26 março 2017

Portugal ou...


Mais do que o futebol, está em risco a coesão social nacional.



Perante esta débil economia em que vivemos actualmente, cada vez é mais difícil ganhar dinheiro, por isso ainda mais difícil manter margens elevadas de lucro em indústrias em que antigamente havia menos concorrência. Ou melhor, a concorrência que existia estava desorganizada e era mais amadora. É o que acontece com a indústria do futebol. Outrora com um Benfica muito dependente de presidentes mecenas, clubes como o Porto e Sporting suportados por muitos magnatas, realeza e banqueiros nacionais, cedo perceberam que a indústria estava a evoluir. Primeiro com receitas de publicidade, depois com os primeiros contratos com televisões. De seguida, com transferências de jogadores e enormes campanhas na Liga dos Campeões. Facilmente, por cada euro investido no final de uma época poderia-se retirar 10 ou 100 vezes mais. Isto criou um sistema cujos maiores interessados eram os seus investidores, que ao contrário de outra qualquer empresa que está sujeita a um sistema muito mais regulamentado, no futebol poderia passear-se sem saber quem é quem, bastando apenas controlar os fantoches.

É neste cenário que nasce o Porto de Pinto da Costa, devidamente financiado por muitos barões do norte. E, não esquecer do contexto nacional após o 25 de abril, em que depois de um período de enorme centralismo do poder do Estado, tal foi deveras instrumentalizado por estas gentes do futebol como fumaça para desbravar terreno e levar à criação de um sistema que permitisse lucros e lavagem de muito dinheiro e interesses através do mundo do futebol. Reparem que só com o véu (ou o fechar dos olhos) de certas entidades que representavam o poder governativo é que um guarda-Abel pode circular por estes campos de futebol ameaçando e coagindo tudo e todos sem ninguém lhe por a mão. Vejam agora o "Macaco" e a sua militância. Sabe tão bem aos senhores feudais terem este tipo de gentinha que permita agir em prol dos resultados positivos dos seus investimentos... O leitor ainda duvida do que estou a escrever? Então reparem porque razão é que senhores do norte como o General Ramalho Eanes, ou o Engenheiro Belmiro de Azevedo, fazem tanta questão de estar presentes nos sucessivos casamentos do presidente do Porto e não tanto nas galas do clube? São as relações pessoais que são realmente importantes para aquelas gentes. E, só o são enquanto os resultados financeiros subsistirem. Daí que face a 3 anos de secura, o sistema está a combater com tudo o que pode. Controla a comunicação social, através dos grupos económicos que as financiam e são quase todos do norte. E, quando não sã do norte, pertencem sobretudo a banqueiros do sul... Quem acham que pertence a Global Media Group? E, o grupo Cofina?

Já alguma vez se interrogaram como o Porto e o Sporting conseguiram ter equipas que ganharam mais de 3 campeonatos seguidos, enquanto que o Benfica, mesmo com grandes equipas, o máximo que conseguiu ganhar foi ciclos de tricampeonatos?! Reparem quando o Sporting foi tetracampeão, estávamos em plena época da ditadura. Agora reparem quando o Porto foi pentacampeão... Reparem que estes ciclos foram abatidos mais pela implosão e emburguesamentos dessas estruturas do que propriamente por uma agressiva competitividade, como vivemos actualmente. Isso aconteceu porque o Benfica sempre foi o clube do povo. Ou seja, sempre reuniu maior preferencialismo da maioria da população nacional que se reveu nos valores deste Glorioso clube. Ao contrário, os outros dois, desde cedo perceberam essa situação e tiveram que adoptar a estratégia que já uma vez descrevi aqui: a do paradoxo do poder. É por isso, que hoje vivemos este cenário no futebol português. Reparem numa coisa, esses investidores não investem no Benfica não porque não gostam do clube. Aliás, o clube deles é somente um: o do dinheiro. Não investem tanto no Benfica porque sendo este um clube do povo, está sujeito a muitos olhares. Reparem que facilmente num grupo de 5 Benfiquistas, é possível vermos 3 ou 5 formas de ver as mesmas temáticas, enquanto num mesmo grupo formado por Sportinguistas ou Portistas, a sintonia é muito maior, uma vez que esses clubes apresentam maior homogeneidade. Ora isto é muito mais fácil para controlar a opinião das pessoas. Por isso vemos menos adeptos do Porto e do Sporting questionarem as formas de estar e de agir dos seus dirigentes. Reparem no caso do Vale e Azevedo. Somente num clube como o Benfica é que esse presidente poderia ser julgado como foi. Noutros provavelmente teria maior sorte. Aliás, muito provavelmente num Porto ou num Sporting ainda lá estaria...

Mas, o que é que isto tem a ver com a coesão nacional? Tudo! O grau de urgência que estes sistemas do Porto e do Sporting têm em gerar receitas para os seus investidores, têm colocado enorme pressão sobre o futebol português. Os dirigentes da Federação e da Liga são claramente meros fantoches para ficarem calados nestas alturas, quando deveriam ser eles a mandar calar de forma veemente quem está a incendiar o futebol português. Daí a direcção encarnada ter toda a razão de tomar as decisões que tem tomado nesta última semana. E, como quem cala consente, a Federação e a Liga estão neste momento a ficar do lado dos incendiários do futebol nacional. A última gota de água foi o consentimento de existir uma claque de "Portogal". Pessoalmente, já não era adepto da campanha publicitária em que converteram a selecção nacional a clube nacional. Posso até entender que a intenção tenha sido converter a clubite aguda deste país, numa clubite nacional. No entanto, isto foi descer a selecção a nível clubístico e não o contrário, que era o que deveria ter acontecido. Por isso mesmo há hoje toda uma perda dos valores da selecção nacional. E, o que se passou ontem à entrada do estádio da Luz com uma claque organizada dita de Portugal, mais a não demarcação da Federação perante esta situação, dita muito do quanto estas estruturas estão ao serviço desses interesses económicos e tão pouco ao serviço do futebol nacional. Por tudo isto, e porque está em risco a coesão social que tem sido a bandeira mestre das selfies marcelinas, seria inteligente ao Benfica chamar o presidente da República à baila.




P.S.: O Fernando Santos poderá argumentar que é ele quem decide e faz o onze. Poderá também argumentar que aqueles que jogaram de início estão à mais tempo na selecção. Mas, jogando na Luz, depois das declarações do Benfica face à Federação, ter deixado Nélson Semedo, João Cancelo, Renato Sanches, Pizzi e, fundamentalmente, o Bernardo Silva fora do onze titular, é de bradar aos céus. E, não esquecer que se fosse por uma questão de histórico na selecção, então o Éder deveria ser titular e não o André Silva... Por isso pergunto, afinal de contas a Federação está ao serviço do futebol nacional ou ao serviço de certos clubes nacionais?

18 comentários:

  1. Texto magnífico. Está cá tudo.
    Um manual para bem entender o sistema. Explora mais este tema, PP. Há pano para mangas para discutir política no futebol, que é um jogo de guerra. E poucos ou nenhuns espaços para fazê-lo.
    Tocas ao de leve, mas há que referir que esta guarda pretoriana tem mais de duas décadas de controlo da cidade do Porto, sobretudo a sua 'noite'. E indo mais atrás, tem 40 anos, a noite dantes era mais boxe, não sei se me entendes... em relação ao Sporting, basicamente não conta para nada, a não ser que quando está mais forte, é o Porto quem beneficia disso. E os sportinuistas são tão cegos que continuam, qual miuras sem vigor, a marrar no vermelho.
    Falaste também na ditadura, pois foi aí mesmo que se instalou a designação 'os encarnados'. Ora, o Benfica é vermelho, não é encarnado. Quem sabe de história, farta-se de rir a ouvir que o SL Benfica era o clube da ditadura.
    Continua, PP. como dizes, chegou a hora de ir mais fundo, eu não posso aceitar que o meu país me obrigue a pagar impostos até ao insustentável e apoie ou seja permissivo e conivente com gente como este Madureira. A mafia instalado no poder. Acrescento: quem pagou as viagens e estadia dessa 'claque' no Euro? A FPF? Com que dinheiro? Sendo uma instituição de utilidade pública, exige-se esse esclarecimento. Só que não é preciso ser muito inteligente para perceber que os macacos não fizeram reservas e Check in nos seus pc, colocando o seu cartão de crédito. Continue-se a apontar baterias à FPF e à Liga, o polvo minou tudo e há que desmascará-los.

    Zé Pincel

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    1. A FPF prefere pagar viagens a esta gentinha do que a pagar cursos ou financiar pequenos clubes a ter técnicos com formação como a federação germânica fez desde 2000.

      É a diferença. 😉

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  2. pode parecer absurdo o que vou dizer, mas sera que o madureira nao pode vir a ser o substituto de pinto da costa como presidente do porto? e que acho estranho assim de repente estarem a "limpar" a imagem dele de forma a aparecer serio e sem maldade nenhuma.

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  3. Ei PP, valeu bem a pena esperar!! ;)

    Excelente texto! Que no próximo dia 1 de Abril nós joguemos como tu escreves!...com as manobras fora de campo atingirem níveis tão surreais como os deste ano, teremos que ser muito, mas muito melhores dentro de campo!

    PS. Só falta o árbitro do clássico ser o Luís Ferreira, o advogado do Apito Dourado e alegado protagonista do Apito Dourado 2.0!!...

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    1. Lá na volta até é esse mesmo... por mim seria ótimo pois ao menos sabíamos com quantos iríamos jogar contra.

      😉

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    2. ;) não temos assim tanto futebol, para jogar contra 14 sem arriscar sair em segundo lugar...

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    3. Isso é porque não tens visto eles a jogarem à bola...

      ;)

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    4. Lol pois não sei...vi um bom bocado do jogo contra a Juve e não gostei nada do que vi, uma semana depois de nos ter visto em Dortmund...bem sei que a Juve tinha aquilo ganho desde a primeira mão, que estiveram o jogo todo a gerir a eliminatória a meio gás e tal, mas...

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    5. Viste o jogo frente ao Setúbal? A defesa do Porto é aquele tridente de preto... 😉

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    6. O que sei sobre o jogo de Sábado é o seguinte:

      1) anda fácil aviar fruta nos jogadores do Benfica e nem falta se marcar,

      2) o Porto teve vermelhos perdoados nos jogos de Guimarães (Herrera 2x), Estoril (Felipe) e Arouca em casa (Soares), pelo menos.

      Façam as contas...

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    7. @PP, e tens informações privilegiadas de que o tridente de preto não vai jogar no sábado? ;) a minha apreensão vem precisamente deste desnivelamento introduzido pelo tridente de preto, tendo em conta que o nosso futebol jogado é tão ou mais fraquinho que o deles...

      @RB Nortor,

      Não sou daqueles que contabilizam obsessivamente os erros de arbitragem, mas até eu sei que podes juntar a essa lista, no jogo do Fruta Corrupção Pancadaria com o Tondela, apitado pelo inenarrável advogado do Apito Dourado: duas expulsões e um penalti perdoados aos frutistas; um jogador do Tondela expulso por ter sido agredido e um penalti para os frutistas digno do 'Isto Só Vídeo'...

      Resumindo, não vejo razões nenhumas, dentro ou fora do campo, para se estar optimista para o clássico...a minha única esperança é uma daquelas noites à Benfica, de transcendência revoltada do tricampeão!...daquelas que ficam para a história...isso é que era!

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    8. @RB: E, os 8 jogos do Porto sempre a jogar contra 10?! Deve ser recorde a nível europeu...

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    9. @Benfiquista Primário: No sábado irão tentar... mas, iremos estar muito fortes!

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    10. BP, onde se lê Arouca deve ler-se Tondela! Esta coisa de serem todos amarelos...

      Eu também não sou de contabilizar, até porque até para ver os jogos que quero (Benfica, BVB e West Ham) anda complicado, quanto mais perder tempo com esses... Mas a verdade é que volta e meia lá se vê um resumo, ao jeito best of, de como as coisas estão longe, muito longe de mudar.

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    11. Quem olha para os resumos do Porto parece que eles jogam muita bem. Mas, quem lhes vê os jogos... enfim.

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  4. Benvindo de volta, esperemos que esteja tudo resolvido.

    A questão é como dizes, mas o futebol move paixões e há quem desligue o cérebro quando se fala dele, e fale só com o coração.

    O Apito Dourado é disse um bom exemplo. O mais chocante, para mim, de todas as escutas vindas a público não é o aspecto desportivo da coisa. É aquela escuta em que um juiz do Tribunal de Família do Porto pede uns bilhetes para o Manchester. Ou o facto de Pinto da Costa saber de antemão que ia ser visitado pela PJ. Tudo isso é que danifica a coesão social, não é o aspecto desportivo.

    Quanto à questão da claque de Portogal, estou à vontade porque desde o Verão que me queixo de um organismo que recebe dinheiros públicos pagar, ou sustentar indirectamente, "mestre Macaco". Alguém com o currículo dele só deveria ser sustentado pela verba do Orçamento do Estado destinada aos serviços prisionais!

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