05 março 2016

Alguns usam a estatística...

... como os bêbedos usam os postes: mais para apoio do que para iluminação.


Nesta última semana, e em jeito de antevisão para o derbie Lisboeta disputado em Alvalade entre a equipa do Sporting e do Benfica, foram inúmeras as análises ditas "estatísticas". As aspas são aqui colocadas porque na realidade não prestam um bom serviço à ciência que esta doutrina representa, como também são o motivo para que a maioria seja tão reticente com ela. O problema está na interpretação dos dados. Um bom exemplo disto são as peças que o leitor poderá encontrar ao clicar sobre as imagens deste artigo.


Os porcos voam?
Olhando para a fotografia que serve de abertura a este artigo, o leitor poderia facilmente ser levado a dizer que sim. O porquinho está no ar, embora sem asas. As pessoas estão lá atrás a tirar fotografias. Outras estão boquiabertas. Não há sinais de uma fotomontagem (a não ser a legenda). Logo, muitos acreditariam por esta fotografia que os porcos voam. O problema é que elas não sabem em que contexto isso aconteceu. Ou seja, se o porquito foi lançado? Se saltou de uma posição mais elevada? Se saltou num trampolim? Enfim... a palavra chave aqui é o contexto! O mesmo acontece com boa parte da peça do Expresso (Quem mais?!). Nos 2 minutos e 59 segundos da peça realço em particular a parte em que o jornalista elogia o trabalho defensivo organizado e em equipa do Sporting por comparação ao trabalho defensivo do Benfica que se baseia apenas nas correrias do Renato Sanches... pena que o Renato só participou em 2 clássicos esta temporada e apenas num deles contra o Sporting. Ou seja, nem sequer tiveram o cuidado de contextualizar as coisas.


Misturar alhos com bugalhos!
Quem mistura alhos com bugalhos é o site GoalPoint na sua peça sobre o derbie da capital, ao fazer um comparativo entre Slimani e Jonas. Aliás, a maioria da imprensa desportiva está a fazê-lo, recorrendo com isso a dados estatísticos de forma errónea. Estão a fazê-lo mal, porque pura e simplesmente não estão a contextualizá-los. Se o fizessem perceberiam rapidamente que não podem comparar ambos os jogadores, porque têm simplesmente funções distintas em campo. O ponta-de-lança do Sporting é um finalizador e o avançado encarnado é um 2º avançado. Ou seja, ambos são de populações diferentes para a estatística. Porque não compararam o Slimani ao Mitroglou? Ou então o Jonas ao Teo Gutierrez ou ao Bryan Ruiz? Se o fizessem deixavam de dizer aqueles disparates que remetem às opiniões leigas de "se calhar o melhor é o Benfica não fazer jogar o Jonas".


O que entristece em tudo isto, para além do atropelamento da Estatística em si, é que há análises muito enriquecedoras para o comum adepto de futebol que se poderia ser efectuadas com os recursos que hoje em dia se tem. Contudo, quando não se sabe e faz-se passar por quem sabe, acontece isto. Por isso é que os problemas continuam a surgir todos os anos da mesma forma, com soluções idênticas e resultados erróneos. E, porquê? Porque as análises são mal feitas.





P.S. 1: Outra coisa que não consigo perceber é o porquê de continuarem a colocar 4.4 remates à baliza quando a quantidade desse parâmetro só pode ser um número inteiro?!

P.S. 2: Um pouco sobre o jogo, estou curioso por saber se haverá alguma alteração ao onze titular do Benfica. Acredito que joguem André Almeida, Eliseu e Sanches para os lugares de Semedo, Grimaldo e Talisca, respectivamente. Pessoalmente, preferia apostar no Raúl em vez do Kostas, pelas razões que tenho vindo a apresentar nos últimos artigos. Tal, até fazia sentido em termos estratégicos, pois se pretender usar o grego como substituto, poderia ser o melhor parceiro para um Salvio a ser lançado também do banco.

11 comentários:

  1. Gostei da peça dos 2:59, muito sinceramente. A conclusão chave é que o Sporting defende bem melhor que o Benfica, e isso é verdade, quer nos Benfiquistas queiramos, quer não. E isso deve-se ao facto de Jesus ser bem mais treinador que Vitória. O que também é factual.
    Benfica descompensa-se muito facilmente porque a química e o conhecimento de jogo do Renato e Samaris(menos com Fejsa) é bem menor do que a ligação Carvalho, Adrien.
    Apesar de que é verdade, como referes, a estatística vale pouco nos grandes jogos, os pontos chaves do vídeo estão spot-on, na minha opinião.

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    1. Penso que não entendeste bem a minha crítica. Eu não disse que a estatística vale pouco nos grandes jogos. A questão é que estas análises estatísticas são desprovidas de rigor. E, como tal detêm um grau de subjectividade que poderiam não ter se quem analisasse os dados fizesse com o rigor que o método estatístico o exige.

      A falta de atenção para o contexto, como a falta de conhecimento sobre as bases do método estatístico, fazem com que se tirem resultados inválidos, apesar de muitas vezes serem verdadeiros.

      Por exemplo, é verdadeiro que o Benfica tem o método defensivo menos consolidado que o Sporting. Mas, é uma mentira que o método defensivo encarnado se resuma às correrias do Renato Sanches (até porque conforme escrevi no texto, o miúdo nem sequer foi titular na maioria dos clássicos disputados pelo Benfica esta temporada).

      O mais triste nisto tudo, é que mesmo tendo o acesso aos dados, poderiam ter feito uma análise válida e até provida de conteúdo que pudesse verdadeiramente explicar os pontos fortes e fracos de ambas as equipas.

      Tu afirmas que o Jesus é bem mais treinador que o Vitória, mas nem te apercebes que o Jesus tem um trio de meio-campistas que já jogam juntos há 3 épocas consecutivas (William-Adrien-João Mário) e têm sido fundamentais nestes encontros. Por seu turno o Rui Vitória, já reconstruiu o meio-campo e a defesa encarnada inúmeras vezes ao longo desta temporada. E, apesar disso e dos maus resultados nos confrontos directos, a verdade é que a equipa está nesta fase da temporada em excelente posição para depender dela própria para atingir os seus objectivos.

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    3. Adrien o ano passado não era metade do que é hoje. Mário evoluiu imenso também. Mas para ti Vitória é melhor que Jesus, no todo?

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    4. O entrosamento entre o William, o Adrien e o João Mário não é algo que se consegue apenas com treino de 6 meses, quanto mais numa pré-época. E isso é algo que o próprio Jesus, se não fosse tão artolas, deveria referir.

      Para mim, o Vitória tem muito mais potencial que o Jesus. Tem evoluído imenso esta temporada. Temos de entender que os recursos que o Vitória tem à sua disposição e as exigências são bem diferentes que tinha tido até então. Isto também requer sempre um período de adaptação e de evolução das equipas técnicas. Agora, uma coisa é certa, ele tem trabalhado.

      Volto a escrever que o Vitória nem sequer era a minha primeira escolha para substituir o Jesus no verão passado. Mas, tem-me surpreendido pela positiva, apesar dos maus resultados na supertaça, da eliminação da taça de Portugal e dos confrontos directos com o Porto e com o Sporting, conseguiu sempre reconstruir depois desses jogos. Não é fácil conseguir isso. E, não esquecer das lesões que o plantel tem sido vítima e as vezes que ele já reconstruiu sectores.

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    5. Em relações às condições, penso que é um mito quando se refere que o Benfica não tem um excelente plantel. O crime estaria na não aposta no Renato, Semedo e por aí fora. Isso seria crime, como foi com Bernardos e André Gomes.
      Se juntarmos a isto, Carcela, Mitro(Lima falhava 10 em 15 oportunidades), Jimenez, temos um plantel de enorme qualidade. Bem superior ao da época passada. O mérito, a residir, é no facto de ter sabido manusear bem o onze titular quando as lesões foram muitas.

      http://www.record.xl.pt/internacional/detalhe/pablo-aimar-bielsa-e-jorge-jesus-foram-os-treinadores-que-mais-me-marcaram.html

      Quando um astro argentino que teve N treinadores de top, diz isto, só se pode concordar com a qualidade de Jesus.

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    6. Tal como tu, eu sempre achei que o nosso plantel tinha potencial. Mas, se fores ver a opinião das pessoas, e até de muitos entendidos, depois da pré-época afirmavam que o Benfica tinham o pior dos planteis dos 3 "grandes".

      Sobre o Jesus, aqui em Portugal, quem tem um olho é rei. No momento em que apareceu no campeonato outros treinadores com olho e com bons planteis, a performance de Jesus nunca foi a de superação. E eu há muito que já tinha percebido que ele não evoluía com as as suas ideias e modelo de jogo. Depois é normal que o Aimar fale bem do Jesus. Primeiro, foi seu treinador. Há sempre o lado pessoal a falar. Segundo, o Aimar teve imenso sucesso no Benfica.

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  2. Antes do jogo também imaginava que um avançado rápido como Jimenez seria o melhor para defrontar um gigante duro de rins como Coates. Mas a primeira parte veio provar algo que já se ia percebendo : Mitroglou é um avançado de top internacional , um craque que não pode ser comparado com Raul . O grego é daqueles em que vale a pena investir.

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    1. Se o Benfica tem esse dinheiro para investir, então que o faça. O jogador está perfeitamente adaptado com o clube e com os colegas.

      Pessoalmente, acho que lhe falta ainda mais mobilidade. Acho que ganhando-a será um jogador de topo, ao nível do Jonas para nós. Quando falo em mobilidade é um pouco aquilo que o Benzema faz no Real Madrid. Muitas vezes está no centro, mas procura as faixas, arrastando marcações. O Jiménez tem outra velocidade e agressividade, mas depois falta-lhe um pouco de nervo para ser mais frio a pensar o jogo. O Mitroglou tem a vantagem de ser frio. Por isso é que na cara do golo ele tem grande aproveitamento.

      Inicialmente, fui contra a contratação do mexicano e passo a explicar porquê: via no Nélson Oliveira aquilo que ele tem estado a confirmar em Inglaterra, ou seja, um avançado que tem golo. Mas, sinceramente, para o jovem português ficar no banco, ainda bem que foi emprestado. De qualquer maneira, o mexicano tem me surpreendido pela positiva. Ele é muito completo. Fisicamente, é um atleta soberbo. Tecnicamente sabe tratar bem a bola, embora porque joga pouco e poucos minutos, e também a confiança não está no auge, os erros técnicos são logo hiperbolizados pelos leigos. Ma, se fosse realmente mal tecnicamente, as recepções de costas para a baliza, os centros para os colegas, os passes,... nunca seriam feitos como tem feito. Depois, tacticamente é um jogador super inteligente e polivalente. Falta-lhe um pouco mais de nervo, ter uma série de jogos a titular e marcar uns golos no processo.

      Se o Mitro for embora, não fico lá muito preocupado. Ficaria mais se fosse o Jonas, para te ser sincero. É que estou confiante de que em 3 meses de utilização do Raúl ou do Nélson Oliveira encontraríamos substituto do grego. Aliás, tal como esta temporada depois da saída do Lima.

      Por falar em pontas-de-lança, há um que está no mercado e que já jogou na nossa equipa B: o Deyverson. Por mim, ficaria muito atento à sua situação no mercado.

      ;)

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  3. Jesus é mais treinador que Vitória. Eu penso o mesmo desde o Jamor. Ou da choradeira por Slimani. Era bonito uma época com tantas lesões no Sporting. Julio César, Luisão, Lisandro, Silvio, Nelson Semedo, Fejsa, Gaitan, Salvio... Para o Villas-Boas a começar ficou a mais de 10.

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    1. O Jesus tem mais experiência e isso faz com que ele esteja à frente da maioria em Portugal, porque já tem a sua metodologia de treino bem definida. O problema é que um treinador de topo perceberá facilmente que o seu modelo de jogo não é de todo o melhor e tem falhas. Um treinador de topo também tem um nível de operacionalização elevada do seu treino e como tal nesse capítulo nivela com o Jesus. Ora, depois tendo um modelo mais inteligente que o do JJ, é normal que o bata aos pontos. Foi o caso do Villas-Boas e do Vítor Pereira, mas também de Domingos Paciência (no Braga), de Peseiro (no Braga) e de Marco Silva (no Sporting).

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