05 novembro 2016

Mas qual é o problema?


... é passar a bola para o Eliseu!


Mas, onde está a dúvida? Sinceramente, não entendo o alarido que se faz em redor de uma lesão do jovem lateral-esquerdo espanhol ao serviço do Benfica. Apesar de gostar imenso do Alejandro e de lhe reconhecer um potencial terrível, penso que até será benéfico para ele ter pausas competitivas. O fundamento para escrever isto prende-se com o simples facto do camisola 3 estar a ter um trabalho específico de reforço muscular, ao mesmo tempo que está a competir a um nível sénior de nível superior. Tacticamente, o Grimaldo é dos jogadores mais inteligentes no futebol nacional, apesar da sua tenra idade. Ele tem as bases todas. Contudo, o que lhe faltou para dar o salto para a equipa principal do Barcelona é o que estamos a assistir no Benfica: a sua dimensão física. Competir em altíssima competição no Benfica não é para todos. Estamos a falar de uma exigência de 3 jogos por semana e com adversários de nível superior. Isto não é fácil para nenhum jogador, muito menos para aqueles cuja dimensão atlética ainda não está suficientemente desenvolvida, quer seja por questões genéticas, quer seja por um trabalho disciplinado mais específico.

Ok, mas o que é que isto tem a ver com a lesão do Grimaldo? Tem tudo. A lesão que o espanhol tem, é muscular e deve-se pura e simplesmente porque a regeneração muscular dele não está a acompanhar o seu ciclo competitivo (3 jogos por semana). Contudo, isto não se resolve por varinha mágica. É preciso que o seu organismo adquira essa velocidade e isto tem muito a ver com a actividade metabólica, que por sua vez, tem a ver com hábitos, desde os alimentares até à disciplina de treinos. O camisola 3 não me parece que tenha hábitos alimentares e condutas (como fumar e beber álcool, caso do Fábio Coentrão, por exemplo) condenáveis, portanto, o mais certo tem a ver com o tipo de treino que não fez durante a meninice e que provavelmente deverá fazer agora, para contrabalançar o atleticismo que a sua genética não lhe deu, mas que dá a outros da sua idade. Acontece que esse trabalho tem de ser gradual e muitas vezes por ciclos, com ciclos de descanso, pois são nesses momentos que a renovação dos tecidos musculares se faz.

Por esse factor, acho completamente normal que o Grimaldo tenha este tipo de lesões musculares. Pelo mesmo motivo não culpo o departamento médico. Este faz apenas a avaliação no momento, recorrendo a testes enzimáticos que verificam um marcador indirecto do dano muscular (teste CK, da enzima creatina quinase). Na realidade, o que este teste mede é o nível desta enzima que é criada na renovação dos tecidos musculares. Acontece que este teste, na realidade é apenas um apoiante de decisão, mas não faz realmente o retrato físico do jogador naquele momento. Sem querer entrar em muito maior detalhe, o que acaba por acontecer é que devido ao metabolismo de cada um é normal um jogador apresentar elevados níveis desta enzima uma semana depois de um acontecimento que tenha requerido enorme esforço do sujeito. Em média, este é um teste que fazem aos jogadores 48 horas depois do jogo. Mas, reparem, estamos a falar de uma média de jogadores profissionais, ou seja, desde os miúdos com 1 ano de alta competição a veteranos como os Zanettis e Maldinis destas vidas, que levavam uma vida exemplar do ponto de vista atlético. Provavelmente, o Grimaldo estaria no 3º percentil, do grupo de jogadores que precisa de maior tempo de recuperação, por aquilo que já referi.

Agora, a nossa equipa técnica e o nosso departamento de futebol, assim como a nossa direcção, devem ter a noção de que não se deve esforçar situações de elevado risco de lesão para o jogador. Só porque jogando, fica com mais um jogo na Liga dos Campeões no curriculum do jogador, que possa valorizar no final do ano, quando estiver na mesa uma mais que provável proposta de transferência. Eu penso que isso não acontece, mas que é uma situação com elevado potencial para acontecer é. Por isso, eu fazer este alerta. Por outro lado, temos no plantel um jogador fiável como o Eliseu, que tem dado mostras de uma enormíssima capacidade atlética, embora muitas vezes ser injustamente chamado de "gordo", por muitos adeptos, incluindo encarnados. Quando a mim, uma vergonha, para não chamar uma mentira. Só um jogador que se cuida é que conseguiria chegar a um jogo como o do Paços de Ferreira, com um período de inactividade elevadíssimo, e fazer o jogo que fez, limpando a sua zona defensivamente e ter estofo para ir lá à frente assistir um colega para golo. Verdade que não foi tudo um mar de rosas, mas atendendo à idade do jogador e ao contexto, foi excelente.

Como tal, penso mesmo que esta lesão do Grimaldo será bom para a equipa. Temos um campeão da Europa como seu suplente, que fará uma excelente exibição. Isto trará maior diversidade à equipa. Trará também maior competitividade e possibilitará a médio prazo que o Benfica se torne verdadeiramente num rolo compressor, capaz de dia sim, dia sim, de exibir-se ao seu melhor nível. Por sua vez, é bom para o Eliseu e Grimaldo, pois permite que vão rodando na equipa e assim possam não estarem a jogar sempre nos limites de esforço.


Apesar de Grimaldo ter um potencial futebolístico terrível, está ainda muito longe do que
muitos parecem dizer que já tem.

4 comentários:

  1. É indubitável que a ausência do Grimaldo nos retira velocidade e capacidade de explorar a profundidade pelo corredor esquerdo. Mas também ganhamos experiência - que nestes jogos vale a dobrar - e dimensão física na defesa.

    Se fosse um jogo em que tivéssemos de ter uma abordagem eminentemente ofensiva, esta ausência seria mais penalizadora.

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    1. Sinceramente, não concordo totalmente. Não acho que o Grimaldo seja um lateral super veloz como o Semedo do lado contrário. Agora, que ele é muito inteligente na movimentação, isso é. Gosto imenso quando ele procura o espaço interior quando o extremo esquerdo está bem aberto, junto da linha.

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  2. a must read post!
    Parabéns.

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