04 setembro 2012

Gestão desportiva


Qual é afinal o objectivo do Benfica enquanto clube e empresa associada ao mundo desportivo?
Esta e outras questões serão debatidas neste artigo, assim como várias outras características do actual modelo de gestão desportiva dos encarnados.


Tendo em conta os resultados desportivos, a gestão desportiva encarnada não poderia deixar de ser insuficiente, para um clube com o grau de exigência e valores que sócios e adeptos tanto presam. Podemos ser dos clubes nacionais que mais dinheiro faz época após época em transacções de jogadores, mas será isso o que podemos denominar de "excelente gestão desportiva"? E, já agora, mesmo que para alguns essa seja a definição correcta, i.e., uma boa gestão desportiva significa vender bem os seus activos, valorizando-os de forma quase exponencial, porque é que o clube continua com as suas contas tão apertadas?

Pois é... lá na volta, tanto de um modo de ver como do outro, a gestão desportiva encarnada está a falhar... pelo menos, está para quem um clube de futebol como o Benfica mais sentido faz nas suas vidas: os seus sócios e adeptos!

Confesso, que do ponto de vista de um empresário de futebol, de um director desportivo com uma ética mais bífida, de alguns agentes desportivos (patrocinadores, interesses corporativos,...) e da banca, o negócio vai de vento e poupa. Porquê? Porque outrora agentes externos e com pouca voz na tomada de decisão, são hoje estes quem decidem "directa" e indirectamente através de condicionalismos os destinos do Benfica.

Mas, mesmo assim, tudo isto poderia ser evitado se os nossos dirigentes desportivos tivessem outro tipo de comportamento. No parágrafo anterior, quando escrevo "directa", é porque esses agentes externos têm a bênção dos nossos dirigentes. Só assim se explica tanta actividade e pouca produtividade.

Aliás, numa altura que todo o país definha numa crise profunda, que o outrora homem mais rico do país, vê a sua fortuna diminuir dada esta conjectura económica, e quando olhamos para cada um dos nossos dirigentes do clube, verificamos duas realidades completamente distintas! Como é possível tornar-se rico num clube que pouco ganha desportivamente e que tem de pedir à banca para investir?

A actual gestão desportiva rege-se apenas por uma questão: qual o acto de gestão que permita maior lucro imediato para "mim" e para os "meus" mais próximos e que numa segunda condição não necessária possa beneficiar o Benfica enquanto clube? Onde o "mim" tem haver com quem tem o poder de gerir, e os "meus" todos aqueles que lhe são próximos e que um dever de servir é-lhe exigido.

Os seguintes casos são os mais recentes erros de gestão desportiva básica cometidos neste início de época de 2012-2013:

Vender o Javi Garcia por menos 33%
do preço da sua cláusula de rescisão
e depois vender o seu colega titular,
o belga Witsel, não é um acto muito
inteligente de um clube que luta para
ser campeão nacional.
1 - Vendas de Javi Garcia e de Witsel, é verdade que temos contas para pagar e como tal tenhamos de fazer uma ou duas vendas mais chorudas quase todos os anos. Contudo, o que se critica aqui não são só os "timings" das vendas, como também nos jogadores vendidos. Não é possível remeter uma candidatura séria ao título, quando se vende já com a 1ª Liga em andamento e com pouco ou nenhum tempo para contratar ou adaptar outro jogador para as suas posições e o nosso principal rival mantém praticamente a mesma estrutura nuclear da época passada. No entanto, os "amiguinhos" de negócios da direcção devem ter esfregado as mãos de contente, é que sempre fizeram algum...

Entender o porquê gastar-se cerca de
€9M num miúdo de 19 anos, quando
se tem nos seus quadros tantos
extremos de qualidade, é algo que
muita gente questiona, sobretudo,
quando tal quantia poderia ter sido
usada para a aquisição de um lateral
esquerdo de renome tão pretendido.
2 - Contratações de Ola John e de Salvio, por valores elevados, sobretudo o do jovem holandês que custou qualquer coisa como €8-9M, quando na época passada Nolito e Bruno César mereceram rasgados elogios de todos a jogarem como extremos? Quando o Nico pode e deve valorizar muito mais e que cedo se percebeu que não seria uma boa altura para sair dada a sua pouca valorização? Quando temos jovens jogadores como Urreta (quando é que vai ter a sua real oportunidade?), o Melgarejo (que acabou por ter que ser lateral esquerdo para permanecer no plantel encarnado), para não falar nos jovens craques da equipa B como o Ivan Cavaleiro, e até mesmo o versátil Miguel Rosa? Gastou-se qualquer coisa como €20M em posições já cobertas... Espero que o "amigo" Cerezo tenha ficado contente com mais um negócio com o Benfica... o mesmo para o grupo de empresários que quererão num espaço máximo de 2 anos meter o Ola noutro clube de top europeu... sim porque o Benfica é só uma passagem, conforme podemos verificar pelas últimas vendas.

Para quê contratar o Lima,
quando temos um Jara, um
Mora ou um Nélson Oliveira?
3 - Contratar o Lima ao Sporting de Braga ao "amigo" Salvador, por €4.5M um jogador que estava em final de contrato e que em Janeiro poderia assinar a custo zero, quando para mais se tem Franco Jara, Rodrigo Mora e ainda o titular da selecção nacional Nélson Oliveira, é no mínimo muito pouco claro e revelador do que escrevi nos primeiros parágrafos deste artigo de opinião.

Nuno Coelho poderia muito bem
fazer parte do actual plantel,
sobretudo, quando já se sabia dos
interesses em Javi e Witsel.
4 - Aquisições e consequentes empréstimos de Airton, Nuno Coelho, Rodrigo Mora, Franco Jara e Nélson Oliveira, jogadores que se verificaram que poderiam ter sido úteis se tivessem ficado. É muito pouco claro e a meu ver é revelador da má gestão desportiva que temos. No entanto, com novas aquisições, muita gente fica a ganhar...

Se o Luisinho não convence e é
substituto de uma adaptação, que
era seu colega de equipa na época
passada, então porque é que não se
apostou num Carole, num Shaffer ou
num Luís Martins? Isto claro,
que não queriam gastar muito
dinheiro no reforço da lateral
esquerda...
5 - Resolver o problema do lateral esquerdo, com Luisinho e o adaptado Melgarejo e depois dar a entender que o Benfica tem de ir ao mercado buscar um lateral esquerdo com mais credenciais, é revelador da forma leviana com que tratam a nossa gestão desportiva. Será que não convinha contratar alguém que anulasse o jogador mais valioso do adversário, para não estragar outras "amizades"? Será que assim, fica desde já a manta destapada para termos que ir ao mercado de inverno contratar mais alguém para o efeito? Será que para ter este nível de qualidade, o Carole, o Shaffer e o Luis Martins não poderiam desenrascar sem ter que custar um cêntimo em contratações ou em adaptações?

Leo Kanu é o exemplo claro de como
é possível ser-se jogador do Benfica
sem nunca vestir a camisola do clube
e aparentemente estar tudo bem, sem
que ninguém critique nada.
6 - Para que nos serve ter tantos jogadores emprestados, como o Sidnei, o Felipe Menezes, o Airton, o Leo Kanu, Shaffer, Fernandez entre outros, muitos deles sem qualidade para jogarem no Benfica e muitos deles sem nunca jogarem com a nossa camisola?  Porquê contratar mais estrangeiros para a equipa B, quando esta deveria ser constituída maioritariamente por jogadores da formação e por uns quantos jovens valores internacionais? Será para ficar nas graças dos empresários? Será que um clube como o Benfica precisa de fazer isso?

Torna-se cada vez mais difícil para
a SAD encarnada esconder a jóia
que é este Miguel Rosa. Para quando
a sua aposta na equipa A?
7 - A vinda do Lima e o empréstimo do Nélson Oliveira é também revelador da forma como tratamos os nossos jogadores da cantera... Quando é que jovens talentosos como Nélson Oliveira, David Simão, Miguel Rosa, entre outros, irão ter as suas reais oportunidades no projecto do Benfica? Será que vamos continuar a contratar jogadores de qualidade dúvida ao invés de irmos apostando nestes jovens valores?


Será que os nossos dirigentes estão a interpretar de forma errada o lema da nossa equipa "E Pluribus Unum" que significa literalmente "De todos, um"? É que podem pensar é um direito deles ficar com tudo o que os benfiquistas dão para o Benfica...

Uma coisa é certa, o Benfica com uma gestão desportiva mais cuidada e virada para o clube poderia ser um caso sério de sucesso a nível nacional e internacional. E é isto, enquanto benfiquista que mais me entristece no meio disto tudo. Nem mesmo se tivéssemos o proveito desportivo que outros têm ficaria completamente satisfeito, pois os nossos valores são também o nosso património.


PS: Porque é que o Urreta não está pelo menos na equipa B? E quem é Deyverson, a mais recente contratação da equipa B?

2 comentários:

  1. Maravilha de texto... certíssimo... tal como os textos de Socrates sobre Santana Lopes... de Passos Coelho sobre Socrates e de toda a gente sobre Vale e Azevedo... Gerir... gerir é que é difícil...

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    1. Porque carga de água é que tem de ser difícil gerir um clube da dimensão do Benfica?

      O que eu acho é que é muito mais difícil gerir todo aquele conjunto de interesses próprios que propriamente gerir o clube "by the book".

      Há demasiados gastos supérfluos e demasiadas más decisões para apenas classificarmos de incompetentes.

      Eu acredito é que eles são muito competentes a desviar o "seu".

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