14 junho 2013

Porque não o 4-1-2-1-2 para o "clube de Portugal"?


Os últimos jogos e respectivas exibições, fizeram-me debruçar quanto à viabilidade de manter o 4-3-3 como disposição táctica principal do "clube de Portugal". Olhando para o "núcleo duro" e para as características futebolísticas dos melhores da equipa, proponho a alteração do modelo táctico para o 4-1-2-1-2 que de seguida abordo.



O 4-3-3 de Paulo Bento...
O melhor onze de Paulo Bento em 4-3-3.

Olhando para o onze titular do 4-3-3 de Paulo Bento, que reflecte o "núcleo duro" de jogadores que o técnico português não prescinde. São eles: Rui Patrício, João Pereira, Pepe, Bruno Alves, Fábio Coentrão, Miguel Veloso, João Moutinho, Raul Meireles, Nani, Cristiano Ronaldo e Hélder Postiga.


As lacunas do onze...
Logo à partida, em termos do onze colocado (o "melhor" onze de Paulo Bento - sempre discutível...), detecta-se quatro lacunas, uma delas não tão grave, mas mesmo assim que poderia ser corrigida. São elas, a posição de defesa central do lado esquerdo, a de médio-centro ofensivo (vulgo "10"), a de extremo direito e a eterna questão do ponta-de-lança.

O 4-3-3 de Paulo Bento tem exposto as fragilidades
físicas de Bruno Alves.
Começo com a posição de central do lado esquerdo que pertence actualmente ao Bruno Alves. O jogador português, foi dos que mais decaiu em termos de forma física nos últimos anos. Quando actuava no futebol português, ao serviço do Porto, era reconhecido pela sua intensidade, garra e agressividade, mas também pela sua pujança física durante os 90 minutos. Hoje em dia, não aguenta sequer 60 minutos em alta competição, e perdeu imensa velocidade, apesar de nunca ter sido um velocista.

Um central não ser rápido é algo normal, apesar de cada vez mais procurar-se centrais que tenham bons atributos físicos em termos de velocidade e de aceleração. Contudo, não é por aí que Portugal possa jogar mal. A questão é que a equipa tem de entender que tem essa limitação defensiva e deve fazer de tudo para protegê-la. Como? Evitando as transições defensivas rápidas. E, isso se faz com maior qualidade na posse de bola, o que leva-nos a um dos maiores problemas desta equipa das quinas: o meio-campo.
 
Raul Meireles tem sido um autêntico "corpo estranho" no
meio-campo do "clube de Portugal".

Logo à partida, leia-se do ponto de vista teórico, quem vê o onze vê logo um deficit de criatividade a meio-campo. Neste esquema de três meio-campistas, Veloso assume as despesas defensivas, enquanto o João Moutinho é o médio de transição. Raul Meireles tem então como tarefa ser o cérebro do meio-campo, o coordenador de jogo ofensivo e de tempos da equipa, a posição de médio-centro ofensivo.

O problema é que o Raul não tem esse perfil e muitas vezes confunde-se com as tarefas de Veloso e de Moutinho, criando naquela zona muitas perdas de bola infantis, por duplicação de processos. Mais, quando em situação ofensiva, raramente opta pela melhor decisão. Enfim, por outras palavras, é um peixe fora-de-água! Acredito que Paulo Bento só o mantenha no onze, por este pertencer ao tal "núcleo duro" da equipa. No entanto, acho que o seleccionador mais tarde ou mais cedo vai ter que o fazer em prol da equipa.

Mesmo assim, muitas equipas conseguem funcionar sem um "maestro" a meio-campo, porque têm alguém que consiga transportar bem o jogo pelas faixas, ou alguém que consiga fazer a ligação entre o meio-campo e o ataque, o que leva-nos ao problema nas outras duas posições mencionadas: extremo direito e ponta-de-lança.

Nani um dos que nunca rendeu em pleno como extremo
direito na equipa das quinas.
Nani é o extremo direito preferido de Paulo Bento. No entanto, acho que ele nunca foi um verdadeiro extremo puro, ou seja, daqueles capazes de transportar a bola pelo flanco de forma consistente. Acredito que o Nani até seja capaz de transportar a bola, mas não pela ala e da forma como o Paulo Bento pretende. Há um claro equívoco entre as capacidades do atleta e as funções que o seleccionador pretende que ele desempenha em campo.

Aliás, se olharmos para as exibições do Nani até mesmo no Manchester United, verificamos o seu desconforto quando joga a extremo direito. Fica muito prisioneiro da posição. Para jogar nas alas, Nani com certeza preferiria jogar pela esquerda, mas aí o Paulo Bento teria de sacrificar o seu maior trunfo, Cristiano Ronaldo. Facto que o técnico não abdicará. Mas, mesmo que assim o fizesse, penso que o Nani não renderia da forma como todos gostaríamos que rendesse... veja-se a última época dele no United. Mesmo em forma, o português nunca conseguiu atingir uma regularidade exibicional que o permitisse agarrar a posição e fazer nome nela. Isto leva-me a questionar o seguinte: então em que posição o Nani poderia render mais? Penso que a resposta está no seu regresso às origens, quando surgiu no Sporting de Paulo Bento, ou seja, como número "10" num 4-1-2-1-2, podendo também jogar como um "carillero" num esquema em diamante, mais aberto.

É como "10" num esquema desses, com liberdade para jogar em toda a largura do terreno, transportando a bola que Nani poderá ser peça importante na equipa de Paulo Bento, até para complementar o tridente obreiro de meio-campo mencionado atrás e assim conservar maior posse de bola, o que ajudaria a evitar tantas transições rápidas defensivas.

Apesar dos golos, nota-se clara dificuldade na fluidez de
jogo ofensivo com o Postiga.
Por seu turno, este reposicionamento do Nani, ajudaria a disfarçar uma das maiores lacunas do futebol português: a posição de ponta-de-lança. De facto, o Hélder Postiga, no esquema de 4-3-3 do "clube de Portugal", não tem o perfil indicado para poder ajudar a equipa a ligar o meio-campo e ataque. "Postigol", que até tem conseguido marcar vários golos nesta fase de qualificação, apesar de termos sempre a sensação que poderia fazer mais e de forma diferente, não consegue desempenhar bem as funções que lhe exigem num esquema como o de Portugal. Ou seja, o português deveria ser uma espécie de "9.5" (ou falso "9"), ajudando na ligação, mas não consegue cumprir devido a uma grave lacuna em termos tácticos.

Mas, com maior liberdade no ataque, jogando como uma espécie de avançado móvel, reposicionando-se entre o central e o lateral adversário, ao invés de entre os centrais como faz actualmente, poderia ser uma espécie de avançado móvel de referência para a equipa. E, tais funções já se enquadram mais no perfil futebolístico do Hélder.

Basicamente, acredito que com uma mudança táctica do 4-3-3 para o 4-1-2-1-2, o "clube de Portugal" poderia retirar maior rendimento dos seus jogadores e efectuar performances e exibições bem mais convincentes e muito menos sofríveis.


Outras vantagens do 4-1-2-1-2...
  1. Num país que se forma cada vez menos extremos puros de qualidade e pontas-de-lança, mas ao mesmo tempo forma-se mais segundos avançados (falsos extremos de hoje são regra geral segundos avançados) e médios-centro, um esquema como o 4-1-2-1-2, acaba por ser benéfico a essas características de jogadores.
  2. Facilmente o esquema desdobra-se num 4-3-3,  ou num 4-2-3-1 e num 4-4-2, se um dos médios centro for substituído por um médio-ala/extremo, ou seja, um "carrillero". Para além disso, o 4-1-2-1-2, pode-se desdobrar naturalmente num 4-3-1-2 ou num 4-1-3-2.
  3. Este sistema, permitindo maior segurança ao centro do terreno, permite maior liberdade para os nossos laterais ofensivos, que assim poderão ter maior rendimento do que o actual, para além de desgastarem-se menos.
  4. Laterais como Silvio, Antunes, André Almeida, Rúben Ferreira, terão maiores facilidades em entrar no onze de Portugal, pois sentiram mais protegidos por um sistema de entreajuda mais robusto por um meio-campo mais bem posicionado.
  5. Da mesma forma, que se protege os centrais mais lentos e até os mais baixos, pois assim o médio-centro defensivo, poderá compensar melhor qualquer eventualidade. Logo beneficiará jogadores como Neto e Ricardo Costa, mas também possíveis convocados como o Steven Vitória. 
  6. Médios-centro como Custódio, Rúben Amorim, Manuel Fernandes, Hugo Viana, Paulo Machado, Carlos Martins, entre outros teriam enorme facilidade em tirar maior rendimento neste esquema.
  7. Cristiano Ronaldo, é um dos jogadores que mais beneficiaria com esta mudança táctica, pois não só o aproximava da baliza adversária, como daria-lhe a liberdade ofensiva necessária para ser mais criativo no transporte da bola para o ataque, nas assistência para o golo e na finalização. Penso mesmo que o transportaria para outro nível.
  8. Jogadores como Vieirinha, Bruno Gama, Eliseu, entre outros (até mesmo o Fábio Coentrão) com um perfil de médio-ala/extremo puro, podem facilmente adaptar-se à posição de "carrillero", jogador que ocupa a posição de médio entre o médio defensivo e o ofensivo no quarteto de meio-campo, mas que acaba por dar maior largura à equipa.
  9. Avançados como Varela, Pizzi e Hugo Vieira (que estão acostumados a jogar como falsos extremos), mas também os habituais pontas-de-lança suplentes de Hélder Postiga, tais como, Hugo Almeida, Éder e Nélson Oliveira, não terão dificuldades em ocupar as posições da dupla atacante. Aliás, acho que para alguns, como o jovem Nélson Oliveira, poderá ser mesmo benéfico, uma vez que ele se sente bem nessas funções.
  10. A posição "10" seria entregue a dois transportadores por excelência: Nani e Danny. Estes dois são dos mais sacrificados exibicionalmente no actual 4-3-3 do Paulo Bento, seriam neste 4-1-2-1-2 duas das principais referências da equipa e ganhariam uma dimensão de acordo com o potencial que possuem.
  11. Este esquema de 4-1-2-1-2 tem como principal vantagem tirar o maior rendimento das principais figuras do "clube de Portugal". São elas por ordem crescente: Nani, Pepe, João Moutinho, Fábio Coentrão e Cristiano Ronaldo.
Ronaldo seria talvez um dos maiores beneficiários desta mudança táctica, pois acredito
que ganharia a vantagem táctica para elevar ainda mais o seu jogo e com isso elevar a
performance do "clube de Portugal".


PS: Se o Paulo Bento quer continuar com o 4-3-3, então vai ter que abrir mão do Raul Meireles e Nani do onze, dois dos jogadores do seu "núcleo duro", colocando um jogador como Hugo Viana ou Manuel Fernandes na posição de meio-campista ofensivo e um Vieirinha na posição de extremo direito (como fez no jogo frente à Rússia). Por seu turno, tem de exigir maior transporte de bola e criação de jogo ao Cristiano Ronaldo, se bem que vai perder capacidade concretizadora... Enfim, "não há almoços grátis"!

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