... como o Makélelé estava para os galácticos do Real Madrid.
É impressionante como a elasticidade do seu jogo permite ligar a equipa encarnada, camuflando inclusive as deficiências posicionais que a equipa acaba por ir tendo, sobretudo a partir dos 60 minutos de jogo, quando as distâncias entre linhas vão crescendo cada vez mais. Não via um jogador destes desde os tempos do Makélélé no Real Madrid de Figo, Zidane, Sávio, Raúl e Ronaldo (sem falar em Roberto Carlos e Michel Salgado, dois laterais que eram autênticos extremos). Escusado será dizer que esse "timaço" acabou por completo, não quando o David Beckham chega a Madrid - como muita gente diz - mas, sim quando o internacional francês sai para Inglaterra.
Tal como o Makélélé, o sérvio do Benfica consegue ligar a equipa sustentando-a com a sua elasticidade posicional, fruto da sua capacidade física (enorme pulmão), mas acima de tudo, fruto da sua inteligência de jogo. Estamos a falar de mais do que jogadores da bola, de jogadores de futebol. Estamos a falar de jogadores que sabem ler o jogo e sabem ler as movimentações dos adversários, preparando-se para o momento em que a equipa perde a bola, conseguir rapidamente reequilibrá-la. Há muitos jogadores que fisicamente são bem superiores a estes. Por exemplo, o Gravesen era um armário comparado com o pequeno Makélélé, assim como o Samaris é capaz de ser fisicamente mais forte que o Fejsa. No entanto, a capacidade de leitura de jogo é diferente. A capacidade de entender as funções enquanto do puzzle táctico da equipa também é bem diferente. Por exemplo, o grego quando recupera a bola, tem logo a tendência para transportá-la mais um pouco (mesma tendência verifico ter o Filipe Augusto e até mesmo o muito elogiado benjamim encarnado - o Pêpê). Frente a adversários modestos da liga portuguesa não haverá problema. Mas, face a adversários organizados já começam as perdas de bola infantis. E, frente a adversários da Liga dos Campeões, então esses erros poderão custar milhões. E, tudo isso tem a ver com o entendimento do jogo e das suas funções.
Mas, é aqui que também faço um pequeno parêntesis. Se não há Fejsa, ou Makélélé, há outros jogadores com outras características como os Samaris, os Filipes Augustos, e até os Fernandos Aguiares e Gravesens que podem ser tão ou mais úteis. Para tal, é preciso também adaptar o resto da equipa às suas formas de jogar. E, isto, é da responsabilidade da equipa técnica. Sei que não é fácil, pois num mundo resultadista do futebol, muitas vezes não há tempo para preparar sequer uma solução, quanto mais duas. No entanto, se começar-se a ver o futebol como um jogo com vários princípios inerentes e, se dotarmos dos jogadores desses princípios, é muito mais fácil entre eles perceberem que o comportamento e as suas funções dentro de campo não poderão ser estanques e limitadas, mas que dependem muito das capacidades de cada um dos colegas de equipa que têm ao lado.
De qualquer maneira, ter Fejsa na equipa é o mesmo que ter um seguro contra-tudo e contra-todos. Aliás, a seguradora que se tornou parceira do Benfica, não poderia ter escolhido melhor jogador para promover os seus produtos que o sérvio. Trata-se claramente na melhor apólice de seguros do futebol mundial da actualidade. E, já agora, comemorou-se ontem 100 jogos de águia ao peito do camisola 5 encarnado ou foi pelos seus 100 desarmes num só jogo?!
De qualquer maneira, ter Fejsa na equipa é o mesmo que ter um seguro contra-tudo e contra-todos. Aliás, a seguradora que se tornou parceira do Benfica, não poderia ter escolhido melhor jogador para promover os seus produtos que o sérvio. Trata-se claramente na melhor apólice de seguros do futebol mundial da actualidade. E, já agora, comemorou-se ontem 100 jogos de águia ao peito do camisola 5 encarnado ou foi pelos seus 100 desarmes num só jogo?!
P.S.: Ah! Fiquem agora com o resumo do jogo...
Gostei de seu regresso mas fica um pouco complicado ler seus artigos porque a gente se anima com a imagem de seu blog , e que imagem , mas queria apenas salientar o seguinte - se o jogador não tem nele a leitura de jogo deve o treinador dizer-lhe como deve jogar . Em todo o caso é claro que a intuição de Fejsa não tem paralelo em qualquer outro atleta de nosso clube . Na minha opinião só Samaris poderá substitui-lo. Augusto tem mais habilidade mas se embrulha demais não sendo alternativa credível . Mas entre Fejsa e Samaris dá para ter um "6" bem credível . Há pouco tempo vim um jogo de Florentino Luís e me pareceu que o garoto conjuga a habilidade com o bom senso necessário à posição . Pedro Rodrigues ou Pêpe me parece um jogador na linha de Cristante , ou seja um atleta em cima do muro, entre "6" e "8" ,sem se definir , acabando por não ser carne nem peixe.
ResponderEliminarGrande abraço e ainda bem que voltou porque meu grande amigo JV sempre foi seu fã
Olá Fernando Cabral!
EliminarA propósito deste excerto que escreveste: «se o jogador não tem nele a leitura de jogo deve o treinador dizer-lhe como deve jogar». Não sei o que queres dizer como o treinador dizer-lhe como deve jogar, mas aquilo que eu e muitos outros treinadores defendemos, é que o treinador não deve ter um comando tipo "playstation" a comandar cada decisão que o jogador deve ter em cada momento. Até porque o treinador também erra nas decisões.
O que defendo é que o treinador deva ensinar um conjunto de princípios que o jogador possa utilizar de forma como ele interpreta. E, no caso de estar a falhar muito na interpretação do princípio, referir isso mesmo.
Por exemplo, no caso do Filipe Augusto, ele até é um jogador super-esforçado e intenso. Sem bola, consegue fazer pressão a campo inteiro. Isso é algo que o Fejsa raramente faz. O sérvio joga mais na antecipação. Mas, isso não quer dizer que o sérvio seja melhor que o Augusto, porque este devidamente bem enquadrado poderia ser fundamental. Por exemplo, bastaria que quando ele faz pressing, os restantes colegas jogassem na antecipação ou cobrissem as restantes linhas de passe.
O Samaris é outro que adora jogar em pressão. Por isso, penso que ele e o Augusto, bem articulados com o resto da equipa poderiam funcionar como dupla de meio-campo.
Ainda bem que trouxeste o Florentino para a baila. Para mim trata-se claramente de um "wonderkid" naquela posição. Daqueles que poderão vir a ser "game-changers"
Por fim, partilho a mesma opinião sobre o Pêpê. Mas, o pior é que estes jovens dão nas vistas com a bola nos pés, mas esquecemos que 80 ou 90% do tempo de jogo eles não a têm nos pés. Portanto, o comportamento sem bola é fundamental e é aí que o jogo do Pêpê não é tão forte.
Forte abraço! ;)
Justíssima homenagem ao nosso Imperador, análise certeira como uma recuperação alta do próprio!
ResponderEliminarSublinho o destaque dado à inteligência e leitura de jogo. Tanta gente a ignorar ou esquecer que a inteligência e a leitura de jogo são condição necessária para o sucesso no futebol - o que é diferente de serem condição suficiente...
Aparentemente até o treinador tetracampeão o esquece - certamente não o ignora! - quando faz certas e determinadas escolhas para o nosso onze...dando nome às reticências, estou a falar da dogmática titularidade de Dom Salvio (um exemplo académico, de tão perfeito, de estupidez e fraca leitura de jogo), bem como da aposta em Lisandro ou Samaris, por exemplo.
Agora defendendo um pouco o treinador tetracampeão. Dizes e muito bem que é responsabilidade do treinador preparar a equipa e o modelo de jogo para a ausência de um jogador tão específico como Fejsa, adaptando o dito modelo de acordo com as características do substituto. Não podia estar mais de acordo! Mas vi os jogos todos em que Fejsa não jogou - no estádio, todos os caseiros excepto o Braga para a Taça da Liga, e na TV os jogos fora - e pareceu-me mesmo que RV fez isso. Como aludi no post anterior, foram nítidas, sobretudo no estádio, as mudanças no nosso modelo de jogo, aparentemente determinadas pela ausência de Fejsa e suas implicações. Nomeadamente no início da nossa construção, o Pizzi desceu para ficar de perfil com o 6 e os laterais estiveram muito menos projectados, descendo para a mesma linha dos médios centro, que por sua vez estava apenas meia dúzia de metros à frente da linha dos centrais, ainda fora do bloco adversário. Isto é muito diferente do 6 descer para uma linha de três com os centrais, o Pizzi e os laterais subirem para formar uma segunda linha bem mais alta, já dentro do bloco adversário. Foi mudar de uma saída a 3 para uma saída a 6 (2+4)!
Apesar do Benfica normalmente alternar entre modelos de saída de bola no mesmo jogo (a notorious variabilidade...), consegue-se perfeitamente distinguir o modelo 'por defeito' do modelo circunstancial. E na ausência de Fejsa, houve um modelo 'por defeito' muito diferente do escolhido quando Fejsa está no onze - isto é, quanto a mim, factual/'indiscutível'. O que é discutível é a interpretação - as especulações subjectivas sobre os possíveis motivos desta mudança. A minha especulação subjectiva é que RV enquanto treinador fica tão preocupado com a ausência de Fejsa quanto RV enquanto adepto 😉 Vai daí, quis ter mais jogadores atrás da linha da bola em caso de perda e promover uma circulação mais 'segura', por fora do bloco, sabendo que, naquele modelo de 2+4-4, as perdas de bola seriam mais altas que baixas...
Se esta mudança de adaptação à ausência de Fejsa resultou? Bom, resultou pelo menos numa sequência de jogos miseráveis e resultados deprimentes...
Portanto, o meu ponto é que RV conseguiu encontrar tempo para treinar uma estratégia de adaptação à ausência de Fejsa. Só que essa estratégia falhou rotundamente.
Excelente comentário Benfiquista Primário! ;)
EliminarÉ verdade que o RV procurou ir ao encontro das características dos seus jogadores. Contudo, primeiro não foram suficientes e segundo, ele precisa de operacionalizar melhor.
Quando digo que não foram suficientes, prende-se com o facto de ele ter pensado que apenas pedindo ao Pizzi para jogar mais de perfil com o Augusto, que resolveria as coisas. Esqueceu-se que com bola, o Pizzi continuaria a transportar jogo como sempre faz. Contudo, quando este e o Jonas perdem a bola, não está o Fejsa com o seu sentido posicional e leitura de jogo catedrático. Estava lá apenas um voluntarioso Filipe Augusto. Este foi o grande problema na 2ª e 3ª fase de construção de jogo do Benfica e que fez com que a equipa desgastasse imenso nas transições defensivas.
O segundo ponto, o da operacionalização, pode ver-se também da perspectiva anterior, mas prefiro usar o exemplo da 1ª fase de construção que explicas muito bem no teu comentário. Ao invés da solução normal e mais rotinada de recuo do médio defensivo para entre os centrais, o que deveria ser devidamente testado e bem operacionalizado seria o da saída em quadrado, com a dupla de centrais, e a dupla de meio-campo Augusto/Pizzi. Neste tipo de saída, um dos médios pode também descer para a linha defensiva, tal como o Fejsa costuma fazer. O problema é que na solução Fejsa+Pizzi cada um sabe o que deve fazer, na solução Augusto+Pizzi, entre o "ora vais tu, ora vou eu", como se costuma dizer... já foste!
Contudo, a ideia não é para deitar fora. É preciso é trabalhar mais e melhor para resultar.
Obrigado, PP. O 'ora vais tu, ora vou eu - já foste!' foi realmente o que se passou 😁
EliminarDiz-me uma coisa por favor: nesse modelo de saída em quadrado que defendes, é suposto os laterais também estarem tão baixos como estiveram os nossos - na mesma linha de Augusto/Pizzi? E é suposto essa linha estar tão próximo dos centrais? É que o Pizzi/Augusto formavam com os centrais um rectângulo largo e baixinho, não um quadrado...
Aí está! Nesse modelo os laterais estão subidos na linha de meio-campo e bem abertos (contra adversários mais fortes o do lado contrário pode estar um pouco menos aberto...) e com os falsos extremos nos meios-espaços (entre o corredor central e a ala) prontos a receber a bola de forma orientada para num movimento quebrar com a antecipação ou contenção do adversário e os avançados a testarem a profundidade para arrastar marcações e criar espaço entre linhas.
EliminarQuanto ao que referes do esbeltamento do quadrado é sintoma de como o processo ainda não foi totalmente absorvido pela equipa o que até é natural. Repara são épocas e épocas com um tipo de saída de bola que as coisas demoram o seu tempo até acertar. O posicionamento dos laterais é o posicionamento dos extremos é diferente e se olhares bem não facilitavam o trabalho daquele quarteto que se ia esmagando ao longo do tempo até ser mais uma linha que outra coisa.
Bem-vindo de volta, PP!
ResponderEliminarE voltas em boa-hora, com o nosso regresso às vitórias. Tal como o Fejsa!
Concordo com o que foi dito por todos (não houve contradições, pois não?:). A preponderância do Fejsa é incontornável - apenas 3 derrotas em 68 jogos na Liga! A questão é o que fazer na sua ausência? A substituição "directa" pelo Samaris, mudando o mínimo possível, parece-me a melhor solução. O Filipe Augusto pode funcionar em jogos menos intensos, esteve bem com o Belenenses, por ex.
Outro aspecto central é... os centrais.
Estou muito animado com o Rúben Dias! Já lhe admirava aquela presença à patrão há muito tempo, assim como a concentração. O que me surpreende é a evolução na relação com a bola, que me parecia aquém do necessário há alguns meses atrás. Lembro-me de considerar que o Kalaica estava um passo à frente dele por causa disso.
A confirmar-se válida a solução Rúben Dias, resolvemos uma questão absolutamente estrutural que nos tem apoquentado, com as lesões do Jardel e a manifesta incapacidade do Lisandro em mostrar que merece o lugar. Muita saúde para o Luisão, para que ainda possa ensinar mais este!
Abraço!
Ass.Miguel Costa
Olá Miguel Costa!
EliminarEssa estatística com Fejsa desconhecia e realmente dá para entender a dimensão deste monstro.
Acho é que não há substituição "directa" que dê ao Benfica o mesmo grau de fiabilidade. É certo que entre Samaris e Augusto como substituição "directa", o grego era capaz de desenrascar melhor. Mas, mesmo assim penso que nessa solução não estaríamos a utilizar todas as melhores capacidades futebolísticas do camisola 7. E, é por isso que defendo uns "tweeks" de acordo com os atletas.
Sobre o Rúben Dias, fizeste bem em falar. Também tenho reparado no seu crescimento em termos técnicos. E, olhando ao jogo no Bessa e agora na Luz, é uma diferença abismal, pela forma como sempre tentou furar linhas de pressão do adversário com a bola controlada. É para continuar!
;)