04 janeiro 2019

Obrigado Rui!


Pelas vitórias, pelas conquistas e, em especial, pelo T3TR6.


Aconteceu o que muitos queriam que tivesse acontecido ainda antes de assinares pelo Benfica. Enquanto tiveste uma equipa equilibrada com um misto de juventude, veterania e uma base de jogadores de altíssima qualidade, o projecto encarnado sempre foi sorrindo apesar das investidas em todos os campos e mais alguns dos nossos adversários. No momento, em que esse equilíbrio e identidade é desfeito, com as saídas de jogadores da qualidade de Gaitán e de Mitroglou, de veteranos que passaram à reforma como Júlio César, Paulo Lopes, Eliseu e Luisão e, com a constante venda de supostos substitutos no onze titular, como foram os casos de Renato Sanches, Nélson Semedo, Lindelöf e Gonçalo Guedes, tudo isto num espaço de três épocas, a identidade perdeu-se.

Mas, também tens culpa Rui. A verdade é que aceitaste as limitações que te foram impostas. Aceitaste o desafio, de que num momento importante para a independência financeira do clube, era necessário vender jogadores importantes. Aceitaste a ideia de que poderias colmatar a ausência de jogadores com 3 ou 4 anos de experiência competitiva ao mais alto nível por novos valores da formação que estão constantemente a aparecer, poder colmatar a diminuição de qualidade actual com a potenciação rápida da qualidade potencial desses jovens. Não te faltaram jogadores, desde miúdos a (menos) jovens valores que despontavam nos mais diversos campeonatos e que numa situação contratual interessante conseguiam ser seduzidos para o clube (exemplo: Seferovic, Grimaldo e Ferreyra). Inclusive, sempre pudeste contar com jogadores mais carimbados, se bem que por empréstimo (casos de Douglas, Corchi e Gabriel Barbosa). E, ainda, te deram a hipótese de gastar cerca de 10M€ em contratações por ano (este ano chegou o Gabriel, por exemplo). Portanto, parece-me que também houve uma espécie de "não há fartura que não dê em fome" (provérbio dito ao contrário, para espelhar bem o desaproveitamento das condições que te foram dadas).

Para mim, este foi um dos teu maiores erros. E, o mais interessante, é que o cometeste quase desde a primeira época de águia ao peito. A quantidade de jogadores que iam de pré-época contigo, as indefinições dos teus planteis até finais de setembro, nunca permitiram entradas fortes nas épocas. Apenas no final de novembro/início de dezembro as tuas equipas conseguiam ter maior rendimento de resultados e de exibições. E, isso é da tua responsabilidade, porque poderias ter gerido de forma bem diferente o plantel. Espero que tenhas conseguido perceber que em altíssima competição, com 3 jogos por semana, não se pode trabalhar como se só jogássemos uma vez por semana. É necessário utilizar as pré-épocas para definir um modelo de jogo que sirva uma coluna base de 15 a 18 jogadores, podendo depois os restantes poderem ser trabalhados de forma mais temporizada. Se atendermos que um plantel deve ter cerca de 23 a 25 jogadores, estamos a falar que a diferença está exactamente, nos miúdos que ano após ano sobem à equipa principal (5 a 7 jogadores). Doutra forma, podes subir menos jogadores para reservares vagas para contratações que possam ser importantes para a renovação natural do plantel.

Engraçado, porque se olharmos para as performances do Benfica na Liga dos Campeões enquanto estiveste no comando, verifica que apenas só quando tiveste ao teu cargo o tal equilíbrio de juventude, veterania e jogadores consagrados é que conseguiste atingir patamares de excelência condignos com o clube. No ano passado, o desequilíbrio foi notório. Quiseram subir à força toda 7 miúdos, dos quais apenas 1 sobreviveu (o Rúben Dias). Depois, aqueles que outrora chegaram para reforçar as segundas linhas e com tempo virem a constituir a primeira linha, foram substituídos. Estamos a falar de saída de 7 a 10 jogadores e entrada de outros 7 a 10 jogadores. Não é assim que se trabalha para o nível de um Benfica de dimensão internacional. E, é aqui que abordo outro dos teus maiores erros: a exigência.

Confesso, que nas primeira épocas de águia ao peito, gostei muito do teu discurso e do nível de exigência que colocaste. Não entraste em histerismos como alguns grandes treinadores fizeram até recentemente em outras equipas (estou a falar de ti Mourinho, que ainda há bem pouco tempo castravas tudo e todos dentro do plantel do Manchester United, pois por mais que pudesses ter razão, não é dessa forma que conseguias dar a volta por cima). Foste paciente e frio e, quando tens jogadores com a carimba de Gaitán, Jonas, Luisão, Eliseu, entre outros mais veteranos que permitem segurar o forte nos momentos difíceis, os miúdos conseguem atinar. Agora, quando já não tens essa identidade, tens de incutir uma. E uma das formas é com o nível de exigência. Quando se perde ou se empata, é preciso não se ter receio de dizer o que esteve mal. Não estou a falar de personalizar os erros, mas sim explicar o porquê, mas mais do que isso, o que se pretendia, ou seja, definir a meta, o objectivo e dizer que apesar do resultado, faltou-nos atingir "isto" ou "aquilo" colectivamente.

E, aqui entro no terceiro erro capital: a comunicação. Conforme expliquei no parágrafo anterior, se a tua comunicação foi sublime nos primeiros anos de águia ao peito, até porque eras um recém-chegado treinador ao Benfica e que estavas a escrever a tua própria história, era fundamental manter o "low-profile" até porque os adversários se queimavam por si só. Mas, após a conquista do tetra, perante uma época atípica, em que o Benfica foi massacrado dia sim/dia sim fora e dentro de campo, com um Porto a ser levado ao colo, tendo jogado jogos que demoraram meses para terminar, com todos a tentarem fazer-te a folha, tinhas de ser bem mais agressivo para conseguir retirar alguma pressão. Dessa forma, não soubeste blindar devidamente o balneário. O que vinha do exterior começou a afectar a equipa (por exemplo, o castigo do Samaris merecia uma defesa mais acesa da tua parte). E com isso, os maus resultados (a que se junta o que referi nos primeiros parágrafos deste texto acerca da perda de identidade do plantel). Depois, se a tua imagem nunca foi a melhor, com isto tudo começou a surgir o divórcio cada vez maior com os Benfiquistas. É aqui que tens de repensar melhor.

De qualquer maneira, muito obrigado por todas as vitórias, Rui!


19 comentários:

  1. Ficará como o pior treinador bi-campeão da história. Futebol medonho, sem ideias, a viver do que foi deixado pelo seu antecessor.

    Assim que se viu obrigado a emprestar o seu cunho pessoal, o Benfica reduziu-se a nada.
    Lançou miúdos, mas apenas por obrigação devido a lesões ou suspensões. Uma falácia aqueles que o consideravam o treinador-formador como se vê com o que se está a passar com o Félix.
    Treinador banal. A partir de agora, será sempre a descer. Mas vai de bolsos cheios. Pelo que nos deu, merece.

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    1. E que tal pensares pela tua própria cabeça em vez de vires aqui descarregar o que se diz em qualquer programa de televisão carregado de anti-Benfiquistas primários?

      O cunho pessoal sempre esteve lá. O 4-4-2 do Vitória sempre foi bem diferente do 4-4-2 do Jesus (que era mais um 4-1-3-2).

      Os miúdos foram lançados por política. Quando saiu o Gaitán, não entrou um Ruiz, ou um jogador consagrado, mas sim um miúdo como o Cervi.

      O que se está a passar com o Félix?! Achas mesmo que um miúdo ia chegar aqui e carburar logo? Necessita ainda de muito trabalho pela frente.

      O Vitória está muito longe de ser tão banal como estás a pintá-lo. Talvez o tempo venha mostrar isso mesmo.

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    2. Que venha esse tempo, então.

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    3. «O 4-4-2 do Vitória sempre foi bem diferente do 4-4-2 do Jesus (que era mais um 4-1-3-2).»

      Sim, o 442 do RV sempre andou mais perto do 4231 do que do 4132 do antecessor, mas o 442 do RV também nunca foi o esquema que RV quisesse implementar. Em termos de trabalho em clubes é um esquema que não usa desde os primeiros tempos em Paços de Ferreira, onde terá descoberto a vantagem do 433 que se desdobra num 451/4141 que lhe permite defender com muitos e em número, entregando a bola ao adversário, que o levaram ao sucesso em Guimarães, e que quando aplicado na Luz o condenaram ao insucesso.

      RV não será um treinador banal, nem sequer um mau profissional, mas não é treinador para o nível do que o Benfica precisa. Infelizmente o dossier está entregue ao presimente e sinto que vem aí um regresso ao passado que o clube dispensava.

      Boa Sorte ao Bruno Lage e que faça com os crescidos o que fez com os petizes.

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    4. Naturalmente "defender com muitos e em número" é uma redundância escusada que acontece por motivos de edição de texto que não foi seguida de revisão...

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    5. Ai Fernando Aguiar, Fernando Aguiar...que saudades da "energia" que punha em campo lol

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  2. Este Jorgen é um deficiente de merda

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  3. António Madeira04/01/19, 03:35

    Parabéns pelo texto. Justo, sincero e baseado numa boa análise.

    Sei que já o terás lido, mas deixo aqui para os mais distraídos:
    http://guachosvermelhos.blogspot.com/2019/01/slb-sempre.html

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    1. Obrigado António! Já li o texto do Guachos e concordo quando ele se refere aos hipócritas que dizem agora obrigado. Eu agradeço o Rui Vitória, não apenas porque foi correcto, mas porque teve muito mérito que a maioria não lhe quer dar, mas que daqui a uns tempos darão, tal como estão a dar a Paulo Fonseca e outros.

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  4. PP absolutamente de acordo. Não me identifico com aqueles que insultam Rui Vitória. Tinha perdido a consideração por ele por não sair pelo seu próprio pé. Já não tinha condições para continuar. Felizmente decidiu sair e só tenho a agradecer-lhe os títulos e troféus que ganhou para o clube. O melhor para ele é o que desejo.

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    1. Pelo que percebi hoje, ele quis sair pelo seu próprio pé agora. Deve ter atingido o limite.

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  5. Tudo críticas pertinentes, PP. Só faltou aquela que para mim é a mais importante de todas: qualidade do futebol apresentado e do modelo de jogo!

    Sim, eu sou um desses que nunca o quis. Fiquei furioso com a sua contratação, furibundo com a renovação do seu contrato e deprimido com a recente epifania de luz nocturna...ontem tive finalmente a notícia de que estava à espera desde Julho de 2015. Fiquei contente, portanto. Mas agora já é tarde: o penta já voou, o hexa então nem se fala, o Fruta Corrupção Pancadaria ressuscitou e este campeonato já é pouco mais que uma miragem - 7 pontos de atraso, em quarto lugar, com as deslocações mais difíceis todas na segunda volta e o Apito Dourado mais pujante do que nunca...

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    1. Ele apresentou um modelo de jogo, que praticou o melhor futebol em Portugal na época passada e que colocou o Jonas a marcar golos como nunca se viu. Ninguém fala nisso, porque ele perdeu o jogo que não poderia perder (em casa frente ao Porto). E, como a história é feita pelos vencedores, pouco ou nada interessa agora.

      Lamento que tenhas subconscientemente pedido pela demissão do treinador do Benfica ainda antes dele ter chegado à Luz. Embora não tenha sido a minha primeira opção, abracei-o como um dos nossos e procurei sempre entender os seus desafios e a abordagem com que ele os encarou. Ensinou-nos muito, mas também espero que possa vir a aprender com o que se passou nos últimos meses/ano. São lições que o tornarão muito melhor treinador.

      7 pontos de atraso é miragem a mais de metade do campeonato? Por favor! Ontem o City demonstrou como se deve reagir a essas distâncias. Dentro de duas semanas terás um Sporting-Porto,... é preciso é pensar em nós e jogar para ganhar.

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    2. Já discutimos aqui esse trimestre de bom futebol (excelente, aliás, como reconheci na altura), de Janeiro a Março do ano passado...não me apetece agora repisar os argumentos, é consultar aqui no blog...mas foram três meses de bom futebol, em 42 meses de futebol medíocre, de equipa pequena! Se num festival de música pimba de uma semana, os Arcade Fire forem lá tocar uma música - por alguma razão absurda que agora não me ocorre rss - tu vais dizer que foi um festival de indie rock? Vai deixar de ser um festival de música pimba? Pois...

      Aquele trimestre de bom futebol no Inverno de 2018 foi a música dos Arcade Fire, os restantes 39 meses de RV o festival de música pimba. E ficou provado que era mérito de algumas individualidades - Krovinovic/Jonas e depois Zivkovic/Jonas - e não do treinador pois quando essas individualidades saíram do onze, voltou a habitual música pimba!!!

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    3. Quanto às nossas hipóteses neste campeonato, o que eu escrevi foi "este campeonato já é pouco mais que uma miragem - 7 pontos de atraso, em quarto lugar, com as deslocações mais difíceis todas na segunda volta e o Apito Dourado mais pujante do que nunca...". Não escrevi "o campeonato é uma miragem porque estamos a 7 pontos", simplesmente, como tu fazes crer na tua resposta...e tu sabes bem que é diferente. Muito diferente.

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    4. Em 42 meses de futebol medíocre?! Epá! E o futebol que o Jesus teve naqueles três anos em que ficamos sem ganhar o campeonato? Até parece que jogámos muito nesses anos...

      Já aqui expliquei-te que o Benfica é uma equipa em renovação. Os tempos para consolidar uma identidade são difíceis e temo que se torne ainda pior se não escolherem alguém com reais capacidades, motivação e ambição para agarrar a oportunidade.

      O mérito de algumas individualidades é óbvio. Se não tiveres bons jogadores não consegues colocar a equipa a jogar dessa forma. Olha por exemplo o Luís Castro. Ganhou na jornada anterior ao Sporting e agora perdeu num jogo com adversário muito mais fácil.

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    5. É uma miragem... todo esse teu discurso é de perdedor. O Benfica só se tem de preocupar nisto: GANHAR!

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  6. E os benfiquistas continuam a atacar os nossos e nem uma palavra para toda a corrupcao, aldrabice e vigarice que esta a vingar no futebol Portugues....
    E assim cantando e rindo eles continuam a ganhar, seja por penalties, fora de jogo, e nos os benfiquistas continuamos a atacar os nossos...

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    1. E a jogar um futebol medonho! Mas, enquanto tiveres nas televisões todas comentadores e jornalistas pró-Porto, vão continuar a assobiar para o lado.

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