Enganem-se os que se queixam da falta de sorte, das bolas ao poste, enganem-se os que confundem passes laterais com domínio avassalador sobre o adversário... a verdade é que esta selecção nacional está a jogar pouco para aquilo que pode e deve. Porquê estamos a jogar assim? Vejo a responsabilidade em três rostos: Raul Meireles, Nani e, pois está claro, Paulo Bento.
Para quando uma selecção capaz de explorar o potencial de Cristiano Ronaldo? |
Esta dupla jornada, deu para confirmar duas coisas que já me tinham ficado na mente no último europeu:
- Falta alguém mais criativo no nosso meio-campo, para a posição de um dos dois médios de transição que jogam na equipa, Moutinho ou Meireles.
- Um dos extremos tem de ser mais criativo e que possa jogar mais para os outros dois avançados que jogam na equipa. Neste particular, denoto que a produção nestas funções do Nani tem muito a desejar, e não é à toa que tenha perdido a titularidade em Manchester.
- Estas mudanças, reflectem também uma mudança, melhor, uma maior versatilidade no estilo de jogo. A intenção é termos um jogo mais dominador, sabendo jogar com mais posse de bola e as vicissitudes que resultam desse tipo de jogo. Mas, espreitando sempre as transacções rápidas, a.k.a., os contra-ataques.
Não falta um médio mais criativo a meio-campo?
Rúben Micael, talvez o único médio ofensivo "10" no banco nacional, que poderia ter sido titular nesta dupla jornada e que tem estado em foco neste início de temporada. |
No meio-campo, Miguel Veloso, até tem jogado bem, embora penso que poderá dar um pouco mais se tiver à sua frente outro tipo de jogadores, que lhe permitam subir um pouco mais ou utilizar outro tipo de recursos técnicos. Por seu turno, João Moutinho, é uma pequena formiga naquele meio-campo e com o seu enorme pulmão e mobilidade, acaba por ser actualmente o elemento que mais intensidade aplica no meio-campo nacional. Sobra-nos Raul Meireles. Outrora um "8" e algumas vezes um "6", tem-lhe sido reconhecido algumas capacidades de "10", nesta sua passagem por terras de sua majestade. Talvez por isso, parte do jogo criativo nacional esteja a passar pelos seus pés.
Ora, durante o europeu, com um grupo de "morte", e logo de seguida jogos que eram autênticas finais, até fazia sentido, reforçar o meio-campo com um elemento, digamos polivalente, como o Raul Meireles, pois a equipa jogaria em contra-ataque, não necessitando de um criativo "10" mais tradicional. Acontece, que o europeu já lá vai, e o tipo de adversários que vamos encontrar nesta qualificação são regra geral inferiores a Portugal. Sendo assim, acho que faria muito mais sentido um médio criativo na sua verdadeira assumpção. E temos! É verdade que Carlos Martins está lesionado, e o Danny vem de uma lesão prolongada, mas temos um Ruben Micael em grande forma, um Hugo Viana a carregar piano na cidade dos arcebispos e até mesmo um Manuel Fernandes em terras turcas. E isto para não falar no reposicionamento de Nani em campo, como um "10" atrás do ponta-de-lança...
Varela a titular?
Será o passar de testemunho do Nani para o Varela, ou os dois podem coabitar no mesmo onze nacional? |
Por falar em Nani, tem sido um ano para esquecer para o português. Reconheço-lhe imenso talento, mas também reconheço-lhe uma enorme falta de aproveitamento do mesmo. Portugal, como já tinha referido no ponto 2 acima, precisa que um dos extremos seja um criativo, que provoque desequilíbrios defensivos no adversário, que seja um assistente para os restantes colegas que compõem o trio da frente. Mas, também precisa que esse extremo seja o elo de ligação entre o meio-campo e o ataque. Nani, não tem sido esse jogador, e só mesmo a espaços lá vemos uns fogachos do seu talento. Não é à toa que nestes dois jogos, quando um jogador como o Varela, que tem as características que referi, mexe no jogo como mexeu nestes dois encontros. Aliás, Varela é a meu ver, neste momento, o titular na posição do Nani. E, só não o é de facto, por causa do estatuto de um e de outro no grupo.
Já agora, penso que mais jogadores nacionais, poderiam ser bem enquadrados naquela função do Nani, tais como, Pizzi, que está a fazer um grande começo de época no Deportivo da Corunha, Hélder Barbosa, porque é um canhoto que gosta de jogar sobre a ala direita e que poderá dar outro tipo de movimentos ao triângulo da frente.
Para quando um Portugal que saiba jogar frente a equipas fechadas?
Para quando uma exibição convincente da selecção nacional, Paulo Bento? |
No entanto, quem os põe a jogar é Paulo Bento. Porque o faz? Eu penso que se prende com o tentar manter a mesma estrutura, rotinas e grupo do europeu de 2012. No entanto, tendo-nos calhado logo nesta primeira dupla jornada, estas duas equipas mais frágeis, mais a boa forma de jogadores como o Rúben Micael, o Varela e até mesmo o Pizzi, e o possível reposicionamento de Nani como um "10" atrás do avançado, com o intuito de trazer-lo mais para o jogo, poderiam ter sido razões mais do que suficientes para o Paulo Bento ter arriscado logo de início em estruturas novas. Estruturas que permitissem a Portugal jogar um futebol mais apoiado e dominante.
Verdade seja dita, que ele ainda experimentou durante alguns minutos em ambos os jogos o aparecimento de Nani como "10". Contudo, a dinâmica do jogo há muito já estava alterada, dado também a parte mental dos jogadores, que frente ao Luxemburgo e ao Azerbeijão, pelo minuto 60 já começavam a ver as coisas mal paradas, pelo que uma avaliação coerente dessa situação de jogo carece de mais observações.
Notar que não se pede aqui alterações de fundo a nível táctico. Pede-se sim, para colocar os jogadores certos nas posições certas, e pode-se pedir um plano B, que poderá passar do tradicional 4-3-3 para um 4-2-3-1.
Postiga tem sido dos melhores jogadores da selecção nacional. |
PS: Apesar de não gostar de algumas coisas nesta selecção existem pelo menos três jogadores que me têm encantado: Pepe, João Pereira e Hélder Postiga (quem diria). Pepe é talvez o melhor central do mundo neste momento. É completamente imperial lá atrás. João Pereira está numa forma excelente. Basicamente é ele o nosso extremo direito, pois Nani tem a tendência para ir para o centro. Mas, de todos eles, é o Hélder Postiga quem está a surpreender pela positiva com todo o seu trabalho de pressão, recuo e porque não dizê-lo, golos.
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