jogadores representam menos de 50% da equipa. Todos os outros estiveram nas suas selecções.

O mais curioso é entender que mesmo os que estiveram em selecções são jogadores que tirando o Eliseu e o Samaris, são jogadores ou inexperientes (Gonçalo Guedes), ou em adaptação (Raúl Jiménez), ou em recuperação (Jonas), ou da formação (Renato Sanches). Mais curioso ainda é ver que no banco estavam Talisca, André Almeida, Cristante, Carcela, Mitroglou, Nuno Santos e ainda Ederson. Todos eles internacionais também, sendo que os 3 últimos não estiveram nestas duas últimas semanas com o Rui Vitória. Volto a perguntar, como é que a equipa técnica pensava que poderia ir ao Cazaquistão ganhar um jogo de Liga dos Campeões desta maneira? Já frente ao Vianense foi o que foi e estamos a falar de uma equipa do campeonato nacional de séniores. Frente ao Astana estavam a pensar que seria mais fácil?

Ou será que pensaram que apenas o nosso maior talento serve para ganhar os jogos? Ou será que desprezaram por completo o Astana? Ou pior, será que a equipa técnica não acredita no seu método de treino? Bem... qualquer que seja o motivo, foi errado e o resultado põe a nu tudo isso. E isto deixa-me apreensivo. Uma coisa é o treinador e a sua equipa técnica estar a desenvolver um modelo de jogo e este estar com as dificuldades de crescimento normais. Outra coisa é confundir isso com a anarquia de ideias que parece existir. Por exemplo, o André Almeida há umas 3 semanas era o médio ideal para jogar ao lado do Samaris, e agora nem vê-lo! Mas, esta equipa técnica conhece realmente as características dos seus jogadores, ou está a experimentá-los para vê-los e depois emitir uma opinião? Como se dá continuidade e estabilidade numa situação destas?!

Outro exemplo, pelo que vimos frente ao Sporting, durante as duas ultimas semanas, e porque o Benfica não tinha os seus pontas-de-lança para trabalhar a tempo inteiro, foi trabalhado o 4-2-3-1 e todos os sub-princípios ligados aos equilíbrios que esse esquema necessita. Ora ontem vimos o regresso do 4-4-2. E na próxima segunda, deverá voltar ao 4-2-3-1, dada a complexidade do jogo. Não teria sido melhor ter dado continuidade ao 4-2-3-1 pelo menos no início do jogo frente ao Astana? A lógica de que é no treino que se prepara os jogos diz que sim, mas pelos vistos haverá outras lógicas que farão mais sentido. Eu até estou disposto a debatê-las, mas é preciso que me indiquem os motivos, pois todos aqueles que possa imaginar, não são suficientemente fortes para tal. Por isso pergunto: podes explicar-me estas decisões Vitória?

Por fim, se a desculpa for a de "estamos a apostar em jovens", então eu digo categoricamente que assim não vão apostar. Vão sim lançar os jovens sem qualquer enquadramento e equilíbrio. E, com isso transformar um jovem cheio de potencial em um projecto fracassado. Não é assim que se constrói uma equipa vencedora e penso que não é assim que o projecto encarnado possa realmente caminhar a passos largos para o sucesso. O problema não está nas ideias do projecto, mas sim em quem realmente possa levá-lo a cabo. E, nesse contexto, até ao momento a avaliação da equipa de Rui Vitória tem deixado muito a desejar.

Termino como comecei, o Rui Vitória e a sua equipa terão sempre o meu apoio enquanto estiverem no Benfica. Isso não significa que não faça as críticas que achar necessárias. Mas, se no final desta temporada as coisas não passarem disto, eu penso que devem ser equacionados outros cenários. Tão simples como isto. Cabe a Rui Vitória e à sua equipa justificarem a aposta neles e de forma mais convincente.

Banco de suplentes do Benfica para este encontro: praticamente todos os jogadores que
estiveram a trabalhar diariamente nos treinos, nas últimas duas semanas e meia. Como é
possível que Carcela não tenha sido titular no Cazaquistão?

10 comentários:

  1. «caminho lento evolutivo» -> Explica onde está a lenta evolução. Só se estiveres a confundir evolução com regressão. Cuidado que o facto de as coisas mudarem não quer dizer que se estejam a adaptar melhor.

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    1. Caro Anónimo, o "caminho lento evolutivo" é o caminho onde numa primeira fase o treinador ainda está a "apalpar" o terreno e conhecer os seus jogadores e aquilo que podem fazer. Depois, numa segunda fase começa a construir.

      A verdade é que se todos os treinadores tiverem todo o tempo do mundo irão conseguir em teoria bons resultados. O problema é que isso requer tempo. Os melhores dos melhores se calhar requerem um mês para colocar a equipa a jogar como eles querem. Outros precisam de um trimestres. Outros ainda precisam de um semestre, depois há quem precise um ou mais anos e mesmo assim ainda são capazes de desculparem-se com situações adversas.

      O meu receio é que o RV se enquadre realmente naquilo que uma boa parte dos adeptos encarnados apregoam. E a continuar a tomar decisões como estas, não vejo como ele poderá demarcar-se dessa opinião pública.

      RV tem de fazer uma introspecção sobre a forma como está a trabalhar.

      Relativamente ao jogo é injustificável como o RV não utiliza o Carcela. Um jogador que já tinha dado boas indicações na pré-época, inclusive até em termos de equilíbrios defensivos. Trata-se de um jogador internacional com experiência de grandes campeonatos e com idade certa para render o máximo a nível desportivo. Outro ainda é o Taarabt... e continuamos a não ver uma aposta nestes jogadores... que até tiveram as últimas semanas a trabalhar constantemente na Luz.

      O que isso transmite aos jogadores?

      O melhor mesmo é «no coments!»

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    2. Obviamente, só quem não anda por lá não corre o risco de ganhar. Será fácil imaginar que nos próximos 10 campeonatos o RV, ficando, ganha um pelo menos. Quando perguntei o caminho lento evolutivo eu queria era saber quais os sinais concretos de haver uma evolução no SLB, para me dar conforto nas derrotas... Porque perder e jogar bem, fico lixado, mas não me tira o ânimo para o jogo seguinte.

      RV é aquilo que a maioria dos adeptos já viu. Um treinador para equipas que lutam por não descer e que podem fazer um brilharete aqui e ali. Não é treinador de Benfica.

      O Carcela... Ainda não vi nada no Carcela que me diga «sim senhor está ali craque». É um tipo egoísta, sem noção de colectivo, uma espécie de Talisca que sabe driblar. De resto em posição frontal, é taliscada certa (remate) - veja-se no golo dele no último jogo na Luz como aparece à frente de um colega na ânsia de marcar. Não quer dizer que não se faça, mas já não é bem uma jovem promessa, e esses «grandes» campeonatos (belga e russo) não sei se são grandes tipo Benfica Big!

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    3. O caminho lento evolutivo vês nas constantes mudanças de ideias. Por exemplo, num jogo estás a jogar com dois avançados declarados, noutro apenas com um. Outro exemplo, num mês apostas numa dupla de meio-campo formada por André Almeida e Samaris e noutro já aposta no Talisca com o grego, passando o Almeida para terceira ou quarta opção conforme ficamos com a clara sensação depois do jogo frente ao Astana.

      RV e a sua equipa técnica andam claramente aos alpalpões ao grupo de trabalho. Sinceramente, agora é que estão a conhecer os jogadores.

      Vou dar um exemplo do que é evoluir de forma sustentável: o caso do Bayern Munique. No início da temporada perdeu a Supertaça para o Wolfsburgo e ainda teve um ou outro mau resultado. Mas, o Guardiola continuou a acreditar nas suas ideias, nos seus princípios de jogo e no seu trabalho de treino, até que os jogadores foram cada vez mais assimilando todo esse conhecimento até estarem a competir ao nível que vemos actualmente.

      Sobre o Carcela, continuarás a ver um Carcela mais egoista enquanto ele só tiver 15 minutos de jogo de dois em dois jogos. E porquê? Porque, tal como outro qualquer jogador que se vê no desespero de ganhar a titularidade, vai querer mostrar serviço... e a jogar lá no ataque... é óbvio que ele vai arriscar mais e mais nas jogadas individuais. Até porque, pelo que vejo não há trabalho específico para estes jogadores...

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  2. Provavelmente estarei errado mas o Carcela , apesar de todas as vezes que entrou ter mostrado alguns bons pormenores e ter feito alguns golos, não me entusiasma minimamente. Tem tiques de vedeta, jeitoso com a bola nos pés mas , na minha opinião, pouco dado a "sujar os calções".
    Do falhanço do Tarabaat, que conheço melhor, é que tenho pena....jogador com potencialidades acima da média mas infelizmente o carácter é o que é.....

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    1. Poderia concordar contigo se tivesses a falar do Taarabt, mas do que temos visto do Carcela, desde os jogos da pré-época, ele é o tipo de extremo que realmente ajuda o lateral do seu flanco.

      Quanto ao Taarabt, este precisa é de jogar para se focar no jogo. Não se pode ser assim tão implacável com os jogadores. Quanto mais isto se arrastar, mais vamos perder o Taarabt, até que ele vai pedir para sair. O pior é que ele pode oferecer muita coisa à equipa a começar com maior capacidade de reter a posse de bola. Algo que nos faz muita falta no meio-campo e no último terço do terreno.

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    2. Mas como ser implacável com o Taraabt? Ele até agora ainda nem jogou 90 minutos tudo somado!...

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    3. Exactamente por não lhe terem dado minutos é que estão a ser implacáveis com o marroquino. Está na hora de dar-lhe um mimo, para ver se ele se aproxima. É um desperdício não o utilizarem. Nem digo para titular, mas para ir fazendo minutos nas segundas partes, acho que deveria ser utilizado.

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  3. Não digo que não concorde com muito do que aqui se escreve, mas... vou dizer aquilo que sempre disse quando havia as mesmas críticas a Jorge Jesus: Rui Vitória é o treinador, ele é que está com os atletas durante a semana, ele é que sabe!

    Esta coisa dos adeptos perguntarem pelos jogadores é giro entre os amigos mas acaba por ser redundante. Se tivéssemos acesso aos mesmos dados que o treinador, então ok, podíamos questionar muita coisa. Agora, sentados atrás de um computador, ou no sofá, ou no estádio a ver os jogos temos condições para concluir com toda a certeza que as opções tomadas pela equipa técnica estão erradas?

    Também tenho gostado do Carcela quando entra. Será que ele renderá o mesmo como titular? Será que o comportamento dele nos treinos não será o melhor e por isso não lhe é dado o «prémio» de ser titular? Será…? E é isto. Nós só sabemos aquilo que vemos e mesmo assim é apenas a nossa interpretação.

    Pareceu-me que o segundo golo do Astana é ilegal (fora-de-jogo). Concordam?

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    1. Eu não estou apenas a perguntar pelos jogadores! Eu estou sim é a perguntar quais são os critérios de trabalho do RV!

      Durante 2 semanas ele esteve a treinar quem? E, o quê? Parece-me que não dá continuidade ao trabalho semanal com os jogadores. Por isso é normal a qualidade de jogo que nos tem presenteado. Não há milagres.

      O que ele vê nos treinos até pode ser uma visão já completamente formatada. Por exemplo, sabe que o Taarabt é um "bon vivant" e portanto, já nem olha para ele como hipótese. Mas, nem é preciso ir ao marroquino. Como explicas que durante o mês de Outubro ele aposta no André Almeida para médio-centro e depois em Talisca, e agora quando resolve descansar o baiano, não aposta no Almeida, quando sabemos que o sector intermédio encarnado carece imenso de entrosamento e dinâmica?

      Vai apostar no Renato Sanches a titular... que mensagem está a dar aos outros jogadores do plantel? E o João Teixeira que está com o grupo desde o primeiro instante e que esteve com o plantel ao longo das últimas semanas das selecções? Nem uma oportunidade?

      O Carcela até poderia ter rendido o mesmo que o Lisandro rendeu ontem. Ou seja, até poderia ter jogado mais ou menos. Eu como treinador iria entender isso e sabes porquê? Porque o tipo não tem ritmo de jogo e porque nem sequer tem havido alguma regularidade em jogar vindo do banco. Assim não dá para ganhar ritmo e assim ele vai perder os jogadores, mais tarde ou mais cedo.

      Tenho defendido o RV desde o início da temporada. Basta olhares para os meus artigos, mas começa a ser exasperante, sobretudo quando não vês uma lógica de trabalho como base para formar a equipa.

      Neste jogo com o Astana, o Jonas jamais deveria ser titular, pelo menos comigo. O jogador regressa de lesão, a equipa durante as últimas semanas trabalhou apenas com um ou nenhum avançado (Jiménez e Mitroglou estavam nas selecções e o Jonas se lesionou entretanto) e o RV coloca-o a jogar num jogo importante e tão distante (sem o mesmo tempo para preparar o jogo se este fosse na Luz)?

      O sucesso está nestes pormenores e não apenas e exclusivamente na qualidade dos jogadores. O Jonas é o nosso melhor avançado, mas apenas o é se estiver devidamente bem entrosado e trabalhado com os princípios de jogo do resto da equipa. O mesmo com o Renato Sanches. O mesmo com o todos eles!

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