23 novembro 2018

Os problemas persistem...


... as opções dos adeptos encarnados e críticos diversos.

O Rui Vitória colocou em campo uma equipa há muito reivindicada por muitos dos adeptos mais críticos. Em primeiro lugar, jogou com dois avançados, apostando no regresso do 4-4-2, que tantos êxitos trouxe ao encarnados. Em segundo lugar, deixou o André Almeida aquecer o banco e apostou finalmente no Corchia, como muitos há muito exigiam. Mas, não ficou só por aí. Apostou em Zivkovic no lugar que ele mais gosta, como falso extremo direito, para que não houvesse mais desculpas para o jovem sérvio poder render, aproveitando a lesão de Salvio que assim não pode usufruir do seu habitual redpass relvado. E, ainda arriscou na presença de Krovinovic, para dar aquele toque de magia que o meio-campo precisa, deixando de fora o, por muitos odiado, Pizzi. Com tantos craques e sem os pernetas de costume, agora sim, o pistoleiro Jonas teria a companhia e o plano de jogo necessário para poder mandar chumbo na baliza do Arouca.


Nada de mais errado! Se este jogo prova algo, é que os problemas da equipa encarnada não se resolvem com a substituição de jogador A, B ou C, por D, E ou F. Percebo que para um adepto leigo, seja essa a forma de ver o jogo, mas está muito longe disso. E, à medida que o futebol evolui - pois estamos hoje, numa era em que a modalidade está muito desenvolvida, tanto ao nível do treino, da recuperação física, da medicina, etc - mais complexo se torna as análises. Há muito que o talento e a capacidade física por si só ganham jogos. Em alta competição, a diferença está sobretudo na assimilação dos processos e das ideias de jogo. Isso demora o seu tempo! Por isso mesmo, é que entram 11 e saem 11, e os problemas parecem persistir.

Reparem no posicionamento do Krovinovic no lance que deu origem ao golo do Arouca (e que golo!) Qual era a linha de passe que ele queria fechar? E a linha defensiva encarnada que deixa o ponta-de-lança do Arouca descer entrelinhas sem acompanhamento? Mas, estamos a falar de uma linha defensiva que jogou pela primeira vez junta num jogo oficial e de um Krovinovic recém-recuperado para a competição a jogar numa linha de meio-campo também inédita. É normal que hajam erros. Mas, ninguém fala que durante 20 minutos estes jogadores não deixaram o Arouca passar do meio-campo...


O Benfica tem problemas no seu jogo, mas são problemas comuns de uma grande equipa europeia que está a passar por um processo de reconstrução do plantel, apostando numa política desportiva inovadora e de risco, e a competir com um calendário com elevada densidade. Temos um plantel cujos jogadores mais jovens são aqueles que mais anos levam de águia ao peito (isto depois da retirada de Luisão). Nem Salvio, nem André Almeida, nem Jardel, nem Fejsa, nem Samaris, nem Pizzi, para nomear os mais veteranos da equipa A, têm tanto tempo de clube como muitos dos miúdos que vão aparecendo. Depois, temos de entender que nos últimos anos, têm saído da equipa principal os jovens jogadores que poderiam assegurar e acrescentar a consolidação do modelo de jogo. Na primeira época saiu Renato e Guedes. Na segunda saíram Semedo e Lindelöf. Entretanto, penduram as botas o Júlio César e Luisão. Depois, jogadores de enorme talento e qualidade que chegam e vão para o banco num ano, no ano seguinte acabam por sair. Falo de jogadores como Jovic e Talisca, mas poderia falar de muitos mais. Ou seja, de ano para ano, parece que não há muitas mudanças relativamente ao onze titular, mas há ao nível do plantel.

Mesmo com problemas, não podemos dizer que o Benfica de Rui Vitória é uma equipa sem ideias e modelo de jogo. Dúvidas? Então vejam a jogada que deu origem ao golo do Rafa. Reparem como o Zivkovic jogando como lateral esquerdo ofensivo numa situação de ataque continuado, acaba por ser o mesmo que um extremo esquerdo. Reparem também na movimentação de qualidade do menino João Félix que liberta espaço na ala esquerda e vai para o centro do ataque, criando espaço para o Seferovic atacar e procurar o cruzamento. Simples e eficaz é esse o caminho.

Isto significa que todos os anos o Rui Vitória tem que reconstruir, não tanto do zero, mas quase do zero. E, se adicionarmos a isso as lesões, percebemos a dificuldade que é em consolidar processos de jogo. Ele, não se queixa, e nem tem que se queixar, porque o trabalho dele é exactamente esse. Agora, nós adeptos, temos que começar a olhar para o que se passa com a equipa deste prisma mais complexo. Eu sei que pensar incomoda como andar à chuva (já dizia o Alberto Caeiro - heterónimo de Fernando Pessoa), mas para evitar deitar tudo a perder, é importante começarmos a pensar um pouco mais de forma global.



Reparem, que o Benfica joga frente ao Arouca numa 4ª feira após uma semana em que a maioria dos seus jogadores esteve ao serviço das respectivas selecções nacionais. Os últimos encontros das selecções foram disputados na noite de 2ª feira na europa e na madrugada de 3ª feira para os jogadores sul americanos. Optou-se por realizar o jogo logo na 4ª feira, para depois poder-se descansar e preparar de forma mais detalhada o importante encontro em Munique na próxima semana para a Champions. Penso que fizeram bem, pois apesar da exibição cinzenta, o resultado foi positivo. E, não esquecer que o Benfica conseguiu uma remontada num jogo, o que também diz muito da força anímica como os jogadores estão.



14 comentários:

  1. É tudo muito bonito! Mas ... o futebol continua a não convencer. E, se os jogos são o reflexo dos treinos, então estamos perante uma equipa técnica que deixa muito, mas muito, a desejar. E como contra factos não há argumentos, mais grave do que a equipa de futebol do Benfica não apresentar um futebol digno do clube, são as opções e atitudes de quem gere o clube, que desportivamente falando, dá a entender, até ao mais leigo em futebol, que não há ninguém na "magnifica estrutura" que perceba um "boi" de futebol e isso é que é realmente grave.

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    1. Neste jogo, acredito que o treino tenha sido pontual. Repara que o Rúben Dias, o Zivkovic e o Seferovic jogaram na 2ª feira. Chegaram 3ª feira e jogaram novamente na 4ª feira. Optou-se por esta gestão para depois preparar e bem o ciclo a começar com o Bayern Munique, no qual será muito importante para nós em termos de Champions e Europa. Como tal, é normal o fio de jogo frente ao Arouca. Até penso que poderia ter sido pior.

      O Krovinovic por exemplo, veio com fome de bola, mas estava claramente mais lento que todos os outros. Foi bom ter feito 45 minutos de jogo e ter estado em campo pelo menos até ao empate.

      O trabalho de treino está a ser feito. Agora, não se pode exigir que o Gedson tenha a mesma percepção espaço-tempo que o Xavi tinha, porque para lá chegar, não é apenas a treinar. É preciso jogar e jogar ao mais alto nível.

      As críticas que o Vitória está a ser sujeito são do mesmo tipo que ele sofreu no primeiro ano de águia ao peito. Portanto, era bom alguns adeptos desenvolverem um pouco mais de paciência.

      O momento para discutir continuidade ou não do treinador é só um: no defeso de verão.

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  2. Claro... O Zivkovic está com um ritmo de jogo brutal, o Alfa Semedo também, o Corchia tem sido uma opção constante, o Krovinovic desde que regressou de lesão não tem feito outra coisa senão jogar... enfim tudo serve para se tentar desculpar a incapacidade da equipa técnica.

    Tozé

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    1. Não querem entender e pior, vocês estão mesmo convencidos de que conseguem fazer melhor.

      Ninguém está a desculpar a equipa técnica... Mas, se não for frente a um Arouca com quem as 2ªs linhas vão jogar?

      Por último, afinal jogamos mal por causa destes jogadores sem ritmo ou por causa da má organização?

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  3. Também há adeptos encarnados e críticos de RV desde a primeira hora (a hora em que estava a ganhar...) que, embora tenham preferências claras por alguns jogadores em detrimento de outros, sempre disseram que, com RV no banco, se calhar nem com Modric, Messi e Hazard o Benfica jogaria bom futebol...;-)

    Mas como o pessoal tem que se entreter enquanto não se muda de treinador, e a esperança em bom futebol e títulos de um benfiquista nunca se apaga, é fatal que um gajo dê por si a ter esperança que algumas trocas de jogadores no onze dêem a volta à coisa...embora racionalmente se desconfie dessa esperança, não há meio de ela não surgir. E depois vêm os jogos em que os 'nossos' jogam e claro que se confirma o que nos segredava a voz da razão...o problema é de processos colectivos e é tão profundo e variado que as individualidades já pouco conseguem fazer...

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    1. Correcção: desde a primeira hora (a hora em que souberam que o Rui Vitória viria para o Benfica).

      Preferências claras por alguns jogadores? Talvez... por aqueles que lhe dão mais confiança.

      «Enquanto não se muda de treinador...» é muito triste em pleno século XXI haver ainda malta que goste de sacrifícios.

      O problema dos processos colectivos existem, porque os processos demoram o seu tempo a consolidar.

      Tu não vês o Guardiola a ter esse tipo de problemas, porque ele contrata jogadores já com conhecimento de jogo que lhes permitem absorver rapidamente as ideias de jogo.

      Mas, pronto, vocês acham que sabem mais do que um treinador bicampeão perante equipas de muito maior investimento nos últimos anos...

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    2. Eu leio essa tua 'conversa' de que os processos colectivos demoram tempo a consolidar há anos...ele é o nosso treinador há três anos e meio!

      Só para eu me situar, quanto tempo é tempo suficiente para um treinador do nível do Benfica consolidar processos colectivos? Três anos e meio para ti é manifestamente pouco, portanto quanto tempo preconizas? Sete anos? Catorze?

      Eu diria que como a evolução nos processos colectivos é zero - para não dizer que é negativa, embora seja - nem 70x7 anos chegam.

      Bota sacrifício nisso.

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    3. Os jogadores não são de todo os mesmos...

      Da equipa de há três anos para cá, já mudaste de guarda-redes (Júlio César), de lateral direito (Nélson Semedo), de centrais (Luisão e Jardel não tem jogado assim tanto), de lateral esquerdo (Eliseu), de médio "8" (Renato Sanches), de extremo direito (Gonçalo Guedes), de extremo esquerdo (Nico Gaitán), de ponta-de-lança (Mitroglou). Com boa fé podes dizer que sobra Jardel, Fejsa e Jonas, sendo o sérvio o único insubstituível e mesmo assim, nenhum destes 3 veteranos é titularissimo. E nem falo dos restantes jogadores que compõem o plantel que todos os anos entram 10 e saem 10...

      Tu ainda não reparaste que estamos a renovar e a remodelar a equipa?! Tudo isto acarretam custos e resultados.

      E, por fim, há evolução dos processos coletivos. Tu é que não consegues identificá-los e baseias-te apenas nos resultados.

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    4. Eu baseio-me apenas nos resultados?? Oh PP, julgava que por esta altura já me tinhas em melhor conta...

      Queres explicar então como é que um tipo que só se baseia nos resultados passou os anos do tri e do tetra a criticar o treinador pela forma como estávamos a ganhar e pela qualidade de jogo?

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    5. Já reparaste que temos vindo a renovar constantemente o nosso plantel? E, como o nosso modelo de negócio de futebolistas visa irmos potenciando e vendendo, então estamos constantemente a reformar planteis.

      Se optássemos por um modelo de jogo mais de transição, talvez facilitasse a percepção das pessoas pela qualidade de jogo, tal como acontece no Porto, que os bons resultados superam a péssima qualidade de jogo e, como tal, acabam por fugir às críticas entre os pingos da chuva.

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    6. Este ano o plantel não teve grandes saídas e ainda se viu reforçado com vários jogadores de qualidade inquestionável - destaco Ferreyra, Gabriel, João Félix, Gedson. E o ter necessidade de vender sempre foi uma premissa do Benfica (dos clubes portugueses), não surgiu com RV propriamente...

      E já me viste elogiar a qualidade de jogo do Fruta Corrupção Pancadaria de SC, por acaso, para me vires com esse argumento??

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    7. Só contas esses? E então jogadores com a experiência do Eliseu e do Luisão?

      Verdade que contrataste o Ferreyra, mas já tinhas o Raúl, que agora vinga nos Wolves em Inglaterra. Verdade que tinhas um Filipe Augusto e que agora contrataste um Gabriel. Mas, o tempo que dispendeste com o Augusto acabou por ir pelo cano abaixo. Essa situação já tinha acontecido com o Danilo Barbosa, cujo trabalho na primeira época também acabou por ir abaixo.

      Aqui é onde podemos criticar a equipa técnica e a direção, por permitir que hajam cerca de 7 a 10 jogadores que todos os anos estão em trânsito no nosso plantel.

      Repara que para competir ao mais alto nível, na Champions, é preciso teres um plantel mais homogéneo. A maioria das pessoas pensa que temos um plantel homogéneo porque faz o mesmo erro que fizeste implicitamente no comentário em cima, quando refereste ao Gedson como um jogador de inquestionável qualidade. Escreves isso, pelo potencial que o jogador tem e não pelo valor actual. Agora, para competirmos na Champions, compete-se com o valor actual e não o potencial.

      A minha esperança é que neste novo ciclo da estratégia para o futebol encarnado, consigamos reter o talento tempo suficiente para irmos retirar dividendos desportivos além fronteiras.

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    8. O Eliseu na época passada já nem contava, o Luisão sempre que jogou mostrou que já não devia jogar (vd vitória do colosso Tondela na Luz, nas últimas jornadas...)

      Quanto às alegadas mudanças no onze, oh pá, tens o Odysseas e o Gedson ou o Gabriel de novidades no onze, em relação ao ano passado! O resto é tudo igual: AA, Rúben Dias, Jardel, Grimaldo, Fejsa, Pizzi, Salvio, Cervi, Jonas...e destes nove jogadores Red Pass Relvado, só um fez a sua primeira época com RV na época passada, os outros estão com RV desde o início ou quase!...

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    9. Repara, então andaste as duas últimas épocas com dois jogadores (Eliseu e Luisão) que depois não se acautelou devidamente as suas saídas. (Bem, quanto ao Eliseu, o Grimaldo está lá, mas o Luisão... não vendemos o Rúben Dias, mas este ainda está verdinho...)

      O Jardel, nem sequer é titular, porque tal como o Jonas, tem de ser gerido como pinças. O Salvio é outro que não aguenta uma época sem ter uma ou outra mazela. Portanto, quantos jogos por época esses veteranos jogam efectivamente juntos?

      Por isso, demora a consolidar os processos de jogo.

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