22 março 2014

Revista semanal

 
A meu ver esta foi uma importante semana futebolística para o Benfica de Jesus. Foi intensa e foi pedagógica. Facemos então a necessária análise...

3 jogos em 7 dias
O Benfica tem vindo a ter desde o início deste ano de 2014 um ritmo alucionante de praticamente 3 jogos por semana. Mesmo nas semanas em que são reservados os jogos das selecções nacionais, dado o elevado número de internacionais A no plantel encarnado, na prática, os seus atletas não têm tido descanso. É por isso fundamental o técnico encarnado estar muito atento aos casos de fadiga física e mental que possam ocorrer em certos jogadores. Muitos deles devido ao sobretreino e ao desgaste competitivo.


Saber quando jogar mal
No jogo da passada 5ª feira, o comentador italiano a meio da segunda parte e vendo o Tottenham a ficar apenas um golo de igualar a eliminatória que parecia ter ficado resolvida lá em Londres, saiu-se com a seguinte afirmação: «o Benfica parece complicar sempre o que parece ser fácil». Nada de mais certo naquele momento. Contudo, e porque o resultado acabou por ser favorável para o Benfica. É preciso também realçar que só as grandes equipas é que conseguem escolher os jogos em que podem "complicar", i.e., podem perder pontos ou até ter performances abaixo da média. Para vos ser franco, eu já contava com um resultado menos animador nesta semana de trabalho. Muito por causa de factores já mencionados no ponto anterior, o que é perfeitamente natural. Não há equipa no mundo que consiga ter performances imaculadas durante todas as semanas. E, se existe, é porque o nível de competitividade é demasiado dispar. Sendo assim, e atendendo que seria quase impossível manter o mesmo ritmo e nível exibicional, o que podemos verificar no final desta semana é que o Glorioso continua isoladíssimo na frente do campeonato, numa jornada do campeonato em que um dos três crónicos candidatos ao título perdeu pontos, e que passou aos quartos de final da liga Europa. O resto é matéria para ser trabalhado diariamente a fim de melhorar ainda mais... Outra forma de ver as coisas é a seguinte: imaginando que o Benfica nestes 3 jogos desta semana iria ganhar dois e empatar o terceiro, quais os jogos que distribuiam esses resultados? Provavelmente todos iriamos preferir o que acabou por acontecer... mas, quantas vezes, noutras épocas, é que não ganhamos os dois jogos da liga Europa e empatávamos o jogo para o campeonato?! Por aqui também vemos a evolução do Benfica de Jesus...

Qualidade no banco
Um dos pontos fortes deste Benfica, versão 2013-2014, prende-se com a qualidade do plantel encarnado. E, a essa qualidade muito se deve a gestão correcta do tal esforço físico e mental que referi no ponto anterior. Jogadores como Artur na baliza, Sílvio nas laterais, Jardel no centro da defesa, Amorim no meio-campo, Salvio na ala e Cardozo lá na frente são todos eles opções para rodar na equipa titular e já devidamente identificados com os príncipios do modelo de jogo de "Jota-Jota". Nas últimas semanas, e em particular nesta que passou, foram fundamentais na tal gestão e na coerência da qualidade do futebol praticado pelo Glorioso.


Oportunidades para outros
Mas, a semana não foi apenas profícua para os jogadores do núcleo duro do plantel. Também para os jogadores que fazem a primeira época na Luz, que têm ainda pouca experiência e que não são habituais titulares, Jorge Jesus soube dar-lhes as devidas oportunidades. E, de resto, no global penso que a resposta destes pupilos tem sido francamente positiva, dado aos resultados positivos e exibições convincentes. Falo de jogadores como o André Gomes, o Sulejmani e o Djuricic. Contudo, gostaria que Jesus não se esquecesse de outros dois: o lateral polivalente André Almeida e o central goleador português Steven Vitória. Mas, sei que para bem da estabilidade da equipa não se pode substituir onze de forma completa. Para além disso, é preciso ter consciência quanto aos momentos de forma dos jogadores, o seu grau de entrosamento com as ideias de jogo e possíveis casos de lesão. Daí que dê o benefício da dúvida a Jesus sobre estes dois pupilos. É muito importante, para jogadores jovens, que estão habituados a outros contextos competitivos, como são os casos de André Gomes e Djuricic, que tenham acesso a estas oportunidades e lhes dêem espaço e tempo para errarem. Por outro lado, dar oportunidades para jogadores da estirpe do Sulejmani não é apenas pensar no presente, mas no futuro a curto e médio prazo, pelo que é de apoiar sempre!


Melhorias colectivas
Entre todos os pontos que poderemos melhorar, destaco o da gestão de esforço mantendo a posse de bola. Durante a dupla mão com os ingleses do Tottenham e na deslocação à Madeira para defrontar o Nacional, senti grandes melhorias na nossa qualidade de posse de bola. Contudo, sinto que há ainda muito espaço para melhorar. Sobretudo, ao nível dos nossos alas que tendem a ser muito individualistas e a transportarem demasiado a bola nos pés, quando poderiam soltá-la para os demais colegas que criam linhas de passe. Penso que esta dinâmica dos nossos extremos, de serem eles a par do nosso número "8" e do segundo avançado os maiores responsáveis pela criação dos movimentos ofensivos da equipa encarnada uma boa ideia. No entanto, para isso é preciso que todos eles saibam jogar a um e dois toques e apenas fazer o transporte de bola ou na jogada individual no momento certo e não sempre. Este foi, aliás, um dos maiores problemas que detectei na exibição encarnada na passada 5ª feira, na Luz.


Questões individuais
Salvio e Sulejamni: Até que ponto as questões colectivas abordadas acima são da responsabilidade do trabalho desenvolvido nos treinos é ainda um pouco dúbio. Ainda para mais, quando sabemos que graças à enorme competitividade interna - fruto da enormíssima qualidade do plantel encarnado - à uma enorme luta pela titularidade na equipa encarnada. Por outras palavras, todos os que são menos utilizados, quando têm uma oportunidade querem é fazer a diferença e deixar a sua marca. Ora isso leva a que optam quase sempre pela solução individual em vez da colectiva. Vi muito disso na segunda parte do jogo do Benfica frente ao Spurs, na passada 5ª feira. Reparem na forma como o Sulejmani e Salvio perdiam invariavelmente as bolas nos contra-ataques porque insistiam na jogada individual, quando poderiam fazer um 2-1 com um colega (Djuricic, por exemplo), ou quando não passavam a bola utilizando a desmarcação do colega (Siqueira, por exemplo). Isso depois tem um efeito nefasto na equipa, pois os outros colegas tenderam também eles a individualizarem o jogo. Recordo-me de um lance do Cardozo, que farto de estar à espera que a bola chegasse aos seus pés, ou à sua zona de actuação, veio entre-linhas, pegou na bola e tentou ainda muito longe da baliza um remate, quando tinha outros colegas em melhor posição para dar continuidade ao lance.

Cardozo: Por falar no paraguaio, vê-se que está algo triste por não fazer o gosto ao pé. É fundamental que o Jesus continue a apostar nele, em todos os jogos, quer seja fazendo 15 a 30 minutos nas partidas do campeonato, quer seja a titular nas restantes competições. O essencial é que ele volte aos golos, pois tenho quase a certeza que quando voltar será como o "ketchup", i.e., virão um a seguir ao outro. Mais que uma questão física é uma questão de confiança. Como adeptos, temos é que continuar a puxar por ele, pois temos de estar conscientes que numa fase tão decisiva da época, precisamos ter as nossas principais referências atacantes (Rodrigo, Lima e Cardozo) em plano de evidência.

Djuricic: O problema do sérvio é um misto de várias coisas. Falta de talento e empenho não é! Por exemplo, não acho que seja um caso tipo "Ola John" como oiço muita gente dizer. Falta-lhe espaço e mais oportunidades para ele jogar, para ele poder errar e entrar no ritmo competitivo exigido no Glorioso. Depois há também um factor que exponenciou as suas dificuldades na presente temporada: adaptação às ideias de jogo do Benfica de Jesus. Recordo-vos do exemplo de Matic que na sua primeira temporada viveu constantemente à sombra de Javi Garcia. Djuricic, para mim, está a viver à sombra do Rodrigo... veremos continuará a ser aposta ou não no futuro a médio prazo. Por mim, não pensava em mais ninguém. Outro que merece o nosso apoio e carinho, pois tem tudo para se vingar de manto sagrado. Gostei muito da sua exibição na passada 5ª feira. Só lamentei que não tivesse melhores colegas a acompanhá-lo. Vi-o muitas vezes em óptima situação para combinar com eles, mas estes ora perdiam tempo de passe, ora preferiam pela acção individual... talvez se Jesus pedir para que ele seja o tal 3º médio em vez de um dos extremos, fazendo-o recuar um pouco (e por conseguinte, dar maior liberdade para os extremos serem mais avançados que médios-ala), o possamos ver mais interveniente e preponderante no Benfica... fica aqui a ideia para o Jesus poder explorar.

André Gomes: A meu ver, e já falei disso aqui no blogue, o posicionamento do jovem internacional português como médio "8" ou "10" não é o melhor, nem o mais indicado para ele nesta fase de adaptação ao futebol profissional sénior. No jogo da 5ª feira passada, houve um lance que para mim deveria ficar na retina do Jesus para fazer apostar nele como "6". Um lance em que o André Gomes, impõe o seu corpo e consegue ganhar uma bola ao Chadli, tal como muitas vezes o Matic e o Fejsa conseguem ganhar. Com a particularidade de logo a seguir conseguir sair a jogar com enormíssima qualidade de passe. A vantagem é que naquela posição, o André Gomes esconde por um lado a sua ainda falta de intensidade/ritmo competitivo e níveis físicos mais baixos - normalíssimo dos jovens que fazem a passagem para o futebol profissional - mas também porque nessa posição "6" ele lê o jogo todo de "frente", tão ao seu gosto. Não é que tenha desgostado do seu jogo na 5ª feira. O facto é que na 2ª parte, muito porque já tinha sinais de desgaste físico, o seu descernimento já não era o melhor. Notou-se isso, na conservação e transporte de bola em demasia. Notou-se isso, no excesso de individualismo em alguns lances. Notou-se isso, na dificuldade de recuperar posicionamentos,... Enfim, também é próprio da sua idade e da sua escassa utilização. Talvez por isso mesmo, também tenha compreendido a utilização de Rúben Amorim a "6", pois conferiu maior segurança àquele sector da equipa. De qualquer maneira, gostava que o Jesus experimentasse esta solução que referi...

Rodrigo: Está num grande momento de forma e já atingiu um equilíbrio entre o seu potencial futebolístico e as ideias de jogo do Benfica de Jesus, bastante interessante. A sua exibição frente ao Nacional deu continuidade ao que já tinha feito em White Hart Lane e fez-me lembrar um pouco a forma de jogar de Luis Suarez. Aliás, lembrei-me logo do conselho que tinha deixado num artigo escrito recentemente aqui no blogue. No entanto, ainda tem muito a melhorar, nomeadamente na tomada de decisão. Contudo, a evolução dele tem sido fantástica e estou certo que ele vai sair do Benfica muito mais jogador do que quando chegou.

Rúben Amorim: É bem possível que seja o jogador encarnado em melhor forma, neste momento. Aquele passe em Londres. A forma como fez esquecer Fejsa em dois encontros consecutivos (na Madeira e na Luz) e como fez esquecer o Enzo em Londres, é de um enorme jogador. Para mim é titularíssimo no onze mais forte do Benfica. E, vou mais longe... no tridente de meio-campo de Paulo Bento para o mundial de 2014, o Amorim tem lugar cativo se o seleccionador não olhar a nomes!
 
Garay e Luisão: Finalmente a dupla de centrais está a portar-se como deveria de ser e durante muito tempo os seus adeptos suspiravam. Ou seja, implacaveis na defesa e goleadores no ataque. Têm sido o esteiro da equipa em muitos momentos. E, para mim, muito o devem a Jorge Jesus.


Falando na selecção
Com o eclipse de Nani no Manchester United, quem parece querer agarrar a posição é o extremo Ricardo Quaresma. Parece-me que o português está mesmo focado em ir ao mundial do Brasil e olhando para as suas recentes exibições terá enormes hipoteses para tal. Contudo, seria muito importante este conseguir demonstrar muito mais que bons pés nas jogadas individuais... com um suposto tridente atacante formado por Ricardo Quaresma, Hugo Almeida e Cristiano Ronaldo, pelo menos um dos extremos tem de ser mais afoito defensivamente, algo que não vejo tanto no Quaresma, apesar da sua exibição no Porto frente ao Nápoles no estádio napolitano de São Paulo, tenha dado mostras de um "cigano" mais trabalhador defensivamente. Por vezes pergunto-me o que seria do Quaresma se tivesse apanhado um Jesus na sua carreira... Já agora, este seria actualmente o meu melhor onze da selecção nacional.

Para além de Rúben Amorim, destaco a boa forma de outros dois benfiquistas: Sílvio e Nélson Oliveira. O lateral polivalente emprestado pelo Atlético de Madrid ao Benfica, sempre que tem jogado na equipa de Jesus, tem-no feito com grande qualidade. Está num bom momento de forma e merece uma oportunidade de ir ao Brasil. Já o Nélson Oliveira, depois de uma quebra de forma devida a uma lesão, está de regresso em bom plano no seu Rennes, com mais um golo e uma assistência num espaço de uma semana. Com um Hélder Postiga perdido na Lazio, quiçá se o jovem português não merece ir ao Brasil? Ganas não lhe faltará... Por fim, destacaria um terceiro Benfiquista que poderia ir ao Brasil como "joker": Bernardo Silva. Cada vez que o vejo jogar, mais tenho a certeza que ele é a referência futura do futebol português. E, um canhoto com aquela qualidade é o que mais a selecção precisa...

Actualmente este seria o meu onze titular da selecção
nacional no mundial do Brasil 2014.

2 comentários:

  1. Excelente artigo meu caro, apenas discordo no 11 da selecção, para mim seria assim...
    Patrício, Sílvio, Pepe, Bruno Alves, Coentrão, William, Amorim, Moutinho, Quaresma, Nani e Ronaldo.

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    1. Boas!

      O Sílvio se agarrar o lugar nesta fase final da temporada é bem capaz de ir a tempo de tirar o lugar ao João Pereira. Não gosto do Bruno Alves... acho que ele agarra muito a defesa lá atrás, daí a minha ideia de meter lá o Veloso que criaria uma dinâmica tipo David Luiz-Javi Garcia com o William Carvalho. Quanto ao Nani... que continue a dedicar-se ao "bolling". Ninguém gosta do Hugo Almeida, mas se fossem a ver os jogos em que o Ronaldo brilhou mais, a sua maioria foi com esse "tosco" lá na frente, muito graças aos movimentos e espaços que cria.

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