04 abril 2012

Questão central

A lesão muscular de Miguel Vítor na batalha épica da Luz frente ao arsenal minhoto, no passado sábado, fez suar o alarme na zona central. E não é para menos! Ezequiel Garay, parado à cerca de um mês, com uma lesão no joelho e Jardel, o habitual substituto do argentino, parado devido a lesão muscular contraído frente ao Chelsea, somam ao formando encarnado 3 baixas em 4 possíveis para as duas posições de defesa central. Tal impede que Luisão possa sequer queixar-se de qualquer coisa neste momento... Como contornar este problema?

Adicionando, à onda de lesões dos nossos defesas centrais, o facto de o Benfica jogar muitas das suas ambições para a presente temporada nesta semana, não facilita a tomada de decisões da equipa técnica. Jorge Jesus tem de ponderar bem as hipóteses que tem à sua disposição, para não deitar tudo a perder.

"A necessidade aguça o engenho"
Jesus no campo do Chelsea
As condições climatéricas, nomeadamente a chuva, são
o menor dos problemas para Jesus, neste momento.
É um provérbio muito conhecido e acaba por retratar bem a criatividade e a qualidade que a nossa equipa técnica deverá ter nesta fase da temporada para contrariar esta onda de lesões nos seus defesas centrais. É claramente, um teste a Jorge Jesus, que deverá demonstrar o porquê de muitos apelidarem de "catedrático do futebol". No entanto, gostava de neste artigo de opinião, debater as hipóteses que o técnico encarnado tem em cima da mesa, para ir a jogo frente aos "blues".

Opção 1: Javi Garcia
Javi Garcia
Javi Garcia joga onde for preciso,
é assim que ele está no futebol.
No entanto, é no centro do
meio-campo onde ele rende mais.
Jesus já foi confrontado pelos media sobre este assunto, ao qual o técnico responde que poderia usar o espanhol como central, até porque, o ex-Real Madrid, até já tinha feito vários jogos a central aquando ainda em Espanha. É uma opção. Embora considere válida, penso que não será uma opção sensata. Porquê? Porque retirando o Javi Garcia do meio-campo, perdemos talvez o elemento mais pendular e rotinado do meio-campo encarnado. No trabalho defensivo do meio-campo, o espanhol é mestre e não há mais nenhum tão bem rotinado nessas funções. Depois, nos lances de bola parada, ele está mais rotinado sobre as tarefas que deve desempenhar como médio-defensivo. Em suma, puxar o Javi para central será mexer em duas posições, o que instabiliza ainda mais a equipa.

Opção 2: Emerson
Emerson
Sabendo que está a passar uma crise
de confiança, será que a utilização de
Emerson frente ao Chelsea é uma boa
opção? Ainda por cima como central?
Outra opção referida pelo técnico encarnado, foi a utilização do lateral esquerdo brasileiro como central. Jesus argumentou que o Emerson já tinha jogado a central na sua carreira. Questiono sobre a validade desta hipótese, pois logo à partida denoto que o brasileiro não está a passar um bom momento da carreira. Mais, do que estar em forma física, nota-se claramente, pela linguagem corporal do jogador em campo, que o Emerson não está bem mentalmente para poder jogar ao mais alto nível. Ele até tem um bom jogo de cabeça,  mas isso não é tudo. Tecnicamente falando, denoto-lhe imensas falhas que não permite ter um grau de segurança na sua utilização, tais como: mau sentido de posicionamento, falta de cultura táctica que permita saber interpretar as funções que deve desempenhar noutras posições em campo e adequar o estilo de jogo a elas, falta de velocidade de reacção, falta de concentração, entre outros pormenores. Para ser justo, muitas destas falhas são exponenciadas pela crise de confiança que o jogador está a viver. Um excelente treinador também é aquele que deve saber proteger os seus atletas. Espero que o Jesus se lembre disso...

Opção 3: Capdevilla
Capdevilla
O campeão da europa e do mundo,
pela "la roja" é em termos de tácticos
e em experiência das melhores soluções
para acompanhar Luisão no centro da
defesa. Contudo, quem fará de lateral?
Esta opção é uma opção pessoal um pouco na linha do que eu penso que o Jesus pensa com a utilização de Emerson como central. A diferença, é que Emerson é um jogador pouco confiante e que neste momento treme só de entrar dentro de campo. Já quanto ao Cap, o campeão da europa e do mundo, tem mais do que experiência para lidar com este tipo de pressões. Para além disso, em termos técnico-tácticos é talvez o lateral que melhor poderia desempenhar essa função, pois tem um sentido táctico muito acima da média, que faz dele um jogador muito útil e especial, muito embora a maioria das pessoas o veja como um lateral normal. Já agora, no mundial de 2010, o Capdevilla chegou a desempenhar as funções de central num ou noutro jogo e com bom desempenho. Mas, se o internacional A espanhol vai para o centro, quem é que vai para a lateral esquerda? Emerson? Bem, depois do jogo da primeira mão frente ao Chelsea e dado a crise de confiança do brasileiro, se calhar convinha o treinador protegê-lo. Por outro lado, talvez fosse uma oportunidade de o Emerson dar o seu grito de Ipiranga... Outra opção, mais arriscada, seria a de utilizar o Nico Gaitán como lateral esquerdo, num esquema táctico encarnado bastante ofensivo e muito pressionante sobre a equipa adversária. É por isso, que penso que a utilização de Capdevilla como central seria interessante numa altura mais adiantada do jogo e caso necessitássemos de marcar mais golos. Ah! Já agora, o Capdevilla está já familiarizado com o modo de jogar de Fernando Torres, seu colega da "la roja".

Opção 4: Matic
Matic
Talvez a melhor opção para jogar
como central ao lado de Luisão.
Porque não utilizar o sérvio Matic a central? Tem estampa física para o ofício. Não é um jogador lento. Tem um índice de roubos de bola muito acima da média. Aparentemente, raramente recorre à falta, a não ser para quebrar um contra-ataque rápido adversário. Poderemos argumentar que lhe falta alguma cultura táctica da posição. Mas, também temos de ver que essa desvantagem pode ser uma vantagem para nós neste encontro. Se o Benfica ambiciona chegar às meias-finais da Liga dos Campeões, terá que vencer a equipa do Chelsea em Stanford Bridge, algo que em casa dos "blues" ainda nenhuma equipa em competições europeias conseguiu fazê-lo. Para tal, e esperando um Chelsea italiano, muito ao estilo do seu novo técnico Di Mateo, o Benfica deverá assumir o controlo do jogo e resguardar-se de contra-ataques. Matic, poderá aqui funcionar como um dois em um, pois poderá funcionar como mais um elemento de meio-campo quando a equipa tiver a bola, ajudando na construção e manutenção da posse de bola, e como um defesa quando a equipa estiver em processos defensivos. Para mais, com o "perna-longa" na defesa, a linha defensiva poderá subir, utilizando o fora-de-jogo como uma arma para evitar os contra-ataques do Chelsea. Os "blues", embora com excelentes jogadores, poderiam ser bem mais perigosos do que têm sido, o que reflecte que eles também não são tão bons nesse capítulo. Aliás, o jogo na Luz é disso demonstrativo. Em 90 minutos, eles tiveram um lance de golo de contra-ataque, que resultou no único golo. O outro lance de golo que tiveram foi um tipicamente britânico, de futebol directo, através da reposição de bola do guarda-redes para o avançado apanhar nas costas da defesa adversária. Até mesmo por este prisma a utilização de Matic faz sentido, pois permite maior superioridade aérea. Outros factores positivos da utilização do sérvio são as seguintes: ele conhece boa parte do plantel do Chelsea e até mesmo as ideias de Di Mateo, nos lances de bola parada o Matic pode ser decisivo e capacidade de passe longo e mudança de flanco que o camisola 21 tem e que pode beneficiar os jogadores velozes do nosso ataque.

Será "bluff"?
Entretanto, na conferência de imprensa que antecede o jogo da Liga dos Campeões, o técnico encarnado disse aos jornalistas que, e passo a citar:
"Luisão dificilmente jogará"
Será mais um dos habituais "bluffs" que Jesus tenta efectuar antes destes grandes jogos? O que é certo é que o Luisão teve imensas queixas após um lance com o espanhol Javi Garcia frente ao Sporting de Braga no passado sábado e pelos vistos ainda não recuperou, pois Jesus disse:
"Luisão nem treinará hoje. Não sabemos se amanhã vai estar no jogo, é uma incógnita. Vamos ver no treino de amanhã se conseguiremos recuperá-lo. Não digo que é impossível mas é muito difícil".

E se Luisão realmente não poder jogar?
Sendo assim, o problema será ainda maior para reconstruir o centro da defesa e nesta situação não vislumbro outra solução que não seja colocar mesmo o Javi Garcia a comandar o sector mais recuado, ou seja, a fazer as funções do Luisão. No entanto, as opções acima descritas continuam válidas. Escolhendo a opção Matic, como parceiro do espanhol no centro da defesa, o que vai sofrer com esta repercussão é o meio-campo. Dos quatro médio-centro que dispomos no plantel, Javi Garcia e Matic mais defensivos e, Witsel e Aimar mais ofensivos, se colocarmos Javi Garcia e Matic no centro da defesa, ficamos apenas com Witsel e Aimar no meio-campo. Isto não me incomoda muito, pois o belga noutros jogos já demonstrou que pode ser solução como médio-defensivo, sobretudo em momentos de jogo em que precisamos de pressionar mais o adversário. Por conseguinte, a questão é saber se o Jesus irá optar por utilizar os três médios alas que tem à disposição, logo de início? É que um deles poderá fazer de médio interior ou médio-ofensivo centro, por exemplo, Bruno César e Nico. Ou se irá utilizar dois avançados, por exemplo, Saviola, ou Rodrigo, ou Nélson Oliveira a acompanhar o ponta-de-lança Cardozo? Se não utilizar o Matic a central, o técnico encarnado poderá utilizá-lo como elemento mais recuado do meio-campo, no entanto, tirando o Capdevilla, não vejo mais ninguém que consiga fazer boa companhia ao Javi Garcia no centro da defesa. E afastando o campeão da europa e do mundo da sua posição de origem, quem é que trava o Ramires? Emerson?
Witsel e Aimar poderão muito bem ser o núcleo do nosso meio-campo
nesta quarta-feira em Stamford Bridge.

Estratégia de jogo frente ao Chelsea
Penso que o Jesus deve apostar numa equipa que lhe permita segurança na posse de bola. O Chelsea não se vai importar muito com isso, pois deverá tentar explorar o contra-ataque. Tenho preocupação com a defesa adaptada, no que concerne à utilização da regra de fora-de-jogo como arma principal para combater os contra-ataques dos "blues". Espero bem que o Jesus tenha preparado convenientemente a equipa para esse tipo de situações.
A posse de bola, será tão ou mais importante se conseguirmos trocar a bola entre os nossos jogadores de forma criteriosa e precisa. Explorar diagonais entre o central e o lateral adversário, por parte dos nossos jogadores mais rápidos poderá ser decisivo para criar oportunidades de golo para Cardozo e outros jogadores encarnados que apareçam na área de finalização.
É importante referir, que mesmo sofrendo um golo dos "blues", para vencer esta eliminatória temos sempre de marcar dois golos em Stamford Bridge.

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